Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

sábado, 3 de dezembro de 2016

Memórias de menino - O descanso da Vila


Inicio da então rua José Bastos, avenida onde fica a Escola Sales Campos.

Era tardinha. 
Chegávamos do Grupo Escolar Sales Campos* e ao atravessarmos a linha férrea de Sobral, podíamos ver por detrás da firma Machado Araújo a frouxa e amarelada luz do astro rei, espalhando seus últimos raios, se despedindo do dia que nos deu. (Graças a Deus!). Na Vila São José era uníssono nos aparelhos receptores de rádio, o som da banda de Oswaldo Borba na execução do frevo 'Aguenta o Cordão' de Livino Ferreira, que havia sido gravada para o carnaval de 1960. Era Wilson Machado no microfone da Pre-9 se despedindo no programa Disque M para a Música.

Outro ângulo da José Bastos. Esse cidadão na foto é o François (Françoá), tipo popular do bairro pelo "Famoso Caldo do Françoá. Ele dizia: "Venha tomar do meu caldo que é que nem raiz de benjamim, levanta até calçamento". Entre seus clientes, estava o saudoso radialista Jurandi Mitoso.


Vemos o Muro da Extinta Firma Machado Araújo e o Centro de Saúde Carlos Ribeiro.
  
Em seguida viria Ulisses Silva, também já falecido, com o Alô Sertão com a voz caricaturada do Coronel Ludgero. O dia enegreceu. Após trocado de roupa, abandono de material escolar e tomada de café Baturité com tapioca... Rua, para brincar. Não precisa estudar medicina para compreender que quando o corpo está em movimento, a mente fica em repouso. Só bastava o primeiro demonstrar prontidão e a meninada já estava reunida. A lua aos poucos fazia um lindo desenho, saindo em forma de grande bola de prata por detrás dos galpões da Fábrica São José, gerando um espetáculo quando a chaminé da usina fazia uma linha preta no calçamento na rua Central da Vila, a rua Coronel Philomeno. Tinha o pula pula imaginário naquela sombra, por a companheira das noites que brinca com as estrelas ali fazia, enquanto ali ficava. Eram poucos os aparelhos de televisão para sintonizarem a TV Ceará Canal 2 dos Diários Associados, fazendo com que tivessem mais gente nas calçadas. E tome a vida alheia!!! Os portes de madeira de lei carregavam a fiação da Conefor (Coelce-ENEL) e, a cada esquina uma arandela triste com lâmpadas incandescente de pouca potência. As bodegas do seu João Lima Passos, do Assis do Gás e seu Dioclécio fechavam as 20h, ficando em funcionamento modo industrial a padaria do Seu Augusto Português

Curva da Vila São José

Os padeiros entravam de noite à dentro, porque uma rural Willys partia às 4 hs para abastecer a Padaria Triunfo, que ficava baixos do edifício do mesmo nome, na rua Liberato Barroso, Centro de Fortaleza. Nas avenidinhas (Praças da Vila) tinha o trinta e um na manja; passarinho ninho cobra no buraco; mamão pobre mamão maduro; Eu sou pobre demavé mavé; Barra Bandeira etc...Aos perdedores um tremendo sabacu. O que era interessante é que ninguém se intrigava por essa punição. Isso fazia parte do ritual travesso. Minha mãe com os ouvidos aguçados nas Radionovelas através de um Semp valvulado tipo Cara de Gato, e meu pai no programa do Themístocles de Castro e Silva "Quando a Saudade Apertar" num radinho a pilha cochilando sob a fresca da noite na calçada. Ele não gostava de dividir sua audição com conversas paralelas, até porque naquela época os programas de rádio tinha conteúdo. Hoje eu tenho vergonha até de dizer que sou radialista. - Meu Deus! Dez da noite. Papai só bastava se perfilar na Praça e negro chega batia os pés na bunda na carreira pra casa. Tomávamos banho e aí era que íamos para o jantar. Talvez minha mãe queria até se deitar, mas não podia porque ainda tinha sua última tarefa (como se fosse poucas as do dia), em nos alimentar. Não tínhamos ideia deste sacrifício dado aos nossos pais. 
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Sentido inverso

Vila São José

Sabe amigos, só com o passar do tempo é que percebemos que a vida é uma colheita. Nossos filhos hoje muitas vezes nos desobedecem, e aí nos lembramos de que isso é uma dívida que a infância deixou em aberto. Bom todos em casa e já as redes armadas! Ainda íamos contar histórias/estórias até as onze e aos poucos adormecíamos. Era assim que a Vila São José dormia. Tamanho era o silêncio que ouvíamos alguns vizinhos mais corujão ainda ouvindo a musica Acalanto de Dorival Caymmi, que era o sufixo da TV Ceará no fechamento e mais: quando a maré estava cheia se ouvia o Marulho das Vagas na Praia do Pirambu. Por baixo da porta de entrada de nossa casa, um clarão como se fosse um relâmpago em noite chuvosa. Não e não. Era a lua já bem alto no Céu, emitindo sua claridade para não deixar nossa rua na solidão.

