Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

 



sexta-feira, 25 de junho de 2010

Praia do Futuro


Foto antiga da Praia do Futuro - Anos 40

[...] Aproveito a oportunidade para uma explicação. A denominação praia do Futuro foi dada por mim, quando editorialista do Correio do Ceará. Mas o que eu queria dizer é que aquela era a praia de nosso futuro urbano, e não dar um nome definitivo a ela, sem sentido, aliás, para ser um nome próprio, para ter caráter toponímico. Mas o nome pegou e ficou [...] 





Jornalista J.C Alencar Araripe 
no jornal Diário do Nordeste em 31/07/95

Fotocópia da Manchete do Correio do Ceará de 4 de março de 1949.
As fotos aéreas da reportagem foram feitas pelo fotojornalista Luciano Carneiro, já estrela da redação Correio do Ceará. Luciano, então com 23 anos, tinha brevê da escola de pilotagem do Aero Clube de Fortaleza, o que lhe permitiu fazer as fotos aéreas da reportagem da futura Praia do Futuro, até então um imenso areal à beira-mar, sem acesso de transportes por terra ao centro da capital. No final dos anos 1940, as praias de Iracema e Mucuripe eram as mais frequentadas da região. crédito: http://blogdoims.com.br


Ocupação no alto da Duna por mansões e favela do Luxou em 23/05/2004.
Foto de Pedro Itamar de Abreu Júnior

"Vê-se o descaso da população de baixa renda com o ambiente vivido, em função da falta de identidade com a área e ausência de Educação Ambiental. A maioria dos habitantes que moram em meio de ruas e áreas de preservação, ainda não se apropriaram do espaço como definitivamente seu, até porque são terrenos que nunca lhes pertenceram legalmente, pois estes terrenos são de gerenciamento do poder público e de particulares. Isso se deve ao fato de que muitos desses ocupantes moram em terrenos da imobiliária Antônio Diogo (terrenos particulares), de áreas de preservação no alto das dunas, margem do rio Cocó (Prefeitura Municipal) e faixa de praia (terrenos da União)."  Pedro Itamar de Abreu Júnior

Praia do Futuro, hoje tomada por barracas, boa parte fechada, já serviu de pasto para carneiros. Foto Geraldo Oliveira do jornal Unitário de 1975. Acervo Lucas
A Praia do Futuro não é só uma praia, é também um bairro na área leste de Fortaleza. É considerada uma das mais conhecidas praias do Nordeste. Com aproximadamente 6 km de extensão, possui um corredor de "barracas" (restaurantes com comida típica e frutos do mar), feitas normalmente de palha de carnaúba, onde são servidos uma variedade de pratos típicos. A praia tem muito movimento nos dias de quinta-feira à noite, dia da tradicional caranguejada, prato típico.


Antigamente, as barracas da praia do futuro eram apenas palhoças de madeira. Crédito Jornal O Povo de 09/03/1983 - Barracas típicas de tábuas à época na Praia do Futuro.

Como bairro a "Praia do Futuro" está dividida em Praia do Futuro I e II. A área apresenta alguns problemas urbanos como a ocupação de terras públicas por habitantes de baixa renda, criando áreas de favela e sem planejamento urbano.

Barraca Saporil - Praia do Futuro
Jornal O POVO de 05/05/1976: A origem do nome Saporil é indefinida. Antônio Wanderley e Francisco de Assis Soares da Silva que trabalharam no bar durante três anos, tentam uma explicação: “No começo havia lagoa por todos os lados e, à noite, os sapos faziam muito barulho, foi daí que o nome apareceu”

A Praia do Futuro é a praia preferida dos banhistas de Fortaleza, por ser uma das únicas que não é poluída. Ocupa 8, dos 25 quilômetros da capital. Faz divisa: oeste com a Praia do Mucuripe, e leste com a Praia do Caça e Pesca/Sabiaguaba (foz do Rio Cocó). 


