Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

terça-feira, 7 de março de 2017

As lojas na Fortaleza da década de 40




Nos idos da década de 40, os proprietários das grandes lojas não se preocupavam em camuflar (ainda bem!) as fachadas das lojas, com vergonha de estarem ocupando prédios antigos, nem tinham, ainda, descoberto a técnica de rebaixar os tetos dos salões, diminuindo o pé-direito dos mesmos e diminuindo, também, consequentemente, a ventilação. Os donos e administradores das lojas de Fortaleza preocupavam-se, principalmente, em apresentar mercadorias de alta qualidade, vendedores educados e asseados e vitrinas de alto nível, melhor veículo promotor de vendas. 
Hoje, infelizmente, quase não se consegue observar os antigos prédios ocupados pelas lojas, visto a quantidade de tapumes que são usados para encobrir o "velho". :(



Naqueles tempos, sem as indústrias de confecções dos nossos dias, que oferecem ao cliente a roupa prontinha, ao gosto de cada um, predominava, na cidade, o comércio de tecidos, obrigando as pessoas a adquirirem as fazendas necessitadas e levá-las à costureira ou alfaiates, conforme o caso ou o sexo. Por isso, as lojas de tecidos ou casas de fazendas, como eram mais conhecidas, tinham esmero em suas vitrinas, caprichavam nos "vestidos" de suas bonecas-manequins que eram montadas por verdadeiros mestres na arte de modelar as roupas, usando apenas o tecido e alguns alfinetes, sem ser necessário cortar pano nem utilizar linha ou agulha. 
A Casa Plácido, do comerciante milionário Plácido de Carvalho, na rua Major Facundo, ao lado do Excelsior Hotel. Comerciava produtos europeus: tecidos, confecções masculinas e femininas, perfumes, móveis, luminárias, leques, louças, cristais e pratarias. Durante a Primeira Grande Guerra, quando a Europa ficou carente de tudo, Plácido, que tinha armazéns abarrotados, revendeu tudo o que o velho mundo necessitava. A preços elevadíssimos.

A expressão Casa, certamente, seria a influência francesa Maison. Quanto à denominação armazém, tão grosseira e desprovida de it só surgiu na década seguinte, quando a cidade começou a perder seu encanto, seu refinamento, seu "chiquê", consequência das violentas secas que se abateram sobre o sertão, despejando milhares de flagelados famintos em nossa capital, originando as favelas, a profusão de mendigos, gerando, enfim, uma nova condição social que  modificou, radicalmente, os costumes da nossa urbe.
Loja A Cearense na rua Barão do Rio Branco. Arquivo Nirez

As principais casas de tecidos na Fortaleza dos anos 40 eram: A Cearense, de Aprígio Coelho de Araújo, localizada no meio do Chamado Quarteirão Sucesso, na rua Barão do Rio Branco. Aprígio, homem de larga visão e de muito bom gosto, mandou construir sua loja inspirado nas grandes maisons parisienses: gigantesco salão, bastante requintado, com ambientes de espera e nichos iluminados para exposições de peças finas. Ao fundo, uma elegante escada em  forma de leque se bifurcava e dava acesso aos salões dos dois andares superiores que tinham imensas rodas vazadas como visores emoldurados por belos gradis de ferro. De linhas art déco, como era comum às lojas chiques daquele tempo, sua frente era rigorosamente simétrica, com duas vastas vitrinas laterais e muitos manequins artisticamente vestidos.

Loja Broadway na "esquina do pecado", ao lado do Excelsior Hotel em 1953. Acervo Lucas Jr. Foto do jornal Gazeta de Notícias
Uma loja que, embora bem menor em instalações, possuía, talvez mercê de seu nome, incrível fascínio na cidade, era a Broadway, de Alberto Bardawill, na esquina famosa das ruas Major Facundo e Guilherme Rocha. Tinha duas vitrinas, uma em cada rua e era o próprio Bardawill quem montava as vitrinas e "vestia" as bonecas-manequins. A casa não tinha maiores atrativos em decoração, porém só trabalhava com tecidos de alta classe e sua clientela, a exemplo de A Cearense, era de primeira linha. Sua fama maior veio do forte vento que soprava constantemente na sua esquina, levantando as saias das moças e  provocando ajuntamento de rapazes, o que deu origem ao epíteto de "esquina do pecado". Aquele vento seria originado pelos altos tapumes da construção do Cine São Luiz que não permitiam a sua passagem pelas galerias laterais obstruídas.
A loja tinha o slogan: “Rianil, a loja azul da Floriano Peixoto”

A Rianil, localizada na rua Floriano Peixoto, entre as travessas São Paulo e Pará, tinha, sem favor, as mais bem arquitetadas vitrinas de tecidos da cidade. Seu vitrinista, verdadeiro artista, fazia trabalhos maravilhosos com as fazendas e as bonecas-manequins. Estas,  eram tão bem "vestidas" que se podia jurar que eram vestidos de verdade, cortados e costurados. Essa loja era toda azul, devido ao nome Rianil, originado de rio Anil, no Maranhão, em cuja capital, São Luís, estava a matriz daquela loja.
A Ceará Chic, no extremo sul da Praça do Ferreira, também tinha vitrinas bem elaboradas, com bonecas muito bem vestidas, e só trabalhava com fazendas de alta qualidade. A sua  vizinha, Rainha da Moda, na esquina e defronte ao Cine Moderno, também vendia tecidos, embora fosse especializada, igualmente, em bolsas, sombrinhas e outros acessórios.


Na esquina das ruas Barão do Rio Branco e Guilherme Rocha ficava As Duas Américas, de Pedro Coelho de Araújo, irmão de Aprígio (já citado). Não era uma loja de luxo, mas era bastante simpática. Tinha apenas uma vitrina, na quina. Não possuía manequins, que eram detalhes de alto requinte naqueles tempos. Já na década de 50, mudou de ramo, passando a ser casa de merendas, para fazer concorrência à Sorveteria Variedades. Com o nome de Cabana fez sucesso durante vários anos, sempre do mesmo proprietário da loja As Duas Américas.

Reclames de 1932 no Jornal Nação

A Casa Ouvidor localizava-se na rua Floriano Peixoto, vizinha à Livraria Comercial. Era uma loja simples, não tinha vitrinas, apenas uma só boneca-manequim colocada sobre um balcão.


Na rua Major Facundo, quase esquina com a travessa Liberato Barroso, tinha a Casa Londres, outra loja sem maiores pretensões, não obstante o nome pomposo. Não tinha vitrinas nem manequins.

Curiosa era a Casa Vênus, na rua Floriano Peixoto, local atualmente ocupado pelo Edifício Sul América. Era uma loja de porte médio e o seu detalhe interessante era uma boneca-manequim que ficava numa das duas vitrinas.  
Esse manequim chamava tanto a atenção do escritor, que ele escreveu:"Eu tinha fascínio pela mesma, pois, sendo menino, ficava a contemplá-la, uma vez que nunca vira, antes, manequim daquele tamanho.
Teria, se muito, meio metro de altura e formas de mulher, linda, com olhos azuis, de vidro. Estava sempre de vestido novo, na moda. Parece que o dono daquela loja tinha carinho especial por ela. Nunca mais vi outra peça semelhante, em nenhuma das cidades por onde andei."

A Granfina também ficava no Quarteirão Sucesso, no local onde está, atualmente, a Casa Pio. Era uma loja feia e sem qualquer atrativo, malcuidada, mal arrumada e de aparência suja. Tinha estoque reduzidíssimo de mercadorias e, para piorar a imagem, exibia um horroroso manequim, "choroso" e extremamente "anêmico". Nunca se via qualquer cliente ali e acho que fechou por falência. Sua vizinha era a Casa Armênia, de seu Carlos Fermanian, genitor do genial músico e regente Vasquen Fermanian. A Loja era um pouco melhor do que A Granfina, porém, sem ser chic, sem ter atrativos.

A esquina do pecado

De linha bem popular, mas badaladíssimas, eram as Casas Novas, de Gutemberg Telles. Se não estou enganado, eram três lojas, localizadas nas ruas Major Facundo e Floriano Peixoto, na confluência dos Correios e Telégrafos. Patrocinavam o programa de José Limaverde "Coisas que o tempo levou", apresentado pela PRE-9, nas noites das segundas-feira. Seu proprietário tinha noções da moderna propaganda, usava faixas e panfletos, além de "pregões" nas calçadas, atraindo os fregueses para o interior das lojas.

Ao lado do prédio dos Correios e Telégrafos, na rua Floriano Peixoto, estava a Casablanca, outra loja de linha popular e muito procurada pois tinha fama de vender mais barato do que as concorrentes. Possuía grandes instalações, sem o mínimo de luxo, mas apresentava movimento constante. De todas as lojas de tecidos existentes na década de 40, foi a única que sobreviveu. Cresceu e formou uma cadeia de lojas, grande centro comercial na Aldeota e já envereda por outros ramos de atividades, prova do dinamismo e tenacidade de seus dirigentes.

Casa Blanca - A sobrevivente

Com exceção da Casablanca, as lojas da década de 40 fecharam suas portas e hoje constam apenas em alguns livros sobre a cidade amada e nas histórias dos mais velhos...

"Todas as demais lojas dos meus tempos de menino e adolescente desapareceram e, hoje, são apenas saudade. Algumas, pelo chic, pelo carisma que possuíam, outras, pela simpatia e singeleza de suas promoções de vendas, numa época em que a publicidade era puro artesanato, sem as sofisticações do marketing de hoje." 

Marciano Lopes




Créditos: Livro Royal Briar - Marciano Lopes/Portal da História do Ceará/Biblioteca Nacional/Arquivo Nirez/ Revista Bataclan 

sexta-feira, 3 de março de 2017

A Casa Veneza



Era 1º de agosto de 1924, quando é inaugurada em Fortaleza, a Casa Veneza, da firma Francisco Angelo & Irmãos, do comendador Francisco Di Francisco di Angelo, representante consular da Itália em Fortaleza, e seus irmãos Braz de Francisco di Angelo e Salvador Di Francisco di Angelo. A loja funcionava na rua Floriano Peixoto nº 136 (antigo, atual 452).

Além do sortimento em calçados, as Casas Veneza também eram especialistas em bolsas e famosas por fazerem promoções como “Compre um e leve outro igual” ou em oferecer um passeio de barco. 

Ao todo, a Casa Veneza teve três lojas, a matriz, que ficava na rua Major Facundo com rua Liberato Barroso, a loja da Barão do Rio Branco (onde funcionou a loja A Cearense) e outra loja na Praça José de Alencar.

Loja da rua Floriano Peixoto, 136 (atual 452)

Arquivo Nirez


O quebra-quebra de 1942


No dia 18 de agosto de 1942, acontece o chamado quebra-quebra, em represália ao afundamento de vários navios mercantes brasileiros na costa brasileira, torpedeados por submarinos italianos e alemães.
Estabelecimentos de alemães, italianos e japoneses são depredados, assaltados e incendiados pelo povo revoltado.

Até estrangeiros que nada tinham a ver com o "eixo" foram "punidos" por terem nomes complicados.
Na voragem foram incendiadas as lojas A Pernambucana, a Casa Veneza e a firma Paschen & Companhia.
Durante a revolta popular, a Padaria Italiana muda seu nome para Padaria Nordestina.

Casa Veneza de: 

Francisco De Francisco Di Angelo

Diz o texto: Francisco De Francisco* Di Angelo, acatado chefe da grande Casa Veneza e que tem conquistado a simpatia geral do povo cearense pelo seu alto descortino e excelentes qualidades de lídimo cavalheirismo, dando mostras iniludíveis de um cidadão cônscio dos seus desígnios na sociedade hodierna, com toda a honestidade que lhe tem caracterizado os seus atos, haja vista a retirada, há 2 anos passados do sócio João Batista Madeira, que foi embolsado dos seus lucros e capital, na maior cordialidade, demostrando assim o seu carácter sem jaça e que pode muito bem servir de exemplo a todos quantos o conhecem e admiram. 

O comendador Francisco Ângelo, faleceu em Fortaleza em 09 de novembro de 1938.

* No livro Cronologia Ilustrada de Fortaleza de Miguel Ângelo de Azevedo, o nome está assim grafado: Francisco De Francesco Di Angelo.
Braz De Francisco Di Angelo

Diz o textoBraz De Francisco Di Angelo, da seção de compras, moço que se tem imposto a admiração dos súbditos deste estado nortista, sem distinção de classe, não só pela sua amabilidade com que trata a todos os seus amigos numa expansão de ânimos, afim de adquirir a máxima afluência à Casa Veneza, mas também pela correção nos seus negócios, dando um atestado eloquente na prática do desenvolvimento no comércio.

Salvador De Francisco Di Angelo

Diz o texto: Salvador De Francisco Di Angelo, encarregado da seção de vendas, onde tem firmado os seus propósitos de verdadeiro financista, fazendo inúmeras economias em benefício da Casa Veneza, atraindo assim amplas admirações dos seus co-sócios e da avultada soma da freguesia da dita casa, que lhe deve um padrão de glórias conquistando unicamente pelo seu esforço e invejável apetição para o cargo que lhe foi confiado.

Reclames da Casa Veneza ao passar dos anos



















"...Era assim o comércio de calçados em Fortaleza, nos idos de 45. Uma dúzia de sapatarias, todas de pequeno porte, calçavam os pés da população de nossa pequenina capital, de apenas duzentas mil pessoas.

As opções de modelos não eram tantas como hoje, não posso afirmar que fossem mais bonitos, uma coisa, porém, é certa: eram sapatos feitos para durar muito, para enfrentar o sol e a chuva. Havia muita camurça, combinações de camurça e pelica, camurça e gorgorão, verniz e camurça, fivelas, laços, saltos grossos, muito altos, inclusive, as famosas "plataformas" Carmen Miranda.

Algumas dessas casas sobreviveram, algumas até cresceram muito. Outras, morreram, definitivamente, deixando, nos saudosos, só uma grande nostalgia dos tempos em que até uma pequena sapataria tinha charme, porque a cidade era bela e romântica, cultivando a elegância até nas mínimas coisas."  
Marciano Lopes

O carinho dos cearenses pelo italiano Francisco Ângelo:



A loja da rua Major Facundo com Liberato Barroso. 
A foto é de 1983, de  Nelson Bezerra:

Prédio da rua Barão do Rio Branco nº1068, ainda com o nome da antiga Casa Veneza, onde antes esteve a loja A Cearense. O prédio é do arquiteto Sylvio Ekman:
Foto de  Felipe Camilo em 2013


O prédio na época da A Cearense



Créditos: Nirez, Portal da História do Ceará, Biblioteca Nacional, Royal Briar de Marciano Lopes e pesquisas pela internet.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Diploma perdido - Geraldo Duarte




Enfocamos, aqui, acontecimento registrado no início do ano sessenta, século passado. Novamente, lembrados com saudades, o engenheiro Clóvis de Araújo Janja e o mestre de obras Manuel do Montserrat. Trabalhos do Serviço de Abastecimento d’água, do Dnocs, no distrito de Messejana.

Execução do projeto da rede abastecedora local, aprovado pela direção geral do Departamento. Na fase de assentamento das tubulações, fez-se verificado clamoroso erro técnico. Não havia projetado um ramal para atender ao hospital-maternidade. Dr. Clóvis Janja procurou o engenheiro seu chefe e do SAD, cientificando-lhe e requerendo providências para a correção. Nenhuma solução assomou. Em comentário e protesto, Montserrat externou: “Se eu fosse engenheiro, podia perder meu diploma, mas não ficava assim!”.

Dia seguinte, Janja chamou o mestre e a mim e disse-nos: “Ontem, em casa, procurei por todos os lugares meu diploma e não achei! Cheguei à conclusão de que o perdi! Portanto, vamos utilizar os tubos da reserva técnica e fazer um desvio para a maternidade!”. Deu sonora gargalhada, acendeu um cigarro que sempre pendia na boca e determinou rápida ação. Inexistiu resposta aos ofícios visando à reparação. Aquele chefe, mesmo contrário à alteração, silenciou. A extensão foi executada por Montserrat e sua turma de campo, servindo aos socorridos naquela unidade de saúde pública. Sem dúvidas, até hoje, os encanamentos tubulares ainda permanecem enterrados na área.

Quem sabe, Janja, Montserrat e os operários, de há muito moradores do Oriente Eterno, estejam a gargalhar com este artiguete...

Geraldo Duarte 
(Advogado, administrador e dicionarista)

Os homenageados nas ruas da cidade - Parte VIII



O jornalista, ex-vereador e ex-deputado João Eduardo Torres Câmara (João Câmara), nasceu em Aquiraz, no dia 12 de dezembro de 1842. Fundou em 1895, o Almanaque da Cidade de Fortaleza, que a partir do ano seguinte seria Almanaque Administrativo, Estatístico, Mercantil, Industrial e Literário do Estado do Ceará, ou simplesmente Almanaque do Ceará.

Faleceu em Fortaleza no dia 06 de outubro de 1906, aos 64 anos de idade. Após sua morte, o Almanaque do Ceará passa a ser editado por seu filho Sófocles Torres Câmara (Sófocles Câmara) até 1931, quando passou para Joaquim da Silveira Marinho, que em 1941 entregou à dupla Raimundo Girão e Antônio Martins Filho, passando em 1947 para A. Batista Fontenele e Leopoldo C. Fontenele, que o editou até 1961.
 

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Ex-vereador e comerciante, Joaquim da Cunha Freire foi o  primeiro e único Barão de Ibiapaba. Nasceu em Caucaia no dia 18 de outubro de 1827.  
Era filho do português Felisberto Correia da Cunha e de Custódia Ribeiro da Cunha e irmão de Severiano Ribeiro da Cunha, o Visconde de Cauípe.

Joaquim da Cunha foi presidente da província do Ceará por sete vezes: De 24 de abril a 26 de julho de 1869/ De 13 de dezembro de 1870 a 20 de janeiro de 1871/ De 26 de abril a 27 de junho de 1871/ De 8 a 12 de janeiro de 1872, em 30 de outubro de 1872/ De 12 de setembro a 13 de novembro de 1873 e de 21 de março a 23 de outubro de 1874.

Casou-se com D. Maria Eugenia dos Santos. Dedicou-se a carreira comercial e soube acumular avultada fortuna, tendo colaborado para melhoramentos materiais de Fortaleza.
O Barão de Ibiapaba morreu no Rio de Janeiro em 13 de outubro de 1907. 

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Tristão de Alencar Araripe nasceu em Icó em 7 de outubro de 1821. Era filho do coronel Tristão Gonçalves de Alencar Araripe e de D. Ana Tristão de Araripe - intitulada, Ana "Triste". Foi casado com sua prima-irmã Argentina Franklin de Alencar Lima, com quem teve oito filhos, entre os quais, Argentina de Alencar Araripe, casada com João Tomé da Silva.

Tristão de Alencar passou por diversos cargos públicos: Juiz municipal de Fortaleza, juiz de Direito de Bragança, na então Província do Pará,  juiz especial do Comércio de Recife, desembargador das Relações da então Província da Bahia e da Província de São Paulo e da Corte. Presidente do Rio Grande do Sul e da Província do Pará, ministro do Supremo Tribunal de Justiça, ministro da Justiça e da Fazenda (no governo de Deodoro da Fonseca), chefe de polícia na então Província do Espírito Santo (1856), Pernambuco (1858) e Ceará. Conselheiro de Estado; presidente das províncias do Rio Grande do Sul e da então província do Pará,  deputado da província do Ceará (em três legislaturas), oficial da Imperial Ordem da Rosa e Membro de inúmeras associações culturais dentre elas o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro. Nomeado ministro do Supremo Tribunal Federal permaneceu no cargo até a sua aposentadoria, em 25 de janeiro de 1892.

Morre no Rio de Janeiro em 03 de junho de 1908, aos 86 anos de idade.
Hoje é nome de rua no Centro de Fortaleza, indo até o Bairro de Fátima, com o nome de Rua Conselheiro Tristão.

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Dr. Paulino Nogueira Borges da Fonseca nasceu em Fortaleza, no dia 27 de fevereiro de 1842.
Era filho de Francisco Xavier Nogueira e de Maria das Graças Nogueira. Neto pelo lado paterno de Pedro da Costa Moreira e de Maria Nunes de Lima e pelo lado materno do Capitão Antonio Borges da Fonseca e de Rosa Maria do Sacramento, do qual era bisneto materno de Antônio José Vitoriano Borges da Fonseca, que governou o Ceará de 25 de abril de 1765 a 3 de novembro de 1781. Teve dez irmãos, dentre eles, o padre Francisco Xavier Nogueira, que foi presidente do Poder Legislativo no Ceará.

Casou-se duas vezes. A primeira em 22 de dezembro de 1866, com Ana Franklin de Alencar, filha do tenente-coronel João Franklin de Lima e de Maria Brasilina de Alencar (tia materna de José de Alencar), com quem teve dois filhos:
João Franklin de Alencar Nogueira (25 de outubro de 1867 - 2 de dezembro de 1947 - Engenheiro civil, historiador e escritor) e Maria Nogueira, falecida em 1869.

Bacharelou-se em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito de Recife. Pouco depois foi nomeado promotor público de Saboeiro em substituição a Antônio Pinto Nogueira Acioli, cargo que deixou por ter sido escolhido pelo presidente Homem de Melo para ser oficial-mor da secretaria do governo, mas foi exonerado por Melo e Alvim, que sucedeu Homem de Melo, por divergências políticas. Voltou a fazer parte do governo provincial como secretário no governo do Barão de Taquari e no de Freitas Henriques. Exerceu os cargos de professor de Latim e diretor do Liceu de Fortaleza, inspetor geral da instrução pública, deputado geral por duas legislaturas (1872 e 1879) e vice-presidente da província, em cuja qualidade assumiu o governo provincial das mãos de João José Ferreira de Aguiar até o empossamento de Nogueira Accioli. Pelas reformas que realizou na instrução pública da província, foi condecorado com a Imperial Ordem de Cristo (1871).
Faleceu em Fortaleza, aos 66 anos em 15 de junho de 1908.
  
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Emília Freitas nasceu em 08 de janeiro de 1855 na antiga União, hoje Jaguaruana. Foi uma intelectual engajada, inclusive na causa abolicionista. Sua obra foi permeada pelas suas visões políticas e questionamentos à sociedade, assim como a cultura que recebeu em seus estudos (Emília falava inglês e francês) e sua visão de Brasil (a autora morou em Fortaleza e em Manaus, cidades que ela usa com muita intimidade como cenários em seu livro A Rainha do Ignoto).
Filha do tenente-coronel Antonio José de Freitas e de Maria de Jesus Freitas, após o falecimento do pai, a família resolve se mudar para Fortaleza, onde Emília estuda francês, inglês, geografia e aritmética, num colégio particular. Mais tarde se transfere para a Escola Normal, formando-se profesora.
Em 1873 começa a colaborar em diversos jornais literários do Ceará como Libertador, Cearense e O lyrio e a brisa, além de outros de Belém do Pará. A maior parte dessas poesias foi depois compilada no volume intitulado Canções do lar.
Um ano depois, após a morte da mãe, muda-se para Manaus em companhia de um irmão, exercendo o magistério no Instituto Benjamin Constant, destinado à instrução de meninos. Em 1900, casa-se e retorna ao seu estado original com o marido, o jornalista Antonio Vieira, redator do Jornal de Fortaleza




Emília de Freitas participa ativamente da Sociedade das Cearenses Libertadoras, que tinha caráter abolicionista, tendo inclusive discursado em 1893 na tribuna, fato este muito aplaudido e noticiado nos jornais.

Em 1899, sai A rainha do ignoto, sua principal obra, a que deu o curioso subtítulo de "romance psicológico". Trata-se de uma trama novelesca absolutamente insólita, marcada por traços ficcionais, que é considerada por alguns especialistas como um dos trabalhos pioneiros do gênero fantástico ou maravilhoso no Brasil. A autora consegue com rara habilidade acomodar o fantástico no plano da regionalidade e promove uma incursão pelo imaginário, chegando até o inverossímil.
Com a morte do marido, Emília retorna para Manaus, onde falece em 18 de outubro de 1908
, aos 53 anos de idade.


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Antônio Fiúza de Pontes nasceu em Lavras no dia 14 de junho de 1876, filho de Antônio de Pontes Fiúza Lima e Maria Umbelina de Carvalho Pontes. Estudou em Aracati (curso de latim do Cônego João Francisco Pinheiro), Fortaleza (Instituto de Humanidades e Liceu do Ceará) e Recife (Faculdade de Direito, turma de 1902). Promotor Público de Monte Alegre e São Miguel do Guamá (PA). Professor da Faculdade Livre de Direito do Ceará. Deputado Estadual e poeta, pertenceu ao Centro Literário, não chegou a publicar os livros Miosótis e Tempos Idos. É de sua autoria a Memória Histórica da Faculdade Livre de Direito do Ceará (1907). 

Em 19 de fevereiro de 1909, morre, aos 32 anos de idade, vítima de apendicite, em Fortaleza.




Leia também:

Parte I
Parte II
Parte III
Créditos: Cronologia Ilustrada de Fortaleza, Portal da História do Ceará, Wikipédia, Carta Capital, 1001 Cearenses Notáveis-F. Silva Nobre.

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