Assis Lima
(Radialista/jornalista)

Gif

*Inaugurada em 17 de fevereiro de 1952, com o nome de Escolas Reunidas Sales Campos, no governo do Dr. Raul Barbosa, sendo Secretário de Educação o Dr. Waldemar Alcântara. Funcionava na rua São Serafim, S/N, no Bairro Nossa Senhora das Graças (Grande Pirambu).


Em data de 6 de novembro de 1954, por ato do então Governador do Estado, Dr. Stênio Gomes da Silva a Escola foi elevada à categoria de GRUPO ESCOLAR e passou a funcionar na rua Jacinto de Matos, 730, atualmente Av. José BastosJacarecanga.

A Escola hoje, conta com um total de 512 alunos, distribuídos em dois turnos: manhã e tarde com o ensino fundamental e médio. São 28 professores, 12 funcionários (agentes administrativos, auxiliares administrativos e pessoal de serviço); e um Núcleo Gestor composto de uma Diretora, duas Coordenações e uma Secretária.

Seu espaço físico na época era pequeno e contava apenas com 8 salas de aula, Sala da Direção, Secretaria, cozinha e banheiros masculinos e femininos.
Hoje, são 10 salas de aula, Sala da Diretora , Sala da Coordenação,1 Centro de Multimeios, Sala dos Professores, Secretaria, banheiro dos professores e funcionários, banheiro dos alunos, Almoxarifado, Banco de Livro, Depósito de material, Depósito da Merenda, Cozinha, dois pátios, Sala do Grêmio e Laboratórios de Ciências e de Informática.



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sábado, 26 de novembro de 2016

A vacaria do velho Alves e o riacho Jacarecanga



Mansão de José Pinto

Dentre os points da gurizada da Vila São José do meu tempo, o mato verdejante sob o espetacular voo da garça branca ao lado do riacho Jacarecanga, pela passagem sob a ponte da rua São Paulo/Monsenhor Dantas, servia de uma espécie de acampamento. A improvisação do local era à sombra de uma grande goiabeira ladeada ao muro da mansão de Acrísio Moreira da Rocha e outra com vários degraus que ficava pela avenida Francisco Sá (Foto ao lado), que era da família de José Pinto do Carmo. Era riquíssima a flora no entorno do então belíssimo riacho. O coqueiral era intenso, mas ninguém tinha coragem de subir, até porque um militar dos bombeiros nos assombrou dizendo: “O menino que subir nesse pé de coco vai parar no Juizado de Menor”


Na realidade aquele homem queria era nos proteger de possíveis acidentes, porque menino não tem noção dos perigos. Ora o Glauco cueca lá na goiabeira deslizou e fraturou um braço! 

(Ao lado, casa de Acrísio Moreira da Rocha).

Defronte ao nosso Quilombo (liberdade de casa kkkk), observa-se a Vacaria do Seu Alves. Um velho careca com orelhas avantajada, e tinha seu curral com sua criação em número de 30 cabeças. Ela ficava ao nordeste do riacho, e era um concorrente dos laticínios Maranguape e Cila. Tudo lá era caseiro, mas de boa qualidade. Um fato inusitado era uma espécie de rancor ou tom, sei lá, nós tínhamos era medo do velho!!! - “Mil”. Referia-se a nota amarela de Pedro Alvares Cabral. Era assim que ele respondia aos que perguntavam pelo preço do litro de leite. Nunca foi visto os dentes daquele homem, que já beirava os 70 anos. 

"Era ao lado do galpão que ficava o matagal que era nosso quilombo." Assis Lima


Construção da ponte em concreto sobre o riacho Jacarecanga. "Antes de ser aterro sanitário e fábrica de muriçocas." Assis Lima

Construção da ponte em concreto sobre o riacho Jacarecanga. 

Aquele pedacinho do Jacarecanga tem muitas histórias, mas não são coisas que contamos, e sim que a topografia e edificações ratificam. O verdadeiro arquivo é sua etnologia sob a égide topográfica. Quem já ouviu falar no Lazareto de Jacarecanga? Pois bem, no canto noroeste e estamos falando do riacho, ficava uma caixa d’água em ruinas e por detrás um cacimbão. Após conversa com ex-provedores da Santa Casa de Misericórdia, aquela era o recurso hídrico para o Lazareto. Portanto todos passam despercebidos por ignorância. Eu fui uns dos que contemplaram no inicio da década dos anos de 1970, quando da construção da Autoviária São Vicente de Paula, que era na avenida Francisco Sá quase defronte ao SAPS, vi várias ossadas humana. A garagem de ônibus do Seu Carlos, sogro do cantor Vilemar Damasceno, foi erguida no Campo de Baturité que no primeiro quartel do século XIX havia funcionado ao lado da futura Cajubraz, o Lazareto. O quadrilátero para o leitor compreender melhor era: Ao Leste rua Adriano Martins; Sul rua Adolfo Campelo; Oeste Dona Maroquinha e ao Norte rua Monsenhor Dantas. Voltando... À noite, para nós meninos, era aquele local um terror. Mas durante o dia e pela manhã, com cuidado, ainda se podia tomar banho, pela aparente limpidez das águas correntes. Pescávamos por hobbie. Quando chegou no “Morro do Ouro” a Cobica, fábrica que trabalhava com beneficiamento de castanhas de caju, começou o desastre ambiental no riacho. Os peixes foram desaparecendo, e com a proliferação de moradores nas beiradas com ligações sanitárias para o mesmo, morreu o resto. Ainda bem que crescemos! Um muro hoje apagou literalmente a paisagem, tendo agora um residencial antagônico ao exórdio, ficando no lendário dos cinquentões que ali brincaram, as lembranças. Qualquer local traça seu próprio destino, obedecendo às transformações paisagísticas ou sociológicas. É pena que nem todos são sensíveis ao seu passado, ou no engasgo da realidade atual, não sabem contar...


Leia também:

Morro do Ouro - O morro sem ouro



Colaborador: Assis Lima

Ex-Ferroviário, Assis Lima é radialista e jornalista.
Idealizou e mantêm o Blog Tempos do rádio



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terça-feira, 22 de novembro de 2016

Ordenamento urbano e a saudade...




A cidade de Fortaleza surge em meio a percalços, quando arruadores, agentes municipais eram incumbidos do cumprimento, fazendo realidade o Plano Diretor deixado por Antônio José Silva Paulet, conforme registros da administração do Senador Alencar (1834-1837), a quem a cidade deve imensamente, estava atribuída também à fiscalização do Presidente da Câmara, o Boticário Antônio Rodrigues Ferreira. O mesmo colocava a filantropia em primeiro e, política em segundo. 
Morando em um casarão, quando em Fortaleza chegou, sua casa que era de três portas, não dava para atender a demanda de pessoas enfermas, e foi com esses méritos que o mesmo já havia caído na graça do povo. A Fortalezinha crescia e se urbanizava com hercúleo esforço. A Capital da Província praticamente ficou plana, apesar de ser erguida sobre morros. A rua da Amélia (Senador Pompeu) das areias na Praia Formosa vai à tangente até as primeiras serras na hoje Região Metropolitana. 

Rua Senador Pompeu em 1940. Arquivo Nirez 

Praça do Ferreira em 1910. Destaque para o Café Iracema.

Nós fortalezenses tivemos a felicidade de ter edificações, mesmo passada por modificações as mais diversas. Tomou a feição dos arquitetos e da edilidade logo em suas primeiras casas quando foram feitas. No sentido de acomodação sempre obedeceu uma estética, devido a traçados dos arruadores primitivos. Do chamado coração da cidade (Praça do Ferreira), observam-se as quadras de ruas que foram elaboradas por Francisco de Paula e Adolfo Herbster, e as pessoas nos dias de hoje passam despercebidas pelo Centro fazendo compras, com cuidado nas bolsas e objetos manuais e/ou então reclamando da notória promiscuidade, principalmente da Praça José de Alencar, cujo patrono vive sentado por se tratar de um logradouro que não tem sossego. 

Antigas edificações de Fortaleza

Já é tempo da Gestão Municipal de Fortaleza, juntamente com o Estado tomarem providências quanto ao rejuvenescimento desses locais, senão o Centro vai morrer. Aí minha mente volta para minha VILA SÃO JOSÉ, em que alcancei muitas quadras ajardinadas que o Coronel Philomeno, talvez em suas andanças pelo Passeio Público, resolveu dar como lazer duas pracinhas dentro da própria Vila aos seus inquilinos. Nós a chamávamos de Avenidinhas, em numero de duas. O matagal ainda existia noutras quadras não divididas, e tinha o Campo de Baturité para partidas de futebol de subúrbios (ainda assisti partidas entre Usina São José X Usina Ceará, Messejana X José de Alencar, dentre outros). Tivemos um lado de infância selvagem, pois, até nossa comida era feita no local, tendo como combustível cascas de castanhas que levávamos para os matos, oriundas da lixeira da Caju do Brasil - Cajubraz, que subtraiu nosso espaço em 1966. 

Vista da cidade no início dos anos 40.

A cidade e seu traçado. Nesse postal, temos uma vista aérea parcial do Benfica nos anos 30, com destaque para a Avenida da Universidade (à direita). 
Acervo MarcosSiebra 

Restaram as quadras do Bar do Seu Telles com vários pés de Jurubeba, cujas raízes fazíamos lambedor para não gripar. Olhando para o Oeste e na diagonal uma estrada para pedestre que nos conduzia a Casa Machado e a mercearia do Seu Abelardo, point da bebida Blimp, Crusch e Grapette. Depois meu pai me dava umas porradas. Era fiado na conta dele. Hoje, chego à Vila e a impressão é que estou noutro local nunca visto. Casas diferentes, as ruas estreitaram e as quadra todas ocupadas, sem nada para apreciar. A infância passa rápido, a mocidade é transitória. Agora é se preparar para a velhice, afinal, quando ela chega é permanente. Todos querem envelhecer, mas ninguém quer ficar velho. Cada coisa pertence ao seu tempo, só restando evocar as ultimas palavra de José de Alencar no romance Iracema: “Tudo passa sobre a terra”.


Leia também:

Ruas e praças de Fortaleza


Colaborador: Assis Lima

Ex-Ferroviário, Assis Lima é radialista e jornalista.
Idealizou e mantêm o Blog Tempos do rádio


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domingo, 6 de novembro de 2016

Jacarecanga - Até seu solo faz história



PRÉ-HISTÓRIA DA VILA SÃO JOSÉ NO JACARECANGA 

A mata verde e viçosa ornamentada pelo espetacular voo da garça branca era cortada pelas límpidas águas do Rio Jacarecanga, que descendo como afluente das Serras de Pacatuba e Maranguape, ia desaguar na praia do Pirambu, nas terras que pertenceriam aos Moraes Correia. A única interferência do curso destas águas era um morro que, topograficamente localizado segundo manuscritos do Ceará Colonial, em local onde passa a Via férrea. Lenda ou não, a Sesmaria levou o nome de Jacarecanga de onde se extrai Jacaré + Canga= Cabeça de Jacaré, do Tupy Guarani. A história ou estória narra que os indígenas faziam canoagem ou a nado, diziam: “Vamos para a cabeça do Jacaré”, que era o morrinho no centro das águas. O liquido precioso era volumoso e profundo, com perfeitas condições para caça e pesca.

Avenida Francisco Sá

Largo do Jacarecanga - Praça Gustavo Barroso (Do Liceu)

A vegetação era do tipo flora alimentícia. Acredita-se que os indígenas remanescentes de Jacaúna plantavam lavoura de sobrevivência. O manguezal, cajueiros, Oiticica, Juazeiro, pé de mamão, graviolas e o pastoreio (animais de serviço como cavalo, jumento não fazem parte da fauna brasileira). A partir de 1700, começaram as invasões e aí a história tomou outro rumo, aí sim apareceu animais de serviço e domésticos. Os nativos ou viravam escravos ou eram exterminados pelos famigerados exploradores (não chamo de colonizadores). A primeira coisa que fizeram foi recrutar via escravidão, os indefesos contra armas de fogo para trabalhos forçados. Aí o meio ambiente começou a sofrer impacto ambiental. A primeira via construída no Jacarecanga Colonial, foi a carroçável Estrada do Jacarecanga ligando o litoral a uma primitiva Taba que, após ser destruída como se fosse uma espécie de quilombo, se chamaria Largo do Jacarecanga (hoje a Praça Gustavo Barroso, do Liceu). Lá começou a se estabelecer as famílias de posse. Depois, os ancestrais do Coronel Antônio Joaquim Carvalho se empolgaram e abriram também com mão de obra escrava outra artéria ligando suas terras também a esse Point da Nobreza. Era a Estrada do Urubu, que fora aproveitada a partir de 1815 para as construções dos Lazaretos de Jacarecanga e Lagoa Funda. É atualmente a Avenida Francisco Sá. Esse foi nos primórdios o primeiro atravessamento que sofreu o Rio Jacarecanga, com a presença de alvarengas para oferecer condições de travessia de carroças e charretes, e o cocheiro que se virasse, pois, o Coronel nem se mexia. A história remota assim.

 
Avenida Filomeno Gomes

Avenida Francisco Sá

O Jacarecanga foi explorado e a posteriori provou que sempre existiu a Aristocracia e o Proletariado. Vocês já repararam que os casarões da Avenida Philomeno Gomes e Francisco Sá já respiraram ar de Belle Époque? Assim como existe duas Fortalezas, existem dois Jacarecangas. O tempo tem resposta pra tudo, mas foi o Rio que fez com que percebêssemos tudo isso. A parte alta é a lembrada, porque somos quando estamos. O Coronel Philomeno Gomes adquiriu essas terras no primeiro quartel do século XX. Homem visionário, apesar de rígido com seus subalternos, construiu a Fábrica Gomes & Cia Ltda em concomitância com a Vila operária. A Usina São José na parte alta e a Vila na baixa, cujas conclusões datam de 1926. Agora, convém salientar de que originalmente a Vilazinha não era essa que lá está. A Vila São José no exordial era umas casas formando um L, ou seja, as Ruas Maria Estela e Isabel. Ficou muita vegetação nativa, com uma arborização impressionante. O lençol freático era cristalino e tinha um chafariz (o primeiro) onde em 1917 passaria a Linha Férrea de Sobral; Tão bom era o liquido, que recebeu o batismo de “Poço de São Jacó”. Com a urbanização da cidade que ainda hoje avança numa velocidade tremenda, o Rio Jacarecanga foi estreitando devido a perca de volume d’água e depois veio à poluição, sendo complementada em 1934 com uma ponte sobre o Riacho pela Avenida de 5 de Julho (Francisco Sá) e aí veio o descalabro. O frescor da natureza foi sendo reduzido.

 Fábrica São José

 Escola de Aprendizes Marinheiros

 Jacarecanga e a Escola de Aprendizes Marinheiros nos anos 50. IBGE

A Escola de Aprendizes Marinheiros de nossa Marinha do Brasil já havia chegado em 1908, ocupando o terreno do Curtume do agropecuarista Francisco Lorda e, o matagal da parte baixa ao oeste do Rio foi ocupado com residências. O Coronel Philomeno mandara construir em 1946 um segundo lote de casas, e foi nesta fase de construção que com mão de obra não qualificada, MEU SAUDOSO PAI VALDEMAR ALVES DE LIMA, matuto do Município de Jucás, semialfabetizado, nascido no Sítio Peixe em 1924 lá chegou. A Vila São José é assentada sobre a maior riqueza ecológica da Fortaleza Colonial. Vegetação nativa, lavoura de sobrevivência, comunidade pacífica e água à vontade.
 

"Jacarecanga, Jacarecanga um Rio que fez o Bairro nunca mudar de nome. Até seu solo faz história. Lá está a minha Vila São José, embora mutilada, mas ninguém pode negar seu passado. É meu berço."

Assis Lima


sábado, 29 de outubro de 2016

O Palácio do Bispo e a Igreja da Sé


Antiga igreja de São José - Última missa.


A então Prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins (2005-2013) foi quem assinou a ordem de serviço para a reforma do Paço Municipal, antigo Palácio do Bispo, cuja primeira grande reforma foi feita em 1913, quando Manezinho do Bispo era o porteiro. Referido prédio é patrimônio do Município desde 1973, pelo que ocorreu o tombamento. A Chefia do Executivo Municipal transferiu novamente o Paço Municipal para o Centro. Busquemos recuar no tempo. Aos 16 de fevereiro de 1699, veio de Portugal uma Ordem Régia que determinava a construção de uma igreja, que seria a primeira Capela-Mor da Matriz de Fortaleza. Localizada com a frente para a cidade, e com Riacho Pajeú passando a alguns metros por detrás, sua construção foi iniciada somente 48 anos depois.

Nossa catedral foi inaugurada em 1978



Concluída em 1795, em 1820 foi demolida, e com festa para a cidade Fortaleza, aos 2 de abril de 1854 foi inaugurada a Igreja de São José. Com a posse do primeiro Bispo do Ceará, Dom Luís Antonio dos Santos (foto ao lado), a antiga Matriz aos 29 de setembro de 1861, foi transformada em Catedral. Esse templo ficou erguido até 1938, quando aos 11 de setembro foi realizada a última missa. Um ano após, foi lançada a pedra fundamental do majestoso templo, que depois de quarenta anos lá está. Por detrás dessa igreja, no segundo quartel do século XIX, e nas margens do Pajeú, foi construído um palacete pela família do Comendador Joaquim Mendes da Cruz Guimarães, na rua das Almas, hoje rua São José. Adquirido pela Igreja católica, esse palacete passou a ser abrigo dos Bispos, surgindo a partir de então a nomenclatura “Palácio do Bispo”, afinal o mesmo passou a pertencer ao episcopado, quando o mesmo fora entregue aos 21 de junho de 1860, embora o bispado já tivesse sido criado, conforme a lei estadual nº. 693 de 10 de agosto de 1853. Esse prédio funcionava, além da residência do Bispo, como uma espécie de Secretaria de Ação Social, pois, diversos registros fotográficos e relatórios ratificam que os pobres se enfileiravam em busca de ajuda.


Hoje são várias as modificações no local, com pavimentação asfáltica, trânsito maluco; a rua da Escadinha (Baturité) só não desapareceu por conta da resistência do saudoso pesquisador Christiano Câmara que era um geógrafo sentimental. O riacho Pajeú, que outrora era uma veia significativa, está atualmente como um vaso capilar e poluído. Eu pensei que essa atitude da Prefeitura de Fortaleza naquele 2008, tivesse sido um prenuncio para que o poder público voltasse a funcionar no Centro da Cidade, tal qual a histórica capital, João Pessoa. Até pouco depois da Revolução de 1930, denominava-se Parayba do Norte, no estado da Paraíba, e nunca a sede dos Poderes Executivos, Legislativo e Judiciário e repartições correlatas saíram do Centro. Que história é essa de querer revitalizar o Centro somente com a volta dos moradores?


Bônus:




Leia também:

Patrimônio Histórico: Palácio do Bispo - Por Leila Nobre


Colaborador: Assis Lima

Ex-Ferroviário, Assis Lima é radialista e jornalista.
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segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Relembrando as tertúlias da Vila São José – Jacarecanga



A dança caracteriza-se pelo uso do corpo seguindo movimentos previamente estabelecidos (coreografia) ou improvisados (dança livre). Na maior parte dos casos, a dança, com passos ritmados ao som e compasso de música e envolve a expressão de sentimentos potenciados por ela. A dança é uma das três principais artes cênicas da antiguidade, ao lado do teatro e da música. No antigo Egito já se realizava as chamadas danças astro-teológicas em homenagem a Osíris. Na Grécia, a dança era frequentemente vinculada aos jogos, em especial aos olímpicos. Pois bem, duas coisas são indeléveis no curso de nossa vida. Essas gravações devem-se as energias sensitivas da audição e do olfato. Traduzindo são coisas marcantes: Perfume e música, em que eu evoco uma combinação feliz do maior brega/chique do Brasil Waldick Soriano, quando gravou a música “Perfume de Gardênia”. 


Mas vamos lá. O bom é que na época das tertúlias, as moças e os rapazes se afinavam e dançavam até, por todo o tempo pela combinação de essências. Muitos se queixavam de rejeição ao convidar uma menina, mas tinha lógica, o cabra usava perfume feminino e a pessoa se sentia como se estivesse com alguém do mesmo sexo. Mulher também não deve usar fragrância masculina. Sabiam que isso funciona no psicológico? Agora, não existia nesses bons tempos nada de marcas famosas tais como hoje, com fragrâncias passando da casa dos R$ 100 (Cem reais). Apesar de eu me esforçar pelo meu Malbec, anos atrás, pelo menos minha loção pós-barba era leite de colônia, e o creme de cabelo era o Trim. É o novo! As calças eram boca de sino, blusão por dentro, e o medalhão só perdia para o Erasmo Carlos. Não se fumava dentro do recinto onde a luz negra tornava a sala um escurinho de cinema. Quem quisesse acender seu Hollywood, Minister, Albany, Charm, Marlboro, Consul, Camel Filters (o mais caro) ou até mesmo o Continental, deveria sair para a calçada e após o uso, chupava Piper ou azedinho para mudar o hálito. 




Caramelo do Zorro e Negrