Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

A Hidráulica da Vila São José


Foto de uma das caixas d’água da Rua Leda e lá atrás a do Seu Telles. 

"Água é vida!
E por ser um termo tão usado parece ficar redundante. Estudos revelam que a doença hídrica não é pela água em si, mas devido o mau uso ou conservação. Existe o institucional que é voltado para recursos hídricos: Funceme, Cogerh, Cagece e os Institutos de análises, além de setores de pesquisas de Universidades e/ou Faculdades. Às vezes por faltar estudo técnico, certos projetos de edifícios, bem como conjuntos habitacionais sacrificam a Companhia fornecedora de água, porque se faz necessário a mesma atender as novas demandas. Na minha Vila São José, o recurso hídrico só foi importado a partir de 1963, quando o Coronel Philomeno autorizou as vias de pedras toscas serem escavadas pelo Saagec (Serviço de Água e Esgoto do Estado do Ceará). Era chegada a famosa água do Acarape. Chafarizes com cacimbões ao lado ou abaixo da base forneciam água para a Vila Operária.
O primeiro construído foi na Rua Maria Estela, primeira rua também construída em 1926. Recebia o líquido precioso da Fábrica São José, proveniente de um poço profundo defronte a Estamparia de acabamento das toalhas. A tubulação de 100 mm transpassava o Rio Jacarecanga. Era sustentado por duas bases de cimento armado. Depois na entrada da Vila, pelo lado Sul fim da Rua Dona Maroquinha, esquina com a Rua Maria Isabel, a segunda caixa d’água. Era um reservatório de 50 mil litros, com altura de 20 metros. Tinha um espaço retangular onde tinha duas casas arredondadas parecendo duas ocas, de cor cinza, erguida com tijolos batidos e cobertas com telhas do Maracanaú. Uma dessas casas era acompanhando a base do reservatório que deveria abastecer as residências por gravidade. A outra era conhecida como Casinha da Bomba. Tinha a bomba hidráulica impulsionada por um motor de 10 cavalos, alimentado com 380 Volts puxados por uma correia de 1,5 metros. A chave elétrica era do tipo faca com fusíveis de cartucho ambos fabricados pela Westinghouse - USA.
O bombeiro era o Antônio e o eletricista seu Mozart. O Telles que herdaria aquele pedaço para fazer um bar, era o fiscal do Coronel proprietário. Segundo meu pai Valdemar, essa primeira etapa funcionou até 1966, porém, houve um aditivo para atender as construções da segunda etapa da Vila São José em 1946, onde meu genitor foi servente de pedreiro (Tenho sempre a honra de dizer que meu pai, matuto vindo de Jucás, analfabeto, começou na Capital assim e depois foi galvanizando elevados e quando faleceu em 9 de abril de 1984, já estava aposentado pela Prefeitura Municipal de Fortaleza, como administrador em Nível Superior).

O primeiro reservatório dessa segunda fase foi na Avenidinha, pelo Norte ao lado da Via Férrea de Baturité da RVC. O cacimbão localizava-se à sombra de uma das castanholeiras, que eram em numero de duas. Essas sexagenárias árvores lá ainda estão, menos a caixa d’água e a cacimba em forma de disco voador. Na construção já mencionada e lá se foi 70 anos, tinha na Rua Leda dois reservatórios. Não os alcancei funcionando, mas cheguei a ver todas as instalações com canos vencidos pela corrosão e válvulas brecadas pelo desuso. Os motores já haviam sido retirados restando a base abandonada com parafusos ereto e ranhuras avariadas. O poço na casa do Chico sete cão na outra Avenidinha sentido Sul, não sei se era público, mas lá tinha um portão para a rua. Essa não me lembrei de perguntar ao meu velho. Pessoas inteligentes criam oportunidades. Tomando conhecimento dessa demanda reprimida, um empresário cujo nome não me ocorre, começou a vender água em carros pipa vinda de um poço profundo do bairro Floresta. Os baldes de zinco com capacidade para dez litros custavam Crn$ 0,50 (cinquenta centavos do cruzeiro novo) moeda que circulou tão logo fora criado o Banco Central do Brasil no Governo Castelo Branco.

