Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

 



quinta-feira, 21 de maio de 2015

Zé Tatá - O Grande Chalaça que entrou no folclore da cidade


"Quem conheceu Zé Tatá, que aqui nesta cidade residiu desde os fins dos anos quarenta até os anos noventa, e teve a calidez do convívio momentâneo e apaixonante de 

um cabaré, sentiu realizado o desejo ou frustrada a vontade, por não ter conhecido e participado das noites na zona, soube distinguir que o sussurro do impacto causado na paróquia, era maior do que o próprio pecado que já não era original, mas patrocinado pelo amor consagrado no impulso misto de virtude e pecado, que em nós pecadores se instalava como morada, tudo comandado pela força da mocidade, iniciada na infância, para realizar essa vontade quando se atinge a maioridade.

Era rumo à Pensão do Zé Tatá que toda juventude se dirigia como quem faz o caminho da roça em direção ao cortiço, como as abelhas, fazendo revoadas em torno dos mancebos, se acasalando naquele colmeal aconchegante do amor.

Zé Tatá, pessoa simples, era pouco alfabetizado, mas de tino comercial muito aguçado, o que lhe deu condição de administrar suas casas noturnas, porque era sobretudo uma figura hilariante, conhecedor de boa parte da sociedade Fortalezense, que lá frequentava e nutria suas paixões pelas desencaminhadoras odaliscas que dos diversos recantos dos Estados de Pará, Maranhão, Piauí, Recife e até do Rio de Janeiro, aqui chagavam para inquietar os corações dos cearenses desprevenidos da picada do “cupido”.

Sua maior lembrança ficou no nosso folclore, ao se dar nome de TATAZÃO ao famoso viaduto da Avenida Alberto Nepomuceno, esquina com a rua José Avelino - antiga rua Mesquita, que marcou a última morada na mencionada rua José Avelino n.° 156, quase esquina com a citada Avenida Alberto Nepomuceno.


Hoje, no viaduto Tatazão, uma multidão passa de carro por cima e outros tantos veículos por baixo, e alguém até dorme debaixo dele.

Funcionou inicialmente como casa noturna, na Rua Major Facundo entre as ruas Senador Alencar e São Paulo, em cima do prédio onde ficava Agência Admiral de Peças de Motores, “A pensão Ubirajara, depois transferiu-se para um sobradão antigo, com escadaria de madeira, Pensão Tabariz na rua Pessoa Anta n.° 120, em cima do prédio da Booth Line, onde mantinha música ao vivo, composta de vários instrumentos, sanfona, bandolim, cavaquinho, maracas, pandeiro e instrumentos de sopro, como saxofone e flauta, que faziam uma boa orquestra e se dançava até às 3 horas da manhã ao sons de samba, rumba, bolero, samba canção, valsa e fox. Mesmo dançando “colado”, o cavalheiro aguardava o momento próprio, quando se recolhia para curtir as carícias manifestadas no salão, dando “cheiro na orelha em busca do cangote da parceira”.

O prédio da rua Major Facundo com Senador Alencar em dois tempos, 1910 e 1975 - Nirez e Nelson Bezerra respectivamente


Foi na Pensão Tabariz que obteve talvez maior êxito no ramo, pela exuberância do local, frequência e mulheril que lá se hospedava. Depois Zé Tatá, abriu a Pensão Hollywood, na rua Barão do Rio Branco, em cima de uma Cooperativa com resumido espaço que não dava para dançar.


As pessoas mais relacionadas com Zé Tatá eram as colegas Marion, que se dedicava a arte de pedicure, Marlene, Paulete e o famoso Tereza que com ele trabalhou durante muitos anos e foi talvez a maior e a mais fiel amizade que teve, e ainda hoje vive, ostentando os seus oitenta e uns “biscoitinhos” de existência morando na Praia do Futuro e com o mesmo ramo de negócio.

Zé Tatá era versátil, acompanhava passo a passo os eventos que nessa cidade se desenrolavam, participando ativamente dos festejos carnavalescos. Assim durante o período momino se fantasiava e fazia parte do Bloco das Baianas, que no seu porte de “homão” ocupava, no bloco, proeminente posição, recebendo calorosos aplausos de todos quanto assistiam o corso que se iniciava na Avenida Dom Manuel, percorrendo a Avenida Duque de Caxias até alcançar a Avenida Padre Ibiapina, quando fazia o retorno pelas mesmas avenidas até a Praça do Cristo Redentor, na Igreja da Prainha. Era, para seu gáudio, momento de delírio e ardente satisfação, receber e retribuir os aplausos que do povo partiam em forma de manifestação e de apreço pelos trajes primorosamente trabalhados para ornar a fantasia.

Gazeta de Notícias - 30 de janeiro de 1957

Com o passar dos tempos, não participava mais do “Bloco das Baianas” mas, alugava um caminhão alegórico e, com pequeno número de músicos e instrumentos de sopro, fazia no corso a exibição de seu plantel que residia no “chateau”, cujas mulheres eram suas comensais e durante a noite faziam “salão”, como profissão, na conquista do amor à primeira vista trocando carícias e, em contra partida, tendo remunerado o seu tempo.

Era o amor sensação, amor volúpia, bem parecido com o que se vê nas atuais novelas exibidas em horário nobre, despertando na juventude o que deveria ter o tempo certo, apropriado, para tais explicitações.

Zé Tatá era muito extrovertido, bem humorado, às vezes, irônico, um tanto satírico. Seus ditos procuravam a hilaridade condizente, no bom sentido, com os histriões fesceninos.

Aqui não se quer discutir ou tecer considerações ou dúvidas quanto a sua masculinidade, mas lembrar a figura humana, por ser igual aos demais seres, do “chalaceador”, que de forma espirituosa deixou vivas recordações nesta cidade, que o acolheu como cidadão passando a fazer parte do folclore cearense recebendo seu pseudônimo, o batismo de um viaduto, “O Tatazão”. Era do seu temperamento dizer gracejos animando os frequentadores de sua casa noturna, onde imperava a alegria, com danças e folguedos, virando alegoria, após viver nesta cidade, por mais de oitenta anos, vindo de Sobral, sua terra natal, entrando assim, no conjunto das tradições do povo, expresso em costumes espalhados na população.

Assim, aquela figura exótica, cuja estatura de aproximados dois metros de altura, com quase 120Kg de massa corpórea, traços fisionômicos corretos, de prolongada calvície, de cor parda, semblante alegre, caminhar compassado, sem muita afetação, bem trajado, com sandálias quase femininas, mas com roupa adequada. Trazia o pescoço ornamentado por correntes de puro ouro, relógio no pulso e anéis com pedras preciosas.

Arquivo Nirez

Aquele homão despertava certa curiosidade a todos quantos com ele cruzassem no centro da cidade, e porque nos anos 50 cinquenta, pouca gente ousava bater papo ou mesmo trocar palavras com Tatá, pois o simples cumprimento, poderia ser comprometedor e deixar dúvidas... ou denunciar alguma preferência...

Enfim todos receavam e se preveniam de por em dúvida, naqueles idos tempos, a boa reputação. Temiam o refrão “quem não quer ser lobo, não lhe veste a pele” ou “dize com quem andas, que te direi que és!” Se fosse visto ou flagrado pelos filhos de “Candinha”, estava frito e com a cotação abaixo da crítica.

Ah, sociedade retrógrada, exigente, muitas vezes era hipócrita com os seres humanos. Afinal não têm culpa de terem nascido homossexuais ou lésbicas. Biologicamente não se auto-principiaram. Já nasceram assim e por isso não deixam de ser criaturas como todos nós. Têm tudo que nós temos e às vezes virtudes que nem todos têm.

E essa discriminação que existia não só para ele, mas se estendia até para as grinfas que moravam nas “pensões altas”, do centro da cidade, e eram também excluídas da sociedade.

Quase não saiam pela cidade para fazer compras, porque as jóias e o vestuário eram vendidos na própria pensão. Quando saiam, apanhavam o carro na porta da pensão e os motoristas aguardavam na porta da loja, quase sempre sapataria - enquanto experimentavam sapatos, sandálias etc, tudo com muita rapidez.

Se, por ventura encontrassem alguém conhecido, faziam questão de não cumprimentar guardando a maior distância para não serem identificadas por seus michês, ou frequentadores dos salões.

Assim nessa pesquisa - um personagem diferente dos tradicionais - dos que também se dedicavam a manter pensões alegres ou casas noturnas, que tradicionalmente - se intitulavam - as pensões altas, por serem localizadas sempre no andar superior dos prédios antigos do centro da cidade, que foram residências das tradicionais famílias, de viscondes,
de barões, de comerciantes, enfim pessoas de fino trato, que formavam a requintada classe alta da sociedade alencarina.

Desse tempo o que se ouve dizer é que as moças com longos vestidos, com anquinhas, corpetes, cabelos com penteado de cócó, com longos pentes, fivelas e travessas cravejadas de pedras, prendiam os cabelos no alto da cabeça dando um ar senhoril às damas e senescal aos cidadãos, que vestidos com casimira inglesa nos diversos tons e cores sem se falar do excelente tecido de linho inglês, paletó preto ou azul marinho, calça bege ou riscado, ou mesmo almofadinha, jaquetão, traduziam o hábito de vestir da época dos que se dirigiam ao Passeio Público, passeando pelas alamedas da Avenida Caio Prado - local reservado na quadra, para as famílias gradas. Havia no Passeio Público, junto ao centro da praça, outra alameda que se destinava à camada social de “gente do povo”, evitando que houvesse a mistura das classes sociais. Uma chamada classe “rica” e na outra classe “pobre” ou dos empregados domésticos.


Com a retirada da banda que fazia retretas e das famílias nobres que residiam no centro da cidade, os casarões deram lugar aos estabelecimentos comerciais situadas nas principais ruas do centro.

Como exemplo cito o do meu bisavô - português Joaquim Dias da Rocha, comerciante que permaneceu por muitos anos na rua Major Facundo antiga rua da Palma, com Senador Alencar - antiga rua das Hortas, no fundo do Banco Frota Gentil- hoje Edifício Jangada, com Armazém de Secos e Molhados produtos vindos dos diversos países da Europa ainda no início do século XIX.

Eram estas ruas no lado norte do centro nervoso do alto comércio de Fortaleza, composto das mais importantes firmas comerciais, que predominavam abastecendo a capital e às diversas cidades do Ceará, no comercio atacadista e no retalho, desde os móveis de fabricação da
Áustria, Inglaterra, Portugal, França, como tecidos, pianos, instrumentos musicais, perfumes, ferragens e etc.

Como tudo na vida tem o seu tempo certo e sofre mutações com o passar do tempo, os casarões do centro da cidade foram ocupados por pensões alegres - e as mariposas ou famosas raparigas tomaram lugar “sentando praça”, como se costuma dizer, depois que entram na vida mundana.

Antes do Zé Tatá, existiam outros locais destinados às libações, como a pensão da Amélia Campos a mais famosa e outras de menor procura -Maria Cabelão” gaguinha - Irinete Alves Cabral, Oitão Preto e tantas outras. Já no dourados anos sessenta.

Prédio em frente a Padaria Lisbonense - Próximo a Praça do Ferreira

Aqueles casarões antigos do centro da cidade que outrora abrigavam nobres famílias, foram pouco a pouco se transformando em lupanares alojando as grinfas que provinham dos mais longínquos recantos do Estado e estados vizinhos, que infestavam o mercado da nossa urbe para retalhar amores a granel nos mais variados apetites masculinos.

Zé Tatá, figura de retórica a tudo assistia manifestando seu hilariante humor, animando a todos. No salão a contra-dança era com uma das comensais de sua preferência para estimular aos que participavam daquela alegria mundana, não só para mancebos, mas para respeitáveis senhores daqui da nossa paróquia ou oriundos das distantes cidades do nosso sertão cearense, que quando por lá apareciam, eram verdadeiros termômetros das boas safras algodoeiras, de sementes de mamonas, cera de carnaúba, peles e couros que faziam a receita do nosso Tesouro, manifestada pela exportação para o Sul do país e outros países, os nossos apreciados e divulgados produtos.

Dessa forma o Cabaré do Zé Tatá, também participava dessa fartura econômica, vendo os coronéis (pessoas abastadas do sertão) que lá se aboletavam formando grandes mesas num festival de raparigas que dançavam, pulavam de alegria bebendo tudo que tinham direito, comandadas pelo coronel, que simploriamente vestido no seu dolman, chinelos de rabicho e chapéu de bombucacho, dominava aquele ambiente festivo “do jeito que o diabo gosta”...

Entre os vivas e aplausos quem mais atirada fosse, ganhava o coronel, cuja preferência, a estas alturas, já não se dava conta e dizia - “o que cair na rede é peixe”...

Até porque toda aquela exultação era fruto de uma boa negociação de um agricultor que realizara entre os grandes atacadistas da “praia” como eram conhecidos os comerciantes de peles, couros, algodão e sementes que se situavam nas ruas José Avelino, Pessoa Anta, Dragão do Mar, Boris, Senador Almino, Almirante Jaceguai e outras ruas próximas.

As mariposas elegantemente vestidas de “soirée” nos tons vermelho, preto, azul, amarelo, verde, róseo mais espalhafatosos e berrantes - era no que se diz hoje - “no tom cheguei!”... “Para abafar”... e enfezar a turma...

Mas era por demais interessante frequentar a casa do Zé Tatá - por ser na sua exuberância, local para divertimento de toda faixa etária, onde todos se distraiam esquecendo o tempo passar. Ainda não se conhecia tão vulgarmente o “Stress”, a hipertensão, e principalmente a
tão conhecida “depressão”. Existia de vez em quando a melancolia ou tristeza que após uns tragos de bebida, boa música e uma odalisca de lado ia embora dando lugar à alegria para cantar a música da trilha musical da novela Da cor do pecado, segundo meu estimado amigo Dr. Bosco Câmara, curioso musicófilo no bom sentido, me diz ser de autoria de Bororó - Alberto de Castro Simões da Silva(1898-1986) - descendente direto da Marquesa de Santos - amante de D. Pedro II, gravação original de 1939, interpretado por Silvio Caldas:

Esse corpo moreno/ Cheiroso e gostoso/ Que você tem/ É um corpo delgado/ Da cor do pecado/ Que faz tão bem/ Esse beijo molhado/ Escandalizado que você me deu/ Tem sabor diferente/ Que a boca da gente/ jamais esqueceu/ Quando você me responde/ Umas coisas com graça/ A vergonha se esconde/ Porque se revela/ A maldade da raça/ Esse cheiro de mato/ Tem cheiro de fato/ Saudade tristeza/ Esta simples beleza/ Teu corpo moreno; morena enlouquece/ Eu não sei bem porque/ Só sinto na vida/ O que vem de você.
Zé Tatá - homenzarrão era também muito disposto, respeitado por todos que conheciam sua fama, por não ser morredor. Era um tipo destemido e extrovertido, ninguém nunca o via abichornado, estava sempre satisfeito com a vida e de nada se queixava, vivia em paz consigo
mesmo, assim diziam todos que a sua casa frequentavam bem como as suas amigas hóspedes. Cumpria com seriedade as obrigações comerciais que assumia, daí porque todos lhe creditavam no comercio local, granjeando bom conceito que o distinguia como ótimo pagador das dívidas por ele contraídas.

Arquivo Nirez

Na Boate Tabariz - Zé Tatá era quem abria a festa rodopiando no salão ao som da orquestra de pau, corda e sopro, escalando uma dançarina-noturna que bem pudesse representar o cabaré, na contra-dança.
Essa se chamava Francisca - conhecida pela alcunha deChica ou na sua falta - Das Doresou Clébia que eram conhecidas como pés de ouro...

De repente todos os presentes começavam a dançar com muita animação e não demorava muito o cabaré se inflamava com as músicas nos seus diversos ritmos - desde samba, samba-canção, bolero, fox, baião, valsa, terminando sempre com o famoso tango na voz de Carlos Gardel.

O cancioneiro predominado por Chico Alves, Nelson GonçalvesAlcides Gerardi, Ciro Monteiro, Luis Gonzaga, Erivelto Martins, Dalva de Oliveira, Ângela Maria e o cearense Carlos Augusto interprete de “Vitrine”, “Negue o seu amor” e varias composições de Adelino Moreira, cuja família composta de vários cantores, a partir de sua mãe Nenen Bandeira detentora de linda voz, Cleide e Adamir Moura (irmãs-vocalistas) e Henriqueta Moura que inaugurou a rádio P.R.E. 9, juntamente com os cantores José Jataí, Hildemar Torres, José Lisboa, Terezinha Holanda, as Três Marias, filhas da Professora de Música Maria de Lourdes
Gondim
, Mário Alves - Trio Nagô, Zuíla Aquiles, Keyla Vidigal, Maria Guilhermina e Telma Regina, que formavam o grande elenco de artistas cearenses, sem esquecer os grandes compositores Lauro Maia, Evaldo Gouveia e Aleardo Freitas.

Um detalhe que merece realce, diz respeito à gente boa que frequentava o seu cabaré, e se por ventura com ele cruzasse nas ruas do Centro da cidade ou no Mercado Central, onde diariamente fazia suas compras, demonstrava que não conhecia ou simplesmente acenava com o olhar num cumprimento cauteloso, para não ser notado por outras pessoas nem comprometer, evitando enxovalhar o bom nome e a reputação da pessoa com quem falava...

Era próprio do provincianismo que dominava a nossa cidade cheia de preconceitos ou atavismo. Parecia até que a indigitada pessoa era portadora de doença, cujo mau poderia pegar até num simples cumprimento. Tudo causava horror e admiração diante do pieguismo e primitivismo cultural e social da nossa gente naquela época.

Hoje tudo mudou. É tudo tão diferente. Parece até que houve inversão de valores, que só Freud poderia explicar com exatidão essa transformação do entendimento racional das pessoas que antes se escondiam por detrás de pseudo moralismo e hoje já se expõem com exagero dando lugar às insinuações malévolas. Será por depuração da sociedade ou, mesmo evolução dos tempos? Deixemos esses questionamentos para os estudiosos no assunto, os sexólogos, psicólogos ou médicos psiquiatras que tão bem sabem se desincumbir da missão.

Aqui se tem em mente, lembrar tipos, episódios, pessoas e coisas que marcaram no passado seus jeitos, construindo nesta nossa querida cidade, marcos indeléveis que devem ultrapassar o tempo, não deixando a memória morrer no esquecimento, trazendo até subsídios de qualquer ordem que possam interessar aos historiadores, antropólogos, arqueólogos e demais interessados no passar dos tempos.

Por isso, em evidência, um ser humano - Zé Tatá, que durante décadas e mais décadas preencheu com hilaridade o folclore cearense."

Zenilo Almada

Bônus: A Pensão do Zé Tatá - Luizinho de Irauçuba


Causos na Pensão do Zé Tatá

“Nosso saudoso Zé Tatá, sobralense ilustre, dono de uma pensão alegre que guardava e garantia o trabalho de meninas de vida...vamos dizer...livre pra não falar fácil (fácil?)

Pois bem. Veio do Recife para Fortaleza um time de futebol e no time um carinha metido a besta, desses pernambucanos que no passado achavam que o mundo começava e terminava entre as doenças do Capibaribe e do Beberibe.

Depois do jogo procurou um lupanar e foi cair na Pensão do Zé Tatá.

Bebeu, dançou, foi pro quarto com uma das meninas, apalpou desagradavelmente outras tantas e no fim botou boneco. Não queria pagar.

Era coisa de três horas da manhã e o tal cavalheiro começou a esculhambar com todo mundo, gritando que no Ceará não tinha homem, que macho ali só tinha ele e que não ia pagar coisa nenhuma e essas coisas que todo bonequeiro faz. Uma das meninas foi acordar o Zé Tatá e contou.

Tatá subiu nos tamancos e foi ao salão. Quando o valentão viu aquele armário (quase dois metros de altura por dois de largura e pelo menos um de fundos) tentou afinar. Zé Tatá limitou-se a dar-lhe uma patada que jogou o tal pernambucano na metade da escada já gemendo de dor. Zé desceu e foi chutando o besta até a porta. Lá embaixo, com o cara de cara amassada, costela quebrada, coração parando.


Zé Tatá pegou o cabra pelas bitacas, e deu-lhe a porrada de misericórdia, não sem antes avisar; Vá seu corno. E diga lá no Recife que no Ceará levou uma surra de um Viado.


Leia também:

Zé Tatá - O Rei da noite
Fonte: O Bonde e outras recordações - Zenilo Almada/ http://macariobatista.blogspot.com.br/
Youtube - Canal Lando CDs

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Zé Tatá - O Rei da noite


José Vicente de Carvalho era empresário da noite. Possuía várias casas noturnas em Fortaleza, como as pensões Ubirajara, Hollywood e Tabariz*. As casas ganharam nome e fama, ficando na história boemia da cidade. 
Zé Tatá foi o primeiro homem de Fortaleza a assumir sua homossexualidade, anunciando a quem quisesse ouvir que gostava, sim, de homem.
Com quase dois metros de altura e pesando uns 120 quilos, ele era figura de destaque no carnaval de rua. Desfilava no bloco das baianas, vestido de Carmem Miranda. Ele era de uma época em que ser homossexual era coisa do outro mundo. Pois era assumido. Usava sandálias femininas e andava se requebrando, distribuindo simpatia de leste a oeste, sob o olhar curioso das pessoas. Nunca um gaiato teve coragem de fazer piada ou soltar uma pilhéria.
Sua fama de brigão atravessou as divisas do Ceará.


Zé Tatá de baiana ajuda seu amigo "Tereza" com os adereços no carnaval de 1942.
Acervo Diário do Nordeste

"Era conhecido por exigir respeito e não tolerar desrespeitos à sua pessoa. Zé Tatá garantia, por meio da fama de valente, a liberdade de circular pelas ruas do Centro da cidade sem ser importunado pela molecagem cearense. A força física era seu salvo-conduto para ir e vir livre das zombarias contra sua homossexualidade assumida."  Érika Meneses

Participava ativamente das festas carnavalescas. Durante o período momino se fantasiava e fazia parte do Bloco das Baianas. Com seu porte gigantesco, vestido à La Carmem Miranda, ocupava posição de destaque no bloco, recebendo calorosos aplausos de quantos assistiam o corso que se iniciava na Avenida Dom Manuel, percorria a Avenida Duque de Caxias e ia até a Avenida Padre Ibiapina.

Na rua, o homenzarrão despertava a curiosidade de todos, quando circulava sua figura portentosa pelo centro da cidade, sem jamais ser importunado com vaias, assovios, piadas ou pilhérias – uma espécie de marca registrada do centro de Fortaleza – isto porque, o homossexual mais assumido da época, tinha também o seu lado macho e, quando entrava num entrevero, não levava desvantagem. Com fama de brigão e de não levar desaforo para casa, Zé Tatá atravessava o quartel general do Ceará moleque – a Praça do Ferreira – sob olhares curiosos e bocas bem fechadas.

Ficção e realidade se misturam...

A História de Zé Tatá
(Fato fictício real) 
Fortaleza, 1950.

"Zé Tatá era um negrão de mais de um metro e noventa. Chamava atenção, por onde passava, por ser um homem, negro, forte, alto e belissimamente vestido de mulher. Ninguém tinha coragem de dizer qualquer coisa que ofendesse a integridade moral de Zé Tatá (Foto ao lado do Arquivo Nirez).

Mas vamos ao início da história deste personagem sobralense que, nos anos 50 e mais, era a rainha do Carnaval de Rua de Fortaleza : Zé Tatá 
nasceu em Sobral. Aos 2 anos de idade perdeu seu pai, vítima de acidente. Filho único de mãe viúva, foi criado em Fortaleza num conjunto habitacional do Exército do Brasil. Sua mãe ganhava uma modesta pensão e tinha que trabalhar como empregada doméstica pra criar seu filho amado. Zé, como era conhecido pelos colegas, estudou no Colégio Marista, onde também ganhou o apelido de Tatá. Dizem que, quando ele ficava nervoso ao ser repreendido pela professora, dizia: 
- Ta! Ta! Dai virou o Zé Tatá.

Quando menino, passou por todas as fases, foi levado, brigão, namorador... Sempre foi um aluno mediano, mas esforçado. Na adolescência, descobriu que era diferente dos outros meninos. No início, achou estranho, mas rapidamente gostou da ideia. Ele se destacava em todas as atividades que fazia: era ótimo lutador, jogava futebol e queria participar de tudo que envolvia contato físico com os garotos.

Quando estava com 19 anos, foi convidado para se fantasiar de mulher e sair com um grupo de amigos pra desfilar no Carnaval do centro de Fortaleza. Pediu ajuda a sua mãe, que não estranhou, pois aquilo era costume de Carnaval. Ele, então, se montou e se transformou numa mulher de quase dois metros de altura. Salto altíssimo, vestido longo e maquiagem impecável. Decidiu não usar peruca, deixou seu cabelo natural, bem batido, como deve usar um militar. Foi o dia mais feliz na vida de Zé Tata. Lá foi ele realizado, se sentido uma dama. Porém, na vida, nem tudo são flores e, logo que chegou ao centro, uma turma de machões bêbados resolveram brigar com os rapazes.

- Vamos dar porrada nessas raparigas que não gosto de viado, alguém gritou.

Começou aquela pancadaria. Zé Tatá vinha mais atrás e quando chegou perto viu os amigos dele sendo surrados por um bando de bêbados gritando ofensas. O sangue de Zé Tatá nunca ficou tão quente, deu um grito e partiu pra briga. Eram mais de vinte homens cercando Zé Tatá. O primeiro que chegou perto levou um chute na cara, o salto alto de Tatá arrancou sangue do dito cujo que já caiu semimorto. Os outros, vendo aquele negrão enorme ficaram sem saber o que fazer. Zé Tatá partiu feroz para cima deles, derrubando um por um com socos, pontapés, cabeçadas, pernadas... Quando a polícia chegou, o quadro era de trinta homens no chão e uma bicha enorme, gritando, chorando e batendo em quem chegasse perto. Foi preciso mais de dez policiais para conter a ira de Zé Tatá que foi preso e autuado como agressor e perturbador da ordem pública. Ninguém mais foi preso. Só não foi pior porque o Raimundo, um dos amigos que apanharam, defendeu Tatá.

- Vocês não podem fazer isso, ele foi um herói, salvou nossas vidas. Explicou Raimundo para o delegado.

Zé passou a noite na cadeia e foi libertado no outro dia. Sua mãe ficou muito triste, dizem que, por desgosto, morreu duas semanas depois de enfarto. Zé Tata nunca falava da morte de sua mãe, mas todo mundo sabia que ele se culpava. 

O que ninguém sabia é que no dia que Zé Tatá saiu da cadeia, Raimundo foi recebê-lo. Os dois se olharam e se abraçaram. Zé sentiu que naquele abraço havia mais que amizade. Foram andando e começou a chover muito, para se protegerem da chuva, entraram em um pequeno galpão abandonado. Ficaram ali conversando, até que Raimundo arriscou um beijo na boca e Tatá não resistiu. Era a primeira vez que estava beijando um homem. Ali mesmo fizeram juras de amor eterno.

Após a morte da mãe, Raimundo então foi morar com ele. Todo mundo achou estranho, mas ninguém teve coragem de falar nada. Na intimidade, os dois estavam casados. 
Quando surgiram os rumores de que Zé Tatá e Raimundo tinham se juntado e eram gays, Zé tomou uma decisão para acabar com a fofoca, que deixou Raimundo com medo.

- Raimundo, de hoje em diante, a noite, eu só saio vestido com roupas femininas.
Dito e feito, no intimo era uma vontade de Zé, que achara uma oportunidade. Imaginem o escândalo causado, saiu até na imprensa. Todos conheciam a fama de bom de briga e tinham medo do "Grande Negrão", ninguém falava nada. Sempre que Zé Tatá chegava aos recintos noturnos, todo mundo olhava com admiração e respeito. Muitas vezes ele tinha que usar da força e deu porrada em muito bêbado abusado, tendo sido preso por agressão inúmeras vezes. Raimundo, no início, ficava meio sem jeito, mas ele era apaixonado por Zé Tatá e os dois eram um casal feliz.

Um belo dia, aconteceu uma coisa que Zé chamou de presente. Alguém deixou em uma caixa, na porta de sua casa, um bebê de poucos meses de idade, uma menina. Zé e Raimundo pegaram para criar aquele neném e deram-lhe o nome de Ísis. Os dois cuidavam de Ísis como se fossem mães. No aniversário de um ano, Zé preparou uma festa e chamou os amigos e vizinhos.



Todos foram ao aniversario da menina e levaram presentes caros. Ninguém queria encrenca com Zé Tatá. A menina Ísis, cresceu feliz, aos cuidados destes dois homens. Eles a puseram pra estudar nos melhores colégios da cidade. O tempo passou, Ísis cresceu e formou-se em medicina. "Eram uma atípica família brasileira".

Raimundo morreu aos 70 anos. Zé Tatá viveu ainda dez anos sentindo muita saudade de seu companheiro da vida inteira. Era o sonho dele morar no Rio de Janeiro, em Copacabana e Ísis realizou esse sonho, mudando-se para lá com ele. Sua filha cuidou dele até os últimos dias de vida. 
Zé morreu, no Rio, aos 89 anos de idade, vítima de saudade da vida...

Quando se aposentou, Ísis comprou um modesto apartamento na Rua Figueiredo Magalhães, onde mora até hoje.
Copacabana, 2008"


*A Boate Tabariz ficava na Rua Pessoa Anta, 120, onde mantinha música ao vivo. Foi neste estabelecimento que Zé Tatá obteve maior êxito no ramo, pela exuberância do local e pela grande frequência.


Na Boate Tabariz – Zé Tatá era quem abria as festas, rodopiando no salão, escalando para seu par uma dançarina que bem pudesse representar o cabaré. A escolhida era quase sempre uma certa Francisca ou na falta desta, Das Dores ou Clébia. De repente todos os presentes começavam a dançar com muita animação e o cabaré se inflamava com as músicas de diversos ritmos.


Um aspecto que era rigorosamente observado pelo proprietário, dizia respeito aos frequentadores dos seus cabarés, que se porventura, com ele cruzassem nas ruas do centro de Fortaleza ou no Mercado Central, onde diariamente fazia suas compras, demonstrava que não conhecia, ou simplesmente acenava com o olhar, num cumprimento cauteloso, para não ser notado por outras pessoas nem comprometer o nome e a reputação do cliente.


Conforme Nirez, em 06 de dezembro de 1971, segundo determinação do Secretário de Segurança, todos os cabarés deveriam desaparecer do centro de Fortaleza.
A providência começaria pela Boate Fascinação, à rua Major Facundo nº 152; em seguida, a Boate Elite, na rua Floriano Peixoto nº 225; a Boate Miami, rua Major Facundo nº 170; a Boate Emília, rua Pedro Borges nº 130 e a Boate Zé Tatá, rua General Bezerril nº 150.
Posteriormente sairiam as demais.

Em 09 de agosto de 1973, tem inicio a derrubada de antigos imóveis situados na Avenida Alberto Nepomuceno, no cruzamento com a Avenida da Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, que corre ao lado da 10ª RM, para dar lugar às obras de construção de um dos primeiros viadutos de Fortaleza, que ligará a Avenida Marechal Castelo Branco (Leste-Oeste) à rua Franco Rabelo.
Após sua inauguração recebeu o nome oficial de Viaduto da FEB (Avenida Alberto Nepomuceno, esquina com a Rua José Avelino – antiga Rua Mesquita), mas ficou conhecido popularmente como "Tatasão", alusão ao vulto popular Zé Tatá.


Fontes/Créditos: http://www.recantodasletras.com.br/Autores.com.br/ http://blog.jornalpequeno.com.br/ Livro O Bonde e Outras Recordações de Zenilo Almada/ Portal da História do Ceará - Gildásio Sá



segunda-feira, 18 de maio de 2015

O Curral das Éguas por Descartes Gadelha



Em 1990, o desenhista Descartes Gadelha, trouxe a tona e reviveu o mundo oculto do "Curral" (o "Curral das Éguas") dos Anos 30; do Arraial Moura Brasil dos Anos 40; do "Cinzas" dos Anos 50; do "Pirambú" dos Anos 60; do "Farol" dos Anos 60 e 70; do "Centro" de todas as décadas das do 1900's. Descartes conseguiu captar em suas telas, com coerência e representatividade, a mudança social de cenário do tráfego metropolitano dos anos 70 e condensar os efeitos da "mídia" dos anos 80 e reuniu tudo isso na Exposição "De um alguém para outro alguém".

Segundo Descartes: O termo "De um alguém para outro alguém", foi colhido na década de 60 na Amplificadora Brasil (instalada na região do baixo meretrício chamada "Curral das Éguas", no bairro do Arraial Moura Brasil), popularmente chamada de irradiadora e que prestava importante serviço de comunicação à comunidade.

Era comum ouvir-se mensagens sonoras como estas:

"Esta linda página musical vai de um alguém para outro alguém que está muito arrependido" ou "esta mimosa joia musical é uma solicitação de um alguém para outro alguém que oferece ao seu próprio coração ferido e que outro alguém sabe quem é".

Gadelha narra suas impressões sobre o meio ambiente de prostituição do qual tem referência desde pequeno, quando morava na Castro e Silva, rua circundante da zona considerada promíscua.


Destoando da opinião geral, Gadelha sempre observou os habitantes do curral pelo lado filosófico - como ensinava seu pai - um místico que via naquele lugar um estágio da condição humana ou da evolução de algumas pessoas. Ultrapassada a barreira do preconceito foi mais fácil conviver sem remorsos ou cobranças com as mulheres que sobreviviam das casas de recursos e com a nostalgia de ruas, vielas e casas bem pintadas rodeadas pelo mar, luar, a Estação de trem, a Santa Casa de Misericórdia, o Passeio Público e a antiga Cadeia pública.

Do "Curral das Éguas", Descartes captou a alma das prostitutas, dos bêbados, dos gigolôs e dos agenciadores de garotas que formavam uma grande família uma espécie de tribo urbana a abrigar as mulheres imprestáveis às grandes pensões. Descartes relembra a trajetória percorrida pelas meretrizes nos lupanares. "As prostitutas de antigamente, ao contrário de hoje, praticamente não tinham escolha. Depois do defloramento não seguido do casamento as mulheres eram obrigadas a sustentarem-se e a única opção eram as pensões ou casa de recursos".

Zé Tatá de baiana ajuda seu amigo "Tereza" com os adereços. Carnaval de 1942

A via crúcis seguida pelas "meninas" era guiada, inexoravelmente, pela decadência. "Elas começaram nas grandes pensões como a Fascinação, na esquina da Senador Alencar com Castro e Silva que tinha como marca registrada a música Fascinação na voz de Carlos Galhardo. Outra casa considerada "classe A" era a Hollywood, onde se encontrava as novidades que apareciam na praça. Garotas com 18 anos, recém-acolhidas pela dona da pensão. Da Fascinação e Hollywood as mulheres desciam para a América, Los Angeles ou Califórnia. De lá para o Zé Tatá ou o Oitão Preto, quando as mulheres atingiam 25 anos, já estavam no Curral.
"Esse movimento de decadência e de descida era natural e encarado como inevitável", afirma Gadelha. No Curral, elas arranjavam velhos para sustentá-las até mais ou menos uns 35 anos e, depois disso, tornavam-se cafezeiras, boleiras e executavam pequenos serviços. As prostitutas, segundo a pesquisa empírica, com base na vivência de Gadelha, nunca morriam velhas. "Elas não passavam dos 50 anos, talvez pelas condições de vida, alimentação e, principalmente, pela grande quantidade de bebida que consumiam".
Na hora da morte, conta Gadelha, revelava-se o momento mais fraterno e religioso da comunidade. Quando a companheira não tinha dinheiro para ser enterrada, as prostitutas se cotizavam e iam deixar o dinheiro na seda da amplificadora Brasil que passava todo o dia tocando a Ave-Maria, de Shunbert, na voz de Vicente Celestino. O código era tão perfeito que ao se ouvir a música, todos no Arraial sabiam da morte da prostituta, a ser velada na Capela de Santa Terezinha, construída pelas mulheres-damas, hoje o único marco referencial da extinta comunidade.



A extinção do "Curral das Éguas" e a dispersão de seus moradores foi causada pela expansão da cidade e a construção, na década de 70, da Avenida Castelo Branco, a conhecida Leste-Oeste. Segundo Gadelha, não havia necessidade da destruição do Curral. "O Curral era uma tradição da cidade, o lado romântico e ingênuo da prostituição, muito diferente das casas de hoje".

O fim das vilas e das casas de madeira, papelão ou sacos plásticos, que delineavam o quadro surrealista, digno de Hieronymus Bosch e Peter Bruegel, deslocou seus habitantes para outras regiões da cidade também conhecidas zonas de prostituição como o "Farol do Mucuripe", a Barra do Ceará e algumas ruas do centro. Com o deslocamento, frisou o pintor, foi desmantelada toda a organização social da cidade e houve um estágio de decadência generalizada das prostitutas.

Nos anos 60, não se ouvia falar em cocaína. Usava-se pouca maconha e muito álcool.

Segundo Gadelha a prostituição é fenômeno comum a todas as sociedades. Desde tempos imemoriais. Assim, de antemão, estamos todos redimidos dos currais e faróis que ameaçam com sifilítica pestilência os alicerces morais de nossa civilização ocidental e cristã. Convenhamos, porém, que nós soubemos acrescentar perversos, ingredientes a esse fenômeno social, tornando imoral o que poderia ser apenas amoral.
A prostituição nasce da hipocrisia de famílias ditas austeras, virtuosas, mas que encorajam a iniciação sexual dos seus filhos com criadinhas trazidas do Interior. Nasce do machismo que ainda condena ao limbo, em certos meios, a mãe solteira. Nasce da pobreza absurda em que vivem milhões de brasileiros, amontoados em completa promiscuidade, sem teto, sem pão, sem lei e sem grei.


Antiga rua Santa Terezinha no Arraial Moura Brasil - Demolida para passagem da Av. Leste-Oeste


Descartes mostra a "zona" e também os frutos do seu ventre: os meninos de rua que se atiram ávidos sobre o carro, onde um casal burguês aguarda apenas o sinal abrir para dar as costas novamente à miséria. O desdém da mulher que lê o horóscopo e do seu acompanhante, escondido atrás de escuras lentes, é o mesmo da nossa sociedade.
Diante dos dramas humanos que nos cercam, preferimos mergulhar na quimera do zodíaco, no mundo do faz-de-conta, onde a solução de todos os problemas está escrito nas estrelas. Confrontados em colocar um par de óculos escuros e pisar fundo no acelerador, deixando para trás a cinza, a esquina, o beco, o farol, o curral, ou qualquer outro lugar onde se diz que a mulher leva vida fácil. Ou vida alegre.

DESCARTES GADELHA
(Fortaleza – CE 1943)

Desenhista, pintor e escultor. Participou de importantes mostras coletivas, destacando-se “A Paisagem Cearense”, no MAUC-UFC (Fortaleza – CE 1963), “Pintores do Nordeste”, no Museu do Unhão (Salvador – BA 1963), “Lirismo Brasileiro” (Tel-Aviv 1965), “O Circo”, no paço das Artes (São Paulo – SP 1978) e “12 Artistas de Seis Países Latino-Americanos”, na Casa do Congresso de Angostura (CaracasVenezuela 1982). Obteve prêmio no XIV Salão Municipal de Abril (Fortaleza – CE 1964), nos I e II Salões Nacionais de Artes Plásticas do Ceará e no 1º Salão de Artes Plásticas do BNB-Clube, todos em Fortaleza (CE), nas décadas de 70 e 80. Individualmente, realizou diversas exposições, destacando-se em importância: Galeria Goeldi (Rio de Janeiro – RJ 1966), Galeria Samambaia (São Paulo – SP 1968), Instituto Goethe (Salvador – BA 1974) e as expressivas mostras “Catadores do Jangurussu”, no MAUC-UFC (Fortaleza –CE 1986), “De um Alguém para Outro Alguém”, também no MAUC-UFC (Fortaleza – CE 1990) e a mega-exposição “Cicatrizes Submersas” – com mais de 100 pinturas a óleo de média e grande dimensões, além de esculturas, cerâmicas, gravuras e desenhos, retratando a saga do beato Antônio Conselheiro nos sertões do Nordeste do Brasil e seu epílogo em Canudos -, realizada no Palácio da Abolição (Fortaleza – CE 1997) e posteriormente, em 1999, na reinauguração do Museu de Arte da UFC, local onde as obras se encontram, incorporadas ao acervo do museu por doação do próprio artista. Numa linguagem expressionista, Descartes Gadelha retrata em sua obra a cultura, a religiosidade e os problemas sociais comuns ao Ceará, sua terra natal, e ao Nordeste do Brasil.

(Fonte: Firmeza, N. & Montezuma, L. Dicionário das Artes Plásticas do Ceará. Fortaleza: Oboé, 2003)

Crédito: http://www.mauc.ufc.br/
Telas: Descartes Gadelha



quinta-feira, 14 de maio de 2015

O Curral das Éguas


Rua Franco Rabelo, que hoje fica no leito da Avenida Leste-Oeste. Lá se concentrava o baixo meretrício, um tipo de cabarés da mais baixa classe. Arquivo Nirez



"Fortaleza viveu um triste episódio em seu passado, que deixou marcas de discriminação em sua história. Foi a criação do Curral das Éguas - a Cinza, para onde foram mandadas, por força policial, todas as prostitutas do Centro da cidade. A Cinza, ficava na descida da Rua Franco Rabelo, no morro achatado que fica defronte ao Marina Hotel.
Ali, algumas ruas foram arrancadas para a construção da Av. Leste-Oeste. Morar na Cinza, era o equivalente a viver entre marginais, drogados, prostitutas, ladrões e gatunos. Sim, também existiam pessoas de bem, como em qualquer local, mas o lugar era conhecido e descrito com o portal do inferno.
Ao tempo que a Cinza foi criada, foram também, as Pensões Alegres, onde prostitutas - jovens em flor - passaram a habitar. Eram instaladas por seus amantes no segundo andar dos casarões do Centro, que ficaram desabitados, quando a burguesia que ali residia, mudou-se para a Praia de Iracema, Jacarecanga e Gentilândia, os novos bairros nobres da cidade."


O "Curral das Éguas", era onde mancebos despertados pela sexualidade se entregavam ao amor da "Mulher do Fado".

O "Salão Bola Preta" do carioca Almada tinha características próprias e idênticas aos salões de dança do Rio de Janeiro, embora com proporções desiguais; mesmo assim, "odaliscas" mais saltitantes se esbaldavam aos sons de instrumentos de percussão, de sons metálicos e sopro (trompete, trombone de vara e saxofone), cuja harmonia ressoava os mais afinados tons com acompanhamento da sanfona (acordeão). Bailarinos, com passos singulares e acrobáticos, arremessavam as "damas da noite" para o alto, com grande destreza e malabarismo, causando aos espectadores espetáculos circense pondo em prática libações em profusão contagiantes, nos copos de vinho.

O salão despertava arrebatadora atenção dos frequentadores, cujos rodopios entre casais traduziam-se no compasso do samba ou qualquer ritmo dançante, verdadeira apoteose infindável entre pares com admirável exuberância entre os mesmos. A música entoada nos diversos tons sonorizava com o menestrel da noite no clarão da luz de combustão de carbureto previamente ligado com antecedência, para iluminar o embalo da orquestra, nos intervalos da mudança dos ritmos e musicas previamente ensaiadas para execução e, deleite dos frequentadores do Curral das Éguas, lugar de fascinante orgia sem tempo para terminar os momentos de prazer, suspirado por desejos incontidos nos salões dançantes do famoso prostíbulo.

Dos mais longínquos recantos do Ceará, os sertanejos que por aqui nunca vindos ficavam deslumbrados com aquela paisagem cheia de aventuras, efusivos momentos com as "mariposas" que repentinamente os atraia com afagos e, da mais inesperada candidez esquecendo por algumas horas a crueza do torrão natal de agruras e solidão, distante do canto da cauã, bem-te-vi, galo de campina, rouxinol, canários, graúnas, curió, entre outros que embelezam a natureza.

Esta era a delegacia da Rua Franco Rabelo, antro de prostituição que foi absorvido pela Avenida Leste-Oeste. Ficava entre a travessa Baturité e a Praça do Cristo Redentor. 
Arquivo Nirez

O "Curral das Éguas", por ser lugar de baixo meretrício, era mantido por severas ordens policial, do delegado Rodrigues e Comissário "Chico da Usina" que ajudava na manutenção do respeito às "borboletas noturnas", fazia a vigilância ostensiva do baixo meretrício até alta madrugada quando os parceiros se aproximavam para "forrar" o estômago com panelada ou suculento caldo preparado das vísceras do boi para substituir outro tipo de jantar.

O respeito à ordem pública mantida por Delegado Rodrigues, previa de tamanha segurança, para evitar desmandos e arruaças comuns nos ambientes onde impera a prostituição e excessos de bebidas alcoólicas ingeridas muitas vezes às escondidas fora dos horários permitido por ordem da Secretaria de Segurança Pública.

A foto é de 1958 e esses casebres que vemos, na época eram chamados de "mocambos" (invasões de terras). Acervo Lucas Jr

O público

O jocoso é que certos comerciantes, no seu jeito astuto para burlar a lei, colocavam, nos "bules de café", cachaça, para vender nas xícaras de café às escondidas... Bebiam como se fosse café ingerido sem direito a fazer "cara feia", de quem bebe álcool... Sem direito a tira-gosto, servia com rapidez, demonstrando como se estivesse bebendo café... Era verdadeira Lei-seca.

Essa proibição caso desobedecida e se pegado em flagrante, iria parar no xadrez até o dia seguinte, quando era liberado relaxado o flagrante se encarregava de higienizar o local da carceragem onde dormira com os demais infratores.

Espaço emblemático

O Salão Bola Preta do carioca Almada era o mais importante salão de dança do Curral das Éguas. Com coreto de madeira fixado na parede do mesmo, onde comportava 8 (oito) figurantes com instrumentos de "pau e corda" e sopro, abemolando. O som volatilizado com reduzida luz do gás de carbureto se expandia por todo o salão onde "mariposas" saltitantes faziam acrobacias corporais com parceiros metidos a almofadinhas imitavam as "danças carioca" arremessando as "horizontais" para o alto, amparando-as com as mãos na cintura num eterno rebolado de sons e balanceios harmonizados pelos remelexos das cadeiras e quadris, digno de ser apreciado. Outro salão também famoso e mais antigo do baixo meretrício era o "Salão Azul" de propriedade de José Vitalino como era conhecida tal figura. Cidadão de idade avançada, que vivia de alugar ou arrendar prédios no Arraial Moura Brasil, para explorar o ramo de salão dançantes e bar.

Ali também era mais um espaço do lenocínio da cidade de Fortaleza nas décadas de 40, 50 até 1960, quando se iniciou a transferência do mulherio para a praia do Farol, Cais do Porto, Mucuripe, Serviluz, Castelo Encantado e adjacências. O imóvel, adaptado a esses fins, tinha entrada amparada por cabine ou caixa, onde era cobrado o ingresso para ter acesso ao salão quando iniciasse a contradança com a "dama da noite" à espera dos participantes do forró, cujos trajes sumários atraiam os que ali se dirigiam para demonstração dos ritmos, samba, foxtrote, rumba, bolero, samba-canção, valsa e o mais afamado tango - um dos ritmos mais apreciados à época.

Zenilo Almada

Quem recorda?

Bar da Alegria
FascinaçãoBarba azulSenaforzão, Flores Perfumadas, Galeria do Amor, Cabaré da Mãe Tônia, 90,  Zé bombom, Cabaré da Leila, Renascença ClubeUberlândia, Cabaré da Chaguinha...



Fonte: Zenilo Almada (Diário do Nordeste)



sexta-feira, 8 de maio de 2015

Corta Bunda - Os Maníacos que aterrorizaram o José Walter


Conjunto José Walter, cenário dos ataques dos corta bundas.

Em meados dos anos 80, o conjunto habitacional Prefeito José Walter foi tomado pelo medo do ataque de um maníaco que cortava a bunda das mulheres.

Quando um homem armado com uma lâmina começou a invadir as casas do Zé Walter para traçar uma linha de sangue nas nádegas femininas, o resto da cidade não pôde mais ignorar aquele pedaço de Fortaleza. Entre 1985 e 1987 , os crimes do Corta-Bundas ocupavam espaço frequente nos jornais da Capital.

Conjunto José Walter
um dos bairros mais populares de Fortaleza, com suas ruas estreitas e numeradas, foi construído em 1970. A primeira etapa do conjunto habitacional foi inaugurada em 1969 e recebeu o nome do Prefeito de Fortaleza, José Walter.

Em 1985, um maniaco psicopata começou a atacar mulheres (adultas e crianças), ele não matava, não roubava e nem abusava sexualmente das suas vitimas, apenas fazia um corte profundo com navalha, estilete ou bisturi na região das nádegas. 


Acervo Jansen Viana (Clique para ampliar)

Ele colocou pânico e fez diversas vitimas durante dois anos, de 1985 a 1987. Foram mais de 70 mulheres atacadas, mas apenas três formalizaram a queixa e constaram no processo contra ele. 
O corta bundas deu muito trabalho para a policia que não conseguia pegá-lo e muito menos identificar o agressor.


Ocasião da prisão de Evandro em 06 de fevereiro de 1987

Apenas em 06 de fevereiro de 1987, a policia consegue capturar Francisco Evandro Oliveira da Silva de 26 anos.
Preso e reconhecido, Evandro confessou os crimes e acabou morto no Instituto Presídio Professor Olavo Oliveira (IPPOO) pelos próprios presos.

 Acervo Jansen Viana (Clique para ampliar)

Bom, mas antes de Evandro ser preso e identificado como o corta bundas que estava aterrorizando o José Walter e colocando toda a população em polvorosa, outros também foram presos e apontados como o maníaco.

Foto ao lado: Evandro tinha em seu poder instrumentos cortantes. Acervo Jansen Viana.

Em 12 de outubro de 1986, Aparecido dos Santos Reis, foi preso e identificado como o marginal que estava cortando as nádegas de mulheres e crianças.

Os Maniacos corta bundas que aterrorizaram o José Walter


Relato Minucioso de Aírton Lopes, então Comissário de Polícia, que fez parte da equipe responsável pelas prisões na época. Leia na íntegra AQUI

12 de outubro de 1986 - 10:00hs. 
Dia das Crianças e Momento de Campanha Eleitoral
Contada pelo Líder Comunitário Airton Lopes, na época Comissário de polícia, que trabalhava na Sétima Delegacia Distrital.
Prisão efetuada pelo comissário e pelos soldados Írio e Leonardo da PM/CE. Posto a disposição do Comissário pelo Tenente Gondim do Coe.

"No dia 12 de outubro de 1986, o comissário de polícia civil Airton Lopes, que trabalhava na época no 7º Distrito Policial, bairro Nossa Senhora das Graças, e os soldados da polícia militar: Írio e Leornardo, na época integrantes do COE, um morava no conjunto José Walter (Írio) e o outro morava no Conjunto Industrial (Leonardo). Eles prenderam o segundo corta bundas (o primeiro foi Mc Donald) do José Walter, Aparecido dos Santos Reis, vulgo “Topo Gigio”. Em sua casa, na hora da prisão, foram encontrados: uma peruca loira, um estilete e uma substância negra, tipo uma graxa (ele usava no corpo para ficar liso). Materiais usados na prática dos crimes. Dentre suas características físicas, ele tinha uma tatuagem de sereia no peito direito. Ele cortava as vitimas com um estilete e emendava o ânus com a vagina. 

O primeiro corta bundas que se tem notícia, foi Luiz Donald Uchôa Félix, vulgo “MC Donald, filho de um motorista policial da SSP. Mc Donald” cortou várias bundas, mas como ele nasceu no Conjunto José Walter, foi fácil para as vítimas o reconhecerem. Após investigações, o pai de uma das mulheres de Mc Donald encontrou uma carta nas coisas de sua filha e entregou ao comissário Aírton Lopes e este entregou ao Dr. Vicente Ferreira, delegado do 8º Distrito. O comissário descobriu que Mc Donald estava morando em Brasilia-DF, no bairro da Ceilândia, trabalhando numa oficina mecânica. A polícia daqui entrou em contato com a de Brasilia, que o prendeu e o transferiu para Fortaleza de avião. 
Enquanto ele estava foragido, apareceram outros corta bundas. O segundo, “Topo Gigio”, começou a praticar o mesmo crime, no intuito de inocentar o primeiro. Com a prisão do segundo (Aparecido dos Santos, o Topo Gigio), surgiu um terceiro, chamado Evandro
Eles negavam a autoria dos cortes. Apresentamos as vítimas do tarado “Topo Gigio” e as investigações só chegavam na mãe de "MC Donald" (Dona Mirtes, já falecida), como mandante. 
Presa por tráfico de drogas, D. Mirtes negou que houvesse contratado Topo Gigio e Evandro para cometerem os crimes e assim, forjar a inocência do filho. 

Prisão do corta bunda Evandro - Jornal O Povo
(Clique para ampliar)

 As vítimas de Evandro - Acervo O Povo

O terceiro corta bundas, Evandro, foi morto no Instituto Penal e o acusado de matá-lo foi o elemento conhecido por “fonfon” que estava preso no IPPOO, e era "de dentro" da casa de D. Mirtes, caracterizando uma queima de arquivo
Tanto um quanto o outro, sempre negaram que fossem o corta bundas ou que a mãe de Mc Donald os havia contratado. 
A verdade é que as vítimas estão por aí, para contar as suas tristes histórias... 

Observações: Os três tarados (maniacos) do José Walter, as vítimas e os policiais, moravam no conjunto e se conheciam, todo mundo conhece todo mundo, por isso foi fácil chegar até eles.
Nós, moradores do conjunto, não dormíamos, uns pastoravam os outros. A gente trocava a noite pelo dia, era um inferno!

Acervo Jansen Viana

Acervo Jansen Viana (Clique para ampliar)

Quando "MC Donald" sentiu que tinha sido descoberto, ele fugiu. O problema, é que mesmo estando foragido, os cortes continuavam, foi aí que os policiais chegaram no segundo tarado, o “Topo Gigio”.  Preso o Donald e o Topo Gigio, os ataques continuaram. Foi então que chegamos no Evandro, que foi reconhecido por Dona Berenice, que aliás, não sofreu o ataque, ele apenas entrou, passou uns 10 minutos no interior de sua casa, bebeu água e foi embora. Na casa estavam dona Berenice e sua filha menor. 

Na época da prisão, os três policias conversaram com a mãe de Evandro, e esta estava preocupada, porque Evandro andava estranho e endinheirado. 

Foto ao lado: Corta bunda Evandro

Certa vez ele disse para mãe: -Mãe eu estou fazendo uma coisa errada, mas, deixa para lá. 
"Evandro não era sadio da mente. Houve uma noite em que Berenice estava sentada no portão de casa, quando de repente, Evandro vinha pilotando uma bicicleta sentado no guidom da mesma, foi quando ela me procurou na casa de minha sogra, que era a uns 2 quarteirões e esta mandou que Berenice ligasse para o oitava Distrito Policia (Delegacia do Conjunto) o que foi feito e Evandro foi preso no “pedim”, um trailer antigo na segunda etapa."

Acervo Jansen Viana (Clique para ampliar)

Acervo Jansen Viana (Clique para ampliar)

Acervo Jansen Viana (Clique para ampliar)

Topo Gigio, deu trabalho para ser preso, pois foram meses de investigações, chegamos a conversar com a mãe do Mc Donald, D. Mirtes, pedindo que ela nos entregasse o seu filho que nós o levaríamos para um hospital mental.

Mc Donald e Topo Gigio, continuam morando no conjunto, bem como as vítimas: Sulamita da Silva e Carla Cândido Cavalcante, Tereza Maria Alves (Terezinha) e Maria das Graças Pereira. O acusado foi reconhecido por quatro vítimas. Duas testemunhas no 8º Distrito Policial e uma testemunha, que eu não posso revelar seu nome, e que morava no Barracão, reconheceu Topo Gigio, pois ele tentou entrar na sua casa.
A manchete do Jornal O Povo do dia 14 de outubro de 1986, trazia:
''Preso um dos tarados do conjunto Zé Walter”

Como ocorreu a prisão:
Às 10 horas do dia 12 de outubro de 1986 para prender o tarado, fingimos estar fazendo campanha, pois era época de Campanhas Eleitoral
O comissário saiu num carro com duas vítimas de Topo Gigio com a finalidade de reconhecer o tarado. Num outro carro, estavam os soldados e uma senhora que iria entregar ao Topo Gigio uma carteira de identidade civil, que ela havia tirado e que havia prometido um emprego e que os dois soldados seriam os patrões. Quando Topo Gigio saísse para falar com os soldados, as vitimas o reconheceria, deixariam cair os papeis no chão, e essa era a confirmação de que era o tarado. Isso foi feito, foi dado voz de prisão e ele foi conduzido para uma Companhia de Policia Militar na Maraponga, evitando assim um linchamento."

Airton Lopes (Líder Comunitário e Ex-Inspetor de Policia)
São Gonçalo do Amarante, 28 de setembro de 2010


Acervo Jansen Viana (Clique para ampliar)

Acervo Jansen Viana (Clique para ampliar)

Como vimos, há quem diga que Evandro (o mais "famoso" e que pagou com a vida pelos crimes que cometeu) não era o 'verdadeiro' Corta-bundas. Ou pelo menos, não o único. O mito prossegue no imaginário do bairro...




Fontes: Livro "Corta bunda - O Maníaco do Zé Walter" de Jansen Viana, Blog Jairton Lopes e diversas pesquisas




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