Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

 



quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

A Cidade dos Clubes - Caça e Pesca (O Clube que deu origem ao lugar)


Numa cidade que procurava agora orientar seu crescimento, os progressistas anos 40a passagem das tropas americanas tiveram impacto decisivo para a efervescência de sua vida social. Proliferavam então em Fortaleza os “clubes de luxo” — tantos, que lhe trouxeram a alcunha de “Cidade dos Clubes”. 

Caminho para o Clube Caça e Pesca-Praia do Futuro em 1972. Foto Nelson Bezerra

O Clube Caça e Pesca visto das dunas da Praia do Futuro na déc. de 70. Foto Nelson Bezerra

A pecha procedia, com efeito, pois (entre muitos outros tantos) os nomes Cearense, Reform, Comercial, dos Diários, Iracema, Líbano-Brasileiro,
Ceará Country e Sociedade de Tiro, Caça e Pesca firmaram-se e lembram agremiações importantes de sua história.

Foto do Clube do Médico em 28 de julho de 1976.


Outros clubes mais atraíam para o lazer social — como o Recreio (na Lagoa Redondae os localizados na área costeira que absorveu a primeira grande expansão da cidade, como o Náutico e o Ideal, e, mais recentemente, a AABB-Associação Atlética do Banco do Brasiltodos estes ao longo da Avenida Beira-Mar — e, já na Praia do Futuro, o clube dos empregados da Petrobras (Associação Desportiva Classista Petrobras Ceará), a ASBAC Associação do Banco Central, a AABEC - Associação Atlética do Banco do Estado do Ceará e a Sociedade Beneficente Portuguesa Dous de Fevereiro, estes localizados após os clubes dos Advogados, dos Médicos e a Praça 31 de Março


Praça 31 de Março. Foto publicada no Jornal O Povo em 29/04/1991


Outro aspecto da Praça 31 de Março


Na Praia do Futuro, há ainda outras sedes sociais de vários clubes e associações.

Na região do Caça e Pesca fica hoje o BNB Clube Praia (que sucedeu o Caça e Pesca), e, nas dunas da Praia do Futuro ergue-se a nova sede do Clube dos Diários, em terreno permutado com a Construtora Marquise pelo de sua sede anterior na Beira-Mar. A mudança do clube deu-se após muita polêmica.
Atualmente, erguem-se dois sólidos blocos residenciais no local onde antes ficava o Diários, uma área que tem o metro quadrado mais caro do Ceará, na Praia do Meireles.

Foz do Rio Cocó/Caça e Pesca

Fortaleza volta-se para o mar e vai acomodar costumes de uma certa elite no seu limite Leste, lugar desabitado a serviço do lazer dos menos abastados e dos visitantes.
A história efetiva deste lugar tem início ao ser criada, ao final dos anos 40, a
Sociedade Cearense de Tiro, Caça e Pesca, em uma construção localizada na Praia do Futuro, no final da Av. Zezé Diogo. A agremiação inaugurou sua sede definitiva em 1952 para a prática, exclusivamente, de caça, pesca e tiro, naquela praia então deserta e isolada. Porém, a cidade foi se tornando metrópole e também ali surgiram muitas construções, entre residências e o pioneiro na área (em seu porte duas-estrelas) Fortaleza Praia Hotel, obrigando à redução progressiva da prática de tiro-ao-alvo e suas modalidades na região.


Caça e Pesca em 1976 - Acervo pessoal de Hugo D'Leon M. Morais

Não demorou muito e aquela moda tornou-se vedada por lei “em lugar transitável, praias e estações balneárias, onde haja a possibilidade de acidentes, mesmo que o material utilizado no esporte não ocasione morte ou danos sérios” (DIÁRIO DO NORDESTE, 1987).


Caça e Pesca em 1976 - Acervo pessoal de Hugo D'Leon M. Morais

Os hóspedes do hotel reclamavam do estampido das armas e as atividades noturnas dos associados — em número que chegou ao milhar — incomodavam a já consolidada vizinhança.



Postal Caça e Pesca


Glória e declínio

Vamos por mais um instante detalhar as características do Clube Caça e Pesca.
Instalado numa área de 26 mil m², cuja área construída, à inauguração, era de 700 m².
Segundo a imprensa, o clube promovia em seus 40 boxes de tiro ativa programação, envolvendo atiradores, inclusive do sexo feminino (o que à época parecia notável), de outras regiões do País, em torneios como o Campeonato Norte-Nordeste de Caça e Pesca.


A tranquilidade da época era tanta que o clube não era murado... Foto dos anos 80
Acervo pessoal de Fátima Porto Belém

Foto dos anos 80. Acervo pessoal de Fátima Porto Belém

A imprensa reporta que uma equipe do clube chegou a viajar “para Santarém (PA), para receber treinamento, mantendo contato com outras agremiações do gênero” (O POVO, 1980). 
Porém, depois deste ápice o clube atravessou um período de inatividade que durou cerca de 20 anos e representou longa fase de depressão. Em 1980, visando retomar as suas rotinas e atrair sócios, o Caça e Pesca, já com um notável volume de barracas de praia nos seus arredores, se fazia divulgar como “o melhor clube da capital”, por contar com “o privilégio de ter em suas dependências mar e rio ao mesmo tempo” (Idem, ibidem).


Foto em frente a piscina adulto. Incrível observar que o clube só tinha a fachada, todo o resto era aberto e dava para a praia. Anos 80. Acervo pessoal de Fátima Porto Belém

Esta tentativa de promoção que apelava à paisagem ecoava uma consciência da valorização dos recursos naturais que se difundia no Brasil e no resto do mundo, como veremos. No entanto, não há registros dos impactos causados pelo clube ao seu entorno — um complexo ecossistema que abrange praias, estuário, mata de transição, dunas e manguezal. A sede do Caça e Pesca foi plena e finalmente reformada em 1984, incorporando um parque aquático para o lazer das crianças e serviços de bar e restaurante. 

“O governador Luiz Gonzaga Mota, o vice-governador Adauto Bezerra, o prefeito César Cals Neto, o comandante da 10.ª Região Militar, Francisco Torres de Melo, o capitão-de-fragata Francisco Nogueira de Oliveira Filho e a Cervejaria Astra receberam títulos de sócios-beneméritos na cerimônia de (re)inauguração” (O POVO, 1984).


A piscina infantil e ao fundo, o mar. Foto dos anos 80.
Acervo pessoal de Fátima Porto Belém

Na oportunidade, foram entregues troféus aos vencedores de competições como a prova de Tiro à Bala (troféu Brahma), prova de Skeet (tiro em pratos voando, troféu Asa Branca, numa homenagem do clube à Primeira-Dama do Estado, D. Mirian Mota) e, por último, uma homenagem de toda a diretoria ao então presidente do Caça e Pesca Otoni Diniz, “dando o seu nome ao troféu da Competição Olímpica” (Idem, ibidem). 
A reforma foi orçada em Cr$ 30 milhões, conforme a mesma fonte.

Caça e Pesca nos anos 80. Acervo pessoal de Fátima Porto Belém

Foto anos 80

"Barracas de alvenaria que tinha uma mesa, tamboretes e armadores, quem chegasse primeiro, armava sua rede, e a barraca era sua!" Fátima Porto Belém


O Caça e Pesca constituía-se em entidade única no Estado, segundo seu vice presidente em 1987, João Alencar Monteiro. Por algum tempo, atraiu os holofotes. Porém, novamente a decadência e o endividamento avolumaram-se e os próprios sócios da agremiação reclamavam, em 1989, da inexistência de maior qualidade no atendimento. Por fim, foi decidida a inviabilidade daquele empreendimento.


Caça e Pesca nos anos 80. Acervo pessoal de Fátima Porto Belém

No salão de dança, parte da cobertura está quebrada e a chuva está prejudicando as paredes e as instalações elétricas. As duas piscinas, inauguradas em 1983, estão abandonadas (DIÁRIO DO NORDESTE, 1989).

Encontro do Rio Cocó com a Praia do Futuro em 2004 - Pedro Itamar de Abreu Júnior

Ao final dos anos 80, o clube empregava 18 garçons e pessoal acessório sem
especialização, que passaram a habitar aquela vizinhança, até que, depois de declarada sua falência estrutural (quando foi posto à venda por NCz$ 300 mil) o BNB Clube o adquiriu. O então gerente do Caça e Pesca, Francisco Hélio de Oliveira, com salários há meses atrasados, sobrevivia “vendendo peixe assado e bebidas numa barraca instalada na beira da praia” (Idem, ibidem). Atividade informal ligada ao usufruto da praia para o lazer e o turismo, que se consolidou ao extremo e tornou-se “vocação”.

No antigo Clube Caça e Pesca, hoje encontra-se a sede praia do BNB Clube.


Hoje, a 30 anos daquela reinauguração, o Zoneamento sócio-ambiental participativo do lugar denominado Caça e Pesca trata de focalizar a aglomeração, de caráter excludente, que se originou nas cercanias daquele clube e terminou por assumir o seu nome.
Tecnicamente, é um olhar transdisciplinar voltado a uma área da periferia urbana da capital do Estado do Ceará, no Brasil de 2003-2004. A propósito, um país que recebeu naquele ano US$ 2 bilhões em divisas originadas do turismo (36% a mais que em 2003, conforme o site maxpressnet.com.br). Citamos o turismo por ser este também um fator de impacto crescente no local.


O Caça e Pesca é hoje, portanto, um “lugar” sobre o qual a malha da cidade avançou, sem que exista documentação organizada específica sobre o processo de sua transformação. É importante que haja alguma providência, já que as decisões sobre o futuro da área, implicam em impactos sobre o manguezal.


Crédito: Marco Antônio Krichanã da Silva


sábado, 13 de dezembro de 2014

Reinauguração do Cine São Luiz


26 de março de 1958 - Quarta-feira, inaugura-se, às 21h, o Cine São Luiz, na Rua Major Facundo nº 510, na Praça do Ferreira, do grupo Luís Severiano Ribeiro, exibindo o filme Anastásia - a princesa esquecida, de Anatole Litvak, com Ingrid Bergman, Yul Brinner e Helen Hayes, película da 20th Century Fox, em cinemascope.
Antes houve uma exibição somente para a imprensa, do filme Suplício de uma saudade, com Jennifer Jones e William Holden, da 20th Century Fox, em cinemascope e em cores de luxe.
A sala de projeção é dotada de 1.400 poltronas, adquiridas à firma paulista Brafor.
A tela tem 14 metros de comprimento, para filmes em cinemascope.
As paredes e o teto foram decorados em gesso, trabalho iniciado por Osório Ferreira e terminado por Marcelino Guido Budini.
A pintura foi feita por Schaffer & Harvath.
Foi o primeiro cinema em Fortaleza a ter ar-condicionado, da marca Carrier.
O projeto foi do arquiteto Humberto da Justa Mesnescal (Humberto Menescal).



A população cearense está prestes a receber de volta um dos equipamentos culturais mais emblemáticos do Estado. Após passar por uma reforma orçada em R$ 15,2 milhões, o Cine São Luiz será reinaugurado no dia 22 de dezembro deste ano. Sua nova configuração como cine-teatro - permitida a partir da instalação de uma tela móvel de exibição e da reestruturação da caixa cênica redescoberta no espaço - permitirá que o equipamento receba além de sessões de cinema, espetáculos de teatro, dança e música.

Iniciadas em dezembro de 2013, as obras de restauração e recuperação do Cine São Luiz agora estão bem perto de ser concluídas. O espaço recebeu um pacote de melhorias nos sistemas de iluminação, acústica, climatização, piso e revestimento, além de novos assentos e equipamentos de projeção. O investimento de R$ 15.287.832,21 feito pelo Governo do Estado, através da Secretaria da Cultura (Secult), possibilitará que o equipamento histórico-cultural seja devolvido à sociedade como um dos mais modernos da atualidade. Ao mesmo tempo, o Cine São Luiz ainda estará resguardado de memória, pois as características arquitetônicas originais, em suas qualidades estéticas e históricas, foram mantidas.


Os meses de reparo e restauração serviram para que o cinema ganhasse uma nova funcionalidade: a de teatro. A redescoberta da potencial caixa cênica de 20 metros, que estava inutilizada, fez com que a as obras tomassem outro rumo. O cinema ganhou espaço de um teatro: um palco, que foi totalmente recuperado. Com ele também vieram reparos em outros agregados como camarins e o espaço para receber músicos de orquestra, o fosso.


Com a conclusão das obras, a Secult cumpre com o compromisso de entregar o equipamento pronto até o fim deste ano, destacado pelo secretário da Cultura, Paulo Mamede, como prioridade. A finalização da restauração do espaço foi um trabalho em conjunto realizado pela equipe de restauro, coordenada pelo restaurador José Luiz Motta, sob a supervisão de profissionais como o engenheiro Paulo Renato, daSecult, o arquiteto Robledo Duarte, do Departamento de Arquitetura e Engenharia (DAE), do Governo do Estado, e o engenheiro José Cardoso, da Construtora Granito, responsável pela execução da obra.


Cine histórico

Inaugurado em 1958 e fechado desde julho de 2010, o Cine São Luiz, tombado pelo Governo do Estado em 1991, em reconhecimento a seu valor como patrimônio histórico e arquitetônico, também receberá novos equipamentos de projeção e de áudio. “O Cine São Luiz vai ser o cinema mais bonito deste País e continuará servindo como referência para várias gerações do Estado do Ceará e de Fortaleza”, já reforçava o Secretário da Cultura, Paulo Mamede, em meados da execução da obra.


Créditos: Livro Cronologia Ilustrada de Fortaleza de Miguel Ângelo de Azevedo (Nirez) e http://www.ceara.gov.br/


quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Sindicato dos Portuários - Meu baú de memórias - Patrícia Borges


O baú de memórias da Patrícia, veio lotado de fotos de diferentes momentos dos portuários. 
A atual sede foi inaugurada em 1971, e está localizado até hoje no mesmo endereço: Avenida Vicente de Castro, 6920 - Mucuripe. Mas algumas fotos são bem mais antigas, bem antes da inauguração dessa nova sede. 









Auditório da nova sede - Evento Noturno


Auditório da nova sede


Auditório - Evento diurno






Auditório




Auditório


Auditório



Continua...

É bom lembrar que a antiga sede ficava na Praia de Iracema e o Sindicato dos Portuários foi fundado em 1941.


Quem souber algo a respeito dos eventos, reconhecer alguém nas fotos ou alguma autoridade, escreva nos comentários, assim, juntos vamos desvendando essa história, ok?

E se você também tem fotos relíquias e gostaria de vê-las aqui no Fortaleza Nobre, basta enviar para fortalezanobre@gmail.com 


Leia também: A Greve dos Portuários



quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Meu baú de memórias - F Carlos de Paula


Fotos dos anos 70/80 de autoria de Juscelino Augusto:



"Casa do faroleiro, nas antigas dunas do Mucuripe." F Carlos de Paula





"Da janela de casa, tínhamos a visão do farol."  F Carlos de Paula
Foto dos anos 80


Pôr do sol nas dunas em frente ao Iate Clube. Anos 80






Tem fotos antigas da cidade? Abra seu baú de memórias e nos ajude no resgate de nossa história. Envie suas fotos para: fortalezanobre@gmail.com


segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Fortaleza - A Paisagem e as Transformações


Gravura da futura cidade de Fortaleza em 1811

A Fortaleza de São Tiago foi erguida às margens do Rio Ceará pelo português Pero Coelho de Souza, que aportou na região em 1603. O fortim que acalentou o impulso de fixar-se nesta terra tão aprazível, que os portugueses houveram por bem apelidar Nova Lisboa, deu descendência a mais imponentes e estratégicas instalações à margem do Rio Ceará, às quais se chamou Forte de São Sebastião.

Em 1637 o Forte de Martin Soares Moreno é dominado pelos holandeses, graças uma ação conjunta com os índios do Ceará, e transforma-se base mais norte do Brasil Holandês. O forte foi reformado e 1644 é destruído pelos nativos indígenas.

Forte de São Sebastião na Barra do Ceará

Entre 1649 - 1654 os holandeses liderados por Mathias Beck assumem o território e erigem, na Colina Marajataiba, o Forte Schoonemborch e abre uma estrada que ligava o Forte e a Serra da Taquara. Com a saída de Beck das terras cearenses, o forte é rebatizado com a designação católica de Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, ao retomarem o poder os portugueses, mormente Álvaro de Azevedo Barreto, que reassumem o controle no promontório do qual se divisava, ao lado esquerdo, o Rio Pajeú e, em frente, o oceano.
Posição que podia assegurar a defesa e a colonização daquela vasta e desolada área, pelas armas, por um lado, e por outro pela religião. Afastados os invasores, o ambiente ventilado também muito ajudou à fixação das gentes. A fartura dos recursos naturais e a beleza da paisagem contribuíram da mesma forma.
  
A grande planície onde se estabeleceu a Vila de Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção tem ligeira inclinação para o Norte e criva-se de lagoas rasas e drenadas, na parte central, pelo pequeno (50 km) Rio Cocó e, lateralmente, pelos tributários da vertente oriental do Rio Ceará e da ocidental do Rio Pacoti. Oficializada município por D. Pedro I aos 17 de março de 1823, chamou-se a partir daí Fortaleza de Nova Bragança.
  
Planta de Silva Paulet

Detiveram-se sobre o traçado de Fortaleza, empreendedores como o Governador Sampaio e o engenheiro Silva Paulet, o prefeito Boticário Ferreira e o engenheiro Adolfo Herbster — cuja última contribuição à urbe foi sua Planta de 1888, pomposamente denominada Planta da Cidade da Fortaleza, Capital da Província do Ceará.

Planta de 1888 de Adolfo Herbster

Nos primeiros haustos do século XX, com a participação dos senadores Alencar e Pompeu, o Plano Sousa Bandeira — adotado pela comissão que planejava a concretização de um porto 
marítimo para a cidade — já recomendava que se intensificasse o plantio de grandes parcelas de grama nos morros do Mucuripe, “em toda a extensão da área entre o farol e o Rio Cocó” (LOPES, 1978).

Fotografia da Avenida Aberto Nepomuceno no princípio do século. A Fortaleza

de Nossa Senhora de Assunção ao fundo e a direita. (No detalhe ampliado)


Essas medidas atendiam à ideia da imprescindibilidade de dar-se curso aos trabalhos de fixação de dunas, já que sua mobilidade não interessava ao projeto de dotar a cidade de uma conexão marítima com o mundo. Para o que nos importa, a transformação efetiva da capital já dependia de alterações promovidas na região da Praia do Futuro — tal e qual agora. 

Possivelmente a fotografia mais antiga da cidade de Fortaleza. Se pode ver a linha do trem que ia ao porto. No circulo os baluartes da Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção. Foto Ofipro

O antigo porto situava-se na região central, próximo ao monumento do Cristo Redentor e à Catedral da Sé, hoje próximo ao Poço da Draga e ao portentoso complexo arquitetônico do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, desenhado pelos arquitetos Delberg Ponce de Leon e Fausto Nilo à década de 90. 
De há muito se cogitava construir um quebra-mar sobre os recifes daquele porto e sobre a praia, e de cais ou molhes para acostagem dos navios, bem como o aprofundamento do canal da Barreta. Talvez fosse até preciso destruir parte dos recifes, para aumentar a velocidade das correntes e evitar o assoreamento no porto.

 
Poço da Draga

Antigo porto de Fortaleza

Em 1875, Sir John Hawkshaw propôs a construção de um quebra-mar de 670 metros de comprimento no antigo porto, ligado ao litoral por uma ponte de acesso. Porém, devido às grandes dificuldades para obtenção da pedra necessária às obras, a construção do quebra-mar foi iniciada somente em 1887. A iniciativa foi ainda prejudicada pelo acúmulo de areia, trazida pelos ventos à bacia abrigada pelo quebra-mar. Em 1897, essas obras foram, enfim, suspensas, quando o quebra-mar já alcançava 432 metros.
Com o fracasso do Plano Hawkshaw, as condições de embarque e desembarque naquele porto não mais satisfaziam nem viajantes e nem ao comércio. Retomando o problema em 1908, a comissão chefiada pelo engenheiro Manoel Carneiro de Souza Bandeira procedeu a minuciosa e completa pesquisa, tanto no antigo porto como na Enseada do Mucuripe, realizando levantamentos topo hidrográficos e estudando o regime dos ventos, das marés, das correntes e dos movimentos da areia. 



Data de 1910 a publicação do relatório em que Souza Bandeira apresentava os resultados de todos os trabalhos realizados no Ceará e o estudo elaborado para desenvolver um projeto de melhoria do porto.
Também nessa época, o engenheiro Lucas Bicalho, que dirigia a Inspetoria de Portos, decidiu implementar um outro plano, menos dispendioso, semelhante ao Plano Hawkshaw, que atendesse à condição de oferecer uma suficiente extensão de cais, com até 8 metros de profundidade. O projeto organizado por Bicalho foi aprovado em 1920 e a firma Norton Griffiths assinou o contrato de execução das obras no ano seguinte. Os trabalhos progrediram em 1922 e 1923, mas foram suspensos logo depois, por motivos administrativos diversos.

Viaduto Lucas Bicalho em 1923 - Arquivo Assis Lima


Foto da década de 20. Vemos o Viaduto Lucas Bicalho, conhecido por Ponte dos Ingleses e vários navios. Arquivo Assis de Lima


Somente em 20 de dezembro de 1933 foi outorgada ao Governo do Estado a concessão de uso 
da área por 60 anos, através do Decreto nº 23.606, em contrato registrado no Tribunal de Contas da União.

Em 7 de julho de 1938, o Decreto n.º 504 modificou o Decreto n.º 23.606 e transferiu a localização da construção do porto para a Enseada do Mucuripe. O canteiro de obras para a implantação da infra-estrutura do primeiro trecho de cais instalou-se em 1939. Enquanto isso, a Companhia Nacional de Construções Civis e Hidráulicas - CivilHidro garantiu a incorporação de 426 m de cais acostável às obras do Porto de Fortaleza.


Obras no porto do Mucuripe - Foto Assis de Lima




Obras no porto do Mucuripe - Foto Assis de Lima


Em 1952, foram construídos parte do primeiro trecho do cais de 6 metros e os armazéns A-1 e A-2 no Mucuripe. Em 1963, atracou o primeiro navio — o Vapor Bahia — no novo Porto de Fortaleza. No decorrer de 1964, deu-se a construção do armazém A-3, bem como foram iniciados os trabalhos de construção da estação de passageiros, do muro de

fechamento e do cais com 8 metros de profundidade.

Em 1968, foram inaugurados o armazém A-4, o prolongamento do cais de 10 metros de profundidade e a Estação de Passageiros. O cais pesqueiro foi inaugurado em 1980. 

Em 28 de janeiro de 1982, o píer petroleiro do porto e, em 1984, o armazém A-5. Hoje o Porto do Mucuripe atende a graneleiros e petroleiros, bem como recebe cargas diversas e um parque de
estocagem de contêineres surgiu no contíguo bairro Serviluz, trazendo consigo um grande movimento das carretas que os transportam. 

À parte o(s) porto(s), o derradeiro plano de Fortaleza foi elaborado em setembro de 1932, na gestão do prefeito Tibúrcio Cavalcanti, que, por razões financeiras, não o pôs em ação. O plano recebeu acréscimos da equipe da administração seguinte, de Raimundo Girão (1933-34), porém apenas no início da década de 40 o então prefeito Raimundo de Alencar Araripe restauraria a Comissão do Plano da Cidade — que tentaria, finalmente, efetivá-lo.


Crédito: Marco Antônio Krichanã da Silva


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