Os caminhões GMC funcionavam à base de manivela. Ah, Já ia me esquecendo, as carroças do Mestre Carlos, que por apelidar seus animais, tornou-se também tipo popular na Vila São José. A carroça Pombo Roxo era tracionada pela Margarida (burra branca); a Pombo Cardo era com a Rosinha (burra avermelhada) e tinha o cavalo Gaspar que morreu.
Garoto ainda travesso, ajudei o Mestre Carlos nessas entregas. Sob a forma de Empresa de Economia Mista, a Companhia de Água e Esgoto do Ceará – Cagece foi criada através da Lei 9.499, de 20 de julho de 1971, e absorveu o Saagec, bem como todas essas peripécias com água. Tudo desapareceu. Cesar Cal’s e Vicente Fialho modernizaram esse sistema em todo o Jacarecanga, ao qual por sua vez, Adauto Bezerra fez a parte de esgoto. Na Vila o homem dos esgotos era o Pedro velho, um protagonista comparado aos carregadores de Quimoas na Fortaleza antiga.
Quanto ao tratamento e atendimento de águas, nunca se ouviu falar em conta. Era uma cortesia do Coronel Philomeno aos seus operários. A Light/Conefor essas tinham e com péssimo atendimento, em um prédio histórico no Passeio Público. O Coronel tinha consciência da utilidade do líquido precioso, e dispensava de seus empregados. Água era o que não faltava. A vila só não foi mais ornamentada, culpa nossa que pisávamos na grama. A placa estava lá, mas servia de alvo para os travessos. Essa Vila do Jacarecanga pobre tem muitas histórias."

Assis Lima
(Radialista/jornalista)


Leia também:
Memórias de menino - O descanso da Vila


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sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Os ônibus do Oscar Pedreira


Hoje se fala muito em Mobilidade Urbana, termo técnico gerado por simulação computacional em que, a engenharia de tráfego se apoia para resolver problemas de trânsito. Certos gestores até tira bônus perante condutores particulares e/ou coletivos, para lograrem êxito em suas pretensões políticas. Trabalhar na estética é melhor do que na infraestrutura, pois, esgoto não dá voto! 

Querem um exemplo histórico? 
Quem se lembra de alguma obra do Governo Adauto Bezerra? O que muitos vão dizer é que é o único Coronel vivo daquele trio do regime militar. Não, meus amigos! Os quatro anos na frente do Estado foi drenando Fortaleza, e jogando todas as manilhas no Interceptor Oceânico, e trazendo pedras da Monguba para fazer o espigão de retenção das águas oceânicas do meu Jacarecanga. Isso tem um custo tremendo, mas não dá voto. Observaram que em eleição direta para o Governo do Estado em 1986, ele foi derrotado por Tasso? Não estou como partidário e sim como observador político. Mas isso é outra história... 

Foto acima: Oscar Pedreira em destaque


 
Ao tempo do empresário Oscar Pedreira, ele tão bem servia as linhas de sua concessão adquirida na gestão de Álvaro Weyne (1928), que certos veículos saíam batendo da Vila São José para o Centro, mas ele jamais suprimiu algum horário por falta de passageiros. Tão logo construiu sua Vila Operária (1926), sua preocupação número um, foi o deslocamento dos moradores para o Centro da cidade. A garagem e escritório da Empresa Pedreira Ltda era próximo ao Liceu, na Avenida Francisco Sá ao lado de sua mansão que, em homenagem a Sra. Francisca Pedreira, sua esposa, denominou-se VILA QUINQUINHA, afinal na intimidade ele a chamava de Quinha, corruptela de Francisquinha. O galpão era alto. Lá os ônibus pernoitavam, passavam por revisão e abastecimento. A armação de sustentação do teto era de tesouras confeccionadas com madeiras de lei. Existia uma bomba de combustível abastecida pela Atlantic, e dois mecânicos habilitados para conduzirem carros grandes para a época. Faziam serviços de funilaria, elétricos, pinturas e quando a coisa era mais complicada, seu Oscar chamava técnicos da GMC e Chevrolet

O Posto Clipper da Avenida Francisco Sá, foi instalado em 1952 com a intervenção de Oscar Jataí Pedreira.

Falando em Atlantic, o povo do Jacarecanga deve ao Oscar Pedreira a instalação do Posto Clipper em 1951. O mesmo era na esquina da Avenida Francisco Sá com a Via Férrea. A Atlantic em 1993 foi absorvida pela Companhia Brasileira de Petróleo Ipiranga

Os primeiros combustíveis chegados ao Ceará remota de 1909, mas os vapores que aqui fundeavam no Poço das Dragas e Barra do Ceará, traziam em invólucros tipo tanquinhos derivados de petróleo. Era uma tensão muito grande do Capitão e, dos moços de convés em trazer essa carga. Oscar pedreira era um importador para abastecimento de seus coletivos. A partir de 1950, foi que se estabeleceu no Mucuripe a Shell Mix primeira distribuidora do ramo. Como apelido era o predominante na Vila São José e eu me lembro de já ter escrito sobre isso, nem os ônibus escaparam de nossa molecagem. Existiam na empresa sete veículos com motores pra fora: O número 1 era o do João Pilão (careca com cabeça de pilão), recebeu batismo nosso. Veiculo de marca GMC, só tinha uma entrada e perto da manivela da abertura da porta, tinha o ficheiro. O cobrador ia de banco em banco, com as cédulas entre os dedos. Quem ia pagando recebia uma ficha. O número 2 era o Portiguinho, ou seja o vidro traseiro era duas janelinhas para visão do condutor, e era guiado por Pedro Alegria”. Ele era igual a geladeira de restaurante, só vivia se abrindo. Nós íamos ao Centro de graça. O número 3 fazia a linha Brasil Oiticica indo ao Carlito Pamplona. Este fazia ponto final na Rua Frei Teobaldo, defronte ao comércio 4444 na esquina da Avenida Francisco Sá (nunca se soube quem era o condutor). O número 4, por seu comprimento, cara de jacaré, recebeu o nome de Pajelão, e o motorista era o Araújo Bigode de Nós Todos. Faleceu subitamente em 1968, e aí, em respeito, passou a ser Seu Araújo. O número 5 era um semelhante ao de hoje, com porta no meio, e sem cobrador. O condutor era Seu José, o Zezinho afobado, só andava adiantado. O número 6 era chamado oDifícil e só fazia a linha do Carlito Pamplona. Vez por outra entrava na Linha Jacarecanga indo a Vila São José. Motorista: Bigodinho Fresquim. Parecia com Dom Diego do seriado Zorro com Guy Willians. O número 7 era carro reserva, e fazia conforme a necessidade as duas linhas. Então em súmula a distribuição era assim: quatro carros faziam a linha do Jacarecanga, dois para o Carlito Pamplona e um reserva. 
Aí fica uma indagação: Por que o Carlito Pamplona, mesmo sendo mais longe, tinha veículos de menos? A justificativa era que o bairro era assistido por outras empresas. Era concorrido pelas linhas Barra do Ceará, Jardim Iracema, Floresta, Coelho Fonseca e Jardim Petrópolis (cidade do Petróleo, o petróleo chagava por ali), hoje é Goiabeiras

A Brasil Oiticica 

Os ônibus do Pedreira tem histórias!
Essa é apenas uma, conte a sua!
O terminal do Centro, segundo meu pai, era no Abrigo Central, indo em seguida para a Praça Jose de Alencar em 1965. 

Atenção: Quem tem seu papai, pergunte as coisas, não espere o arquivo se queimar!
Com o crescimento oeste, e abertura de avenidas, Jacarecanga foi ficando saturado com as linhas mais diversas. Por conta disso, desapareceram as linhas do Jacarecanga e Navegantes (Braga Torres); em seguida Carlito Pamplona. Em 1973 a frota foi renovada com carros de motor interno de carroceria Grassi, mas não deu mais para acompanhar. Oscar Jataí Pedreira morre em 1977. A viúva foi "Aldeotizar" com os filhos... Os carros foram vendidos juntamente com a Vila Quinquinha. Em seu local é erguido um majestoso edifício, e nunca mais circulou ônibus pela Vila São José

Agora vem o nostálgico: As lembranças daqueles onibuzinhos verdes, os motoristas já nos deixaram, e nada se compara a velocidade de nossa mente, quando retorna ao passado. Pena que não volta!

Assis Lima
(Jornalista/Radialista) 




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