Fortune Drive in-Coração da Praia do Futuro em 1967 - Arquivo OPovo

Restaurante Bola Branca - Jornal O Povo de 10/04/1975

Casa de shows - Balanço do Mar - Reativação da Praia do Futuro em breve, matéria sobre dois novos restaurantes: Balanço do Mar e Fogão. Jornal O Povo 19/05/78

Barraca Balanço do Mar - Praia do Futuro. Acervo Totonho Laprovitera

Suas barracas tem diferentes estruturas e diferentes frequentadores. As mais conhecidas são Chico do Caranguejo (Desde 1987) e Crocobeach, porém existem outras bastante conhecidas, como a Vira Verão, que é point de gente jovem; a Itapariká, que tem ótima estrutura para crianças, com um parque aquático, pra quem não quer se preocupar com as crianças.

Barraca Chico do Caranguejo

Crocobeach

Crocobeach

Barraca Itapariká

Não se pode deixar de comentar sobre as noites de quinta-feira, que tem shows de humor, forró, projetos de DJs com todos os gêneros musicais, e principalmente, a caranguejada, que é o prato mais conhecido e saboreado da praia.
Os hotéis com ótima infra-estrutura, com destaque para o Hotel Vila Galé, 5 estrelas, o mais requisitado do local.
Entretanto, não posso deixar de falar sobre a realidade: a sua estrutura não é completamente perfeita: muitos camelôs são inconvenientes. Sem falar na sua vizinhança: prédios abandonados, hotéis falidos e favelas, essa última vem crescendo constantemente, prejudicando a segurança dos turistas e dos próprios fortalezenses. Felizmente, nada como um bom caranguejo para você apreciar e esquecer estes problemas.

Praça 31 de Março. Foto publicada no Jornal O Povo em 29/04/1991


Antiga Praça 31 de Março, na Praia do Futuro-Jane Bandeira

\O Atenção na hora do banho O/

A praia é consideradas umas das mais perigosas, por possuir muitas valas e fortes correntezas.
Mas existem também muitas piscinas naturais onde as crianças podem brincar a vontade.


Praia do Futuro - Anos 50


História da Praia do Futuro

A avenida do futuro

Desbravando as dunas da Praia do Futuro.
Anos 70. Foto: Nelson Bezerra
Com as obras de início do Porto do Mucuripe (1939-1942), um loteamento criado em 1950 pela Imobiliária Antônio Diogo, na área da Praia do Futuro, surge como possibilidade de suprir as necessidades da elite fortalezense que buscava outro local para lazer.

"A partir da década de 1960, o porto do Mucuripe começou a ser questionado quanto a sua funcionalidade e necessidade de melhorias e a praia do Futuro (Loteamento Antônio Diogo), junto a ele, passou a figurar na mídia local com maior intensidade. Para isso, foi muito importante a necessidade de praias com balneabilidade. 

Subida para o Clube Caça e Pesca na Praia do Futuro.
Anos 70. Foto: Nelson Bezerra

A colocação, nos planos diretores, à época da incorporação da faixa de praia como algo que já acontecia em outras cidades em desenvolvimento, e que deveria ser vista com melhores olhos pelos gestores municipais, era um consenso nacional. A ligação do mar com a saúde, por intermédio de espaços de lazer e descanso, passara gradativamente a ser um ideário, principalmente das classes média e alta.
Isso foi demonstrado pela pesquisa hemerográfica como reflexo das expectativas da população de Fortaleza, que começou a cobrar dos poderes públicos uma nova área de lazer para a cidade, em função da impossibilidade de balneabilidade das praias de Iracema, Formosa e Meireles."  Pedro Itamar de Abreu Júnior

Lançamento imobiliário, em 31/01/1965, na novinha Praia do Futuro. Jornal O Povo

"A partir da década de 1960, a praia do Futuro já surgia como expansão imobiliária, haja
vista a propaganda do jornal, que trata da construção de um prédio chamado Belo Horizonte, que comprovadamente não foi edificado." 

A expansão em direção a esta praia, ultrapassou o ramal da Estrada de Ferro Parangaba-Mucuripe, onde se encontrava o chamado Sítio Cocó, estendendo-se desde o ramal ferroviário até a margem esquerda do rio Cocó
A transposição da barreira física da via férrea e a incorporação dos terrenos de praias, dunas e mangues do Sítio Cocó, tiveram início quando a Prefeitura Municipal de Fortaleza autorizou, em 1954, o processo de parcelamento do Sítio Cocó e o loteamento Antônio Diogo, a chamada Praia do Futuro. Com os trabalhos do Porto do Mucuripe em andamento, mesmo em um ritmo lento, os terrenos situados nas suas proximidades foram sendo valorizados. 
A Imobiliária Antonio Diogo, em 1950, loteou uma área, que se estendia do Farol do Mucuripe até a Barra do Rio Cocó. Compreendia 7 quilômetros de comprimento por 600 metros de largura. Cada uma das quadras, divididas em 12 lotes, tinha 20 metros de frente por 40 de fundo. (JUC, 2003a, p. 134). 


A Praia do Futuro, foi por muitos anos, área exclusiva de instrução para jovens aviadores do Aero Clube do Ceará.  Arquivo Nirez

O jornal "Correio do Ceará" edição 11481, de 6ª feira, dia 04 de março de 1949 publicou grande reportagem de uma página com chamada na primeira página, de autoria de Luciano Carneiro, intitulada "A Praia do Futuro ainda não tem nome, os aviadores que a amam, chamam-na de "praia por trás do farol do Mucuripe". Na foto, vemos da esq. p/ dir.: Waldir Diogo, Olavo Rodrigues, Faustino de Albuquerque, Paulo Cabral, Adahil Barreto, Murilo Mota. 


"Com as linhas de transporte coletivo expandindo-se cada vez mais, passa Fortaleza a propiciar aos seus habitantes do subúrbio a oportunidade de chegar às zonas de praia com grandes facilidades. As praias Formosa, Meireles e Iracema eram as frequentadas a época, aparecendo daí problemas quanto ao conflito da presença das diferentes classes sociais, comportamento, segundo as elites que frequentavam  incompatíveis com a boa higiene e costume. 

"Em virtude da crescente afluência de usuários, em 1956, as praias já eram consideradas sujas, com lixo acumulado. Reclamava-se da “ molecagem e mulheres de má reputação que invadem trechos para onde se deslocam às famílias..." (JUCÁ, 2003:141). 

Sendo assim, novamente as classes abastadas, como de costume, começaram a pensar, mesmo mantendo-se na mesma atividade de lazer praiano, de se afastar dessas pessoas. Foi aí que o loteamento, criado em 1950 pela Imobiliária Antônio Diogo, foi de acordo com as necessidades dessa elite que gradativamente se deslocava para a então Praia do Futuro. "  Pedro Itamar de Abreu Júnior


Outra foto dos intelectuais na futura Praia do Futuro - Arquivo Nirez

Personalidades e intelectuais visitam a Praia do Futuro, ainda pouco frequentada. 
Arquivo Nirez

Sobre a incorporação da área da Praia do Futuro, Dantas (2002, p. 69) assevera que este foi o último trecho de praia incorporado à zona urbana de Fortaleza: 

[...] na qual predominavam usos tradicionais, e que, a exemplo de outras praias, incorporou-se ao espaço urbano, ora como periferia de zona portuária (o Porto do Mucuripe), ora como lugar ocupado para responder à demanda das classes abastadas que frequentavam a praia do Meireles.


Praia do Futuro nos anos 60 - Arquivo de Alexandre Montenegro

No ano de 1968, já era procurada como opção de diversão em Fortaleza. Relata Abreu Júnior (2005, p. 182) que diz: "A partir de finais da década de 1970 e início da década de 1980, os terrenos na Beira-Mar, no bairro do Mucuripe até o estuário do rio Cocó, passaram a ser cada vez mais valorizados em função de uma crescente divulgação que existia uma área em Fortaleza que seria a futura Barra da Tijuca do Ceará, referindo-se a Praia do Futuro. Estes fatores foram determinantes para um grande movimento imobiliário em Fortaleza, em direção a essa área."


Praia do futuro no final da década de 70. Foto de Luiz Eduardo Bezerra

Uma reportagem do jornal O Povo, de 22 de abril de 1968, intitulada 'A Avenida do Futuro', se referia a necessidade do alargamento e iluminação de uma das vias de acesso, de nome Dioguinho.


Nilson Júnior, Débora e Torquato Neto sobre o muro em frente ao primeiro edifício erguido na Avenida Dioguinho. "Em janeiro de 1983, passamos férias em Fortaleza e ficamos alojados em um apartamento do referido prédio." Nilson Montoril

Nilson Montoril e Rosa Araújo na praia do Futuro, em agosto de 1980.
Arquivo Nilson Montoril


Essa foto é de data desconhecida, mas deve ser da década de 80

Foto de 1960. Imagem rara da Beira-mar, Praia do Futuro (à esquerda) e Porto do Mucuripe


Dunas da praia do Futuro e o Porto do Mucuripe, final dos anos 60

Foto do início dos anos 70


Hoje a Praia do Futuro é a mais badalada de Fortaleza, tem cerca de 07 km de extensão com águas claras, dunas e um corredor de barracas que fazem a festa de moradores e visitantes, com frutos do mar e bebidas típicas.

Final dos anos 70

Empreendimento Vereda Atlântica, 23-04-1977

Praia do Futuro - Anos 80


Anos 80

A Praia do Futuro tem início à partir do Mucuripe até a foz do Rio Cocó, numa extensão de 6 km. Famosa e movimentada, tem uma infinidade de barracas, onde são servidos pratos típicos, com especialidade em mariscos e peixes, além de promoverem shows e festas noturnas. Praia reta com faixa larga de areia clara e fofa, dunas e ondas fortes.


Foto de 1982

Final dos anos 80


Vista do antigo Restaurante Sandra's. Foto dos anos 90 - Acervo Fortal 

E por último um vendedor de picolé da Praia do Futuro que já foi até para o programa do Ratinho:



Como chegar: Distâncias: 3 km (Beira Mar) 7 km (Centro)
Ônibus de acesso: Praia Circular, Caça e Pesca, Papicu/Caça e Pesca.


Parte II



Crédito : Fortal, Praia do Futuro-Formas de Apropriação do Espaço Urbano de Pedro Itamar de Abreu Júnior e pesquisas na internet

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Capela de Santa Teresinha


A Igrejinha no bairro Arraial Moura Brasil muito antes da construção da Avenida Presidente Castelo Branco

Tombamento Municipal de 1986.
Localização: Av. Leste-Oeste

HISTÓRICO IGREJA SANTA TERESINHA

Esta situada em área do bairro popular chamado Arraial Moura Brasil ( que também já foi CinzaCurral), antes da abertura da Avenida Leste-Oeste. Foi preservada da demolição por intenso movimento popular promovido pela população local. É Patrimônio Histórico Municipal da Cidade. Teve sua construção iniciada em 14 de novembro de 1926
pela iniciativa dos pescadores e moradores do bairro liderados por Delmiro e João Pernanbuco. Foi inaugurada no dia 28 de fevereiro de 1928. Com a construção de uma nova igreja (Santa Edwirgens), a pequena igreja de Santa Teresinha deixou de ter funções religiosas e passou a abrigar atividades sociais esporádicas.

Estamos na antiga rua Santa Teresinha, em frente a igrejinha de mesmo nome, no Arraial Moura Brasil. em 1936/37. A rua sumiu com a construção da Av. Leste-Oeste. Ápio Pontes

Estamos no Arraial Moura Brasil, antigo Morro do Moinho, em 1970. No meio da miséria, uma comunidade que descia até a Capela de Santa Teresinha. Foto: Correio do Ceará/Acervo Lucas. 


Descrição:

A Igrejinha tem características arquitetônicas singelas e bastante despojada. Sua importância, entretanto, deriva da marcante conotação popular. Composta de nave única, sacristia e torre sineira incorporada a fachada principal. Com pequenas dimensões, possui ainda, cobertura em duas águas com telhado de telha capa e canal. A estrutura de coberta é composta por tesouras madeira com um desenho singular em forma de “X “, linhas, caibros e ripas. Destaca-se a singeleza da sua fachada principal - Oeste - de composição formal simples, com abertura encimada por verga em arco pleno, dois coruchéus laterais com elementos decorativos góticos flamejantes, adornos com volutas sobre o frontão e campanário central com cruz ao centro arrematam o mesmo. A figura do Espirito Santo esta representada ao centro do frontão e coroando o arco do campanário. Foi acrescida na sua parte posterior com uma sala com mezanino e banheiro. Com a abertura da Avenida Leste-Oeste, que foi construída em uma cota mais alta, a Igrejinha se encontra hoje em uma cota mais baixa, portanto deprimida em relação a paisagem que a circunda.



Essa igreja é a prova de que com o esforço e a luta da comunidade é possível se evitar tanta demolição do patrimônio da nossa cidade!

Essa capela desde a sua edificação tornou-se um símbolo cultural.



 02 de dezembro de 1946 - Na administração do prefeito Romeu Coelho Martins (Romeu Martins), a praça existente em frente à Igreja de Santa Teresinha, no Arraial Moura Brasil, recebe a denominação oficial de Praça Araripe Júnior, embora o povo a chamasse de "Praça Santa Teresinha".
Com a abertura da Avenida Presidente Castelo Branco, a praça desapareceu, restando apenas a igrejinha. Cronologia Ilustrada de Fortaleza

Fonte: Ofipro

Bondes em Fortaleza - Registro em fotos


Para terminar nossa seção sobre os bondes em Fortaleza, separei algumas relíquias desse época.

Começaremos com esse belo postal de 1909
Estamos na Rua Formosa, sentido Passeio público, uma das mais importantes de Fortaleza, num postal editado de 1909, com a seguinte mensagem: "As ruas de Fortaleza são todas desta largura, com poucas exceções. Por aqui passa o bonde Via Férrea que vai à Estação da Estrada de Ferro de Baturité." Na atualidade este cenário está quase totalmente modificado, com inúmeros prédios comerciais.
Agora uma foto postal do início dos anos 30 Raríssima imagem de um pequeno postal, chamado FOTO POSTAL (cerca de 6 cm de largura e altura, em papel). Um bonde elétrico na praça do Ferreira, anos 30. Homens de terno de linho branco irlandês com chapéus, por causa do forte sol. A igreja Cristo Rei ao fundo, cajueiros e casarões contemplam o raro cenário. O Palacete Ceará, prédio inaugurado no início do séc. XX e que ainda está presente na praça, é destaque na foto. Parece que a foto foi tirada de cima do Excelsior Hotel (inaugurado em dez/1931). Pode ser também de um fotógrafo lambe-lambe, assim chamado que no início do século XX se pendurava em locais de difícil acesso p/ registrar os acontecimentos da cidade.
Essa foto é dos anos 40 Esta foto panorâmica nos mostra a Praça do Ferreira, em Fortaleza, Ceará, nos anos 40. O serviço de bondes ainda existe (seria extinto em 1947), mas os ônibus já têm presença expressiva. Os veículos característicos dessa época tinham capacidade para aproximadamente 20 passageiros, e a mecânica utilizada poderia ser de vários fabricantes, como Ford, Chevrolet, Dodge e outros. Vemos a presença do lindo Excelsior Hotel, tido como o "primeiro arranha-céu" da cidade.

Bondes próximo ao Hotel Excelsior - 1931 - Crédito da foto: Arquivo Nirez
Foto de 1939 - Arquivo Nirez


Postal de 1927 - Cruzamento das Ruas Major Facundo e Guilherme Rocha. Era ponto de encontro de intelectuais e poetas da época. Rua Guilherme Rocha, que hoje é um calçadão onde não passam carros, já foi uma rua muito movimentada, com trânsito de automóveis, ônibus, bondes, caminhões e carroças, além de pessoas e animais. Ela já se chamou Travessa Municipal, Rua Municipal, Rua Nº 9, Rua 24 de Janeiro e Rua Coronel Guilherme Rocha. Hoje é apenas rua Guilherme Rocha. Estamos vendo o cruzamento dela com a rua Major Facundo, na praça do Ferreira na década de 20. Do lado esquerdo vemos a esquina onde ficava o "Maison Art-Nouveau" e logo depois o "Restaurante Chic", tendo antes passado pouco tempo como "Maison-Riche". Na esquina do lado direito, temos o sobrado do Comendador Machado tendo no térreo o "Café-Riche", onde se reunia a intelectualidade de então.Na foto antiga, além das casas citadas, vemos ainda multa gente, civis e militares, o bonde nº 28, da "Light" e dois automóveis típicos da época, com seus pneus estreitos parecendo de motocicletas. Naquela época todos andavam de chapéu, velhos, moços, crianças, mulheres, todos tinham algo na cabeça, quer fosse um chapéu de massa, um de palhinha, um quepe, uma boina, enfim, qualquer coisa que servisse de cobertura para a cabeça, o que ainda hoje deveria ser usado, com o sol que temos.
Bondes em Fortaleza - Foto de 1920



E por último essa rara foto dos Bondes de tração animal. Foto do livro Impressões do Brasil início do séc.XX, editado em Londres

Fim
Fonte: Pesquisa na internet

O bonde (XII) - Praça José Bonifácio

Sim. É verdade e deve ter acolhida o que se diz: quem é saudosista já goza entre os mortais mais direito de sentir saudade; essa dor pungente que vem de dentro do peito apertando nosso doído e combalido coração com o passar do tempo fraqueja, perde as forças quando sente se esvair numa espiral de fumaça que se desfaz no ar, deixando imorredouras lembranças que torturam a memória. São recordações que vêm da infância, da juventude a se apegar na velhice tudo tão repentino deixando tristeza dentro de nós. Haja coração para suportar as ilusões que se afastam e quando voltam para festejar o que ficou para trás, trazem o amargo do sabor dos desenganos marcados pelo tempo que não se compadece nem se comove.

Pois é assim, nós os saudosos do passado, que nos sentimos quando vemos passar o tempo recobramos das nossas mentes os episódios vividos, que modulam e embalam os nossos sonhos e naqueles momentos se colorem com tintas vivas o cenário que ficou para sempre gravado na nossa existência.

Ah, tempo ingrato! Inexorável aos mais sutis rogos, implacável no percurso a que se propõe a fazer não se compadece, não se condói nem dos passageiros dos bondes de nossa cidade - Fortaleza dos anos 20, 30, 40 em que todos se conheciam e tinham suas histórias para contar... até no bonde.

A beleza estava também na paisagem descortinada nas ruas por onde o bonde passava. As pessoas ficavam animadas à espera dos passageiros que desciam e subiam no bonde feericamente iluminado, alegravam nosso coração. As jovens casadoras cujas mãos frias, mas acelerado coração, esperavam que a noite descesse e temerosas suspiravam ansiadas aguardando a chegada do bem amado que, invariavelmente, bem vestido, de preferência paletó acetinado de linho branco bem engomado por antigas passadeiras, cujo brilho cintilante prendia a atenção dos observadores. Desciam do bonde exalando o perfume da época - Royal Briar ou Promessa, Je Revien ou o afamado Chanel n. 5! Dependia da condição econômica de cada qual. Os ricos, endinheirados (arranjados) comerciantes, os plebeus e os estudantes coitados (principiantes ainda não tinham posição definida). Mas todos se utilizavam dos nossos bondes porque a burguesia era composta por minoria que podia possuir condução própria (automóvel) e se contava nos dedos...

O que importava era o passear de bonde nas diversas linhas a se deleitar pelo encantamento que o momento ensejava, deixando as palavras fluir ao ouvido, sob forma de galanteios, cheios de suspiros que eternizavam a alma da amada que se enflorava de desejos.

Assim era a linha de bonde José Bonifácio, a menor em extensão, mas tão importante e opulenta como as demais linhas de bonde que se iniciaram no engrandecimento de nossa cidade. Como a maioria dos bondes, o José Bonifácio saía da Praça do Ferreira - lado oeste da praça - pela Rua Major Facundo (antiga rua da Palma) e numa reta ultrapassava a Av. Duque de Caxias - Praça do Carmo, ao lado da Igreja do Livramento (depois do Carmo) - Associação dos Merceeiros até a rua Domingos Olímpio. No retorno, trocava a posição da lança, virava para frente os bancos e o condutor passava a ocupar a outra parte do bonde (frente), regressava pela mesma rua até alcançar a Clarindo de Queiroz, entrando à esquerda na rua Floriano Peixoto até chegar na Praça do Ferreira - lado leste, contornando a praça pela rua Guilherme Rocha e dobrando à esquerda na rua Major Facundo, reiniciando pelo ponto de partida em frente à Farmácia Pasteur para novo trajeto, como as demais linhas.

A nossa ilustre passageira do bonde José Bonifácio é a muito querida Sra Maristela Benevides de Alencar, viúva do ilustre cientista, doutor, professor Joaquim Eduardo de Alencar, nascida no dia 08 de julho de 1917, filha de Arthur Feijó de Sá e Benevides e Maria do Carmo Eduardo Benevides, irmã do Príncipe dos Poetas - Arthur Eduardo Benevides. São seus filhos: Vera de Alencar Moreira Pinto, casada com Dr. Djacir Moreira Pinto, médico; Eduardo Sérgio de Alencar, formado em Geografia pela Universidade Autônoma do México, casado com Ana Maria Xenofonte Barreto de Alencar; Sílvio César de Alencar, formado em Economia pela Universidade Federal do Ceará, casado com Norma Targino de Alencar.

Por ocasião dos 80 anos do tão querido e amado irmão Eduardo - Príncipe dos Poetas, sua irmã Maristela escreveu esta mensagem: 

“A estação de Pacatuba outrora era grande... mas, hoje, tudo mudou; a nossa infância se tornou adulta, cresceu, o trem com seu apito varando o céu e abrindo estradas perdeu-se no tempo. E a nossa estação tão pequenina permanece grande dentro da nossa saudade. Se eu fosse poeta lhe ofereceria hoje o mais belo poema feito de amor, de saudade e recordações da nossa infância e da nossa querida e inesquecível Pacatuba, onde vivemos todos os dias sem previsões para o amanhã e embalados pelos nossos sonhos jovens. Ah! O espinho que mais fere é o espinho da saudade. E parafraseando a nossa prima Cecília Meireles, cantemos a passagem dos tempos!” (Maristela - julho de 2003).

E no dia do seu aniversário - dia 08 de julho de 2000 - escreveu este monólogo:

“Já vivi o que tinha de viver, Provei na vida glórias e tristezas, Andei pelas estradas fazendo minhas trovas E continuo cantando as minhas alegrias e o meu sofrer. Mágoas nunca guardei, Só de Deus encho meu coração. Passando agora a minha vida a limpo Vejo que nada fiz de extraordinário A não ser cultivar o amor e a esperança” (Maristela)

Agora o nosso último percurso de linha de bonde que encerra uma série de doze - a de José Bonifácio, que desde 1912 até os dias idos de 1947, juntamente com as outras linhas circularam na nossa cidade durante 35 (trinta e cinco) anos. Já faz muito tempo (56 anos de sua retirada) e as saudades continuam vivas e persistem gravadas no besunto de todas as ruas, quarteirão por quarteirão (quadras), casas, locais panorâmicos que embeveciam nossas mentes, colocando cada coisa no seu devido lugar, como se estivesse a rever o mostruário de um bazar que se armazenou na nossa lembrança, que se desenrola para avivar as saudades do tempo que se foi e não volta mais. Até as tristezas tomaram nova roupagem - para se manifestar na saudade, amenizando a dor da partida; porque o tempo também não pára e na sua corrida tudo desfaz.

Assim, em breve relato, lembremos aquele transporte movido a eletricidade pelos diversos bairros Jacarecanga, Soares Moreno, Via Férrea, Benfica, Praia de Iracema, Prainha, Aldeota, Alagadiço, Farias Brito, São Gerardo, Joaquim Távora - Visconde do Rio Branco e José Bonifácio e dizer éramos felizes e não sabíamos.

Não poderia deixar agora de exaltar o único excelente trabalho até agora conhecido sobre A História da Energia no Ceará, que nos legou o ilústre professor universitário, jornalista e pós-graduado pela École Nationale d’Administration de Paris, e South Dakota University, onde obteve o título de Master in Government - Ary Bezerra Leite - in “História da Energia no Ceará”, In verbis:

“Existem 39,7 kms de cabo-trolley montados em 308 postes roliços e 341 postes de grade de ferro. Linhas aéreas de luz e força: linha de alta tensão, 6.600 volts, 3 fases, 36.156 metros, construídas sobre 788 postes de madeira de 6'' por 10 metros, 19 postes de aço roliço e 3 postes de grade de ferro; linhas subterrâneas de alta tensão: 2.460 metros; linhas de baixa tensão de corrente alternada: 2 fios, 1 fase - 28.292 metros; 3 fios, duas fases - 2.425 metros; 4 fios, 3 fases - 88.376 metros; linhas de baixa tensão e corrente contínua: 3 fios, 500 volts - 28.985 metros; 2 fios, 500 volts - 2.200 metros. Estas linhas foram construídas sobre 838 postes de madeira, 84 postes de aço roliço, 417 postes de trilho, 22 postes de grade de ferro. Linhas subterrâneas de baixa tensão, 440 volts - 990 metros”. Pág. 69.

“A paralisação dos bondes elétricos ocorreu a 19 de maio de 1947, em caráter ‘provisório’ e, definitivamente, a 17 de agosto do mesmo ano, por decisão do interventor federal na empresa capitão Josias Ferreira Gomes, após 33 anos de serviços que marcaram o cenário da cidade e, de forma indelével, a lembrança dos que foram seus usuários. Diversos fatores contribuíram para esse final, ocorrido quando, no período de transformações do após-guerra, o Brasil vivia uma fase de redemocratização, conhecendo novas lideranças políticas e novos valores culturais. No parecer apresentado pelo interventor, foram oferecidas as seguintes razões para a desativação definitiva dos bondes:

- Redução da capacidade de usina em caldeiras, ocasionada pela retirada de serviço para conserto, de conformidade com o parecer de técnicos do Estado, de duas caldeiras, o que provocou imediatamente a paralisação de duas máquinas de C.C. destinadas à tração elétrica;

- o estado precaríssimo em que se achavam o material rodante e trilhos que não mais correspondiam às exigências de tráfego e nem a necessária segurança dos passageiros;

- impossibilidade de manutenção do serviço por falta de estoque de trilhos e peças sobressalentes;

- deficiência econômica e financeira da companhia em organizar o serviço com seus próprios recursos ou adquirir sobressalentes para manutençào do atual serviço;

- efeitos perturbadores e malévolos do serviço de bondes sobre o serviço de fornecimento de energia, por ser aquele um serviço pesadamente deficitário, obrigando o funcionamento de máquinas antiquadas e antieconômicas e, principalmente, por anular a possibilidade de reduzir o preço do kilowatt, bem como desviar saldos obtidos no serviço de fornecimento de energia elétrica de sua melhoria de instalação para a manutenção do serviço de bondes;

- inexequibilidade de reorganização do serviço em face das insuperáveis dificuldades em levantar o capital necessário ao empreendimento (Cr$ 60.000.000,00), quer no ambiente nacional, quer no estrangeiro; tendo ainda evidenciado a mesma autoridade que o capital acima era superior várias vezes ao que já foi remetido, sob qualquer título que não fosse para aquisição de material à sede da companhia em Londres e que, com a paralisação do serviço de bondes, poderia ser imposta uma multa à companhia para quando houvesse interrupção de fornecimento de energia à cidade por culpa da mesma.” (Pág. 73-74)


Zenilo Almada Advogado

Condutor - Trata-se, na verdade, do motorneiro, que dirigia o bonde; condutor é o nome dado ao cobrador de passagens. Para maiores detalhes a respeito do procedimento de inversão de sentido do veículo, bem como dos componentes envolvidos, ver as notas ao fim do artigo “O bonde (V) - Benfica - Igreja dos Remédios”.

Porque o tempo também não pára e na sua corrida tudo desfaz - De fato, conforme nos relata o Dr. Almada, tudo que é suprimido de modo abrupto e total gera nostalgia e sensação de perda, e é natural sentir essa tristeza ante a substituição devastadora, isto é, o conceito de modernização ou progresso que não inclui a adaptação e o aproveitamento de coisas existentes e/ou antigas ainda úteis e não obsoletas. A supressão total dos sistemas de bondes, que ocorreu nas cidades brasileiras - e de alguns outros países - deve-se a uma visão administrativa de pouca abrangência. Em muitas outras nações, no entanto, os bondes - ou trans, ou “light rail vehicles”, ou, em Português, “veículos leves sobre trilhos”, VLT - nunca foram legados ao rol das “coisas passadas”, evoluindo da mesma forma que evoluíram os ônibus e demais meios de transporte, e, em alguns casos, veículos tradicionais receberam adaptações modernas; há também circuitos que mantém e preservam seus bondes antigos praticamente tal e qual sempre foram, como ocorre no sistema de Santa Teresa (Rio de Janeiro). Realmente, o tempo passa, ou nós passamos por ele, no entanto depende de nós a escolha entre o desfazer tudo ou combinar seletivamente o que seja bom, útil e agradável do antigo e do novo. O Tempo, por si mesmo, é neutro.


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Crédito: Artigo publicado no Diário do Nordeste - Fortaleza. Ceará - Domingo, 14 de dezembro de 2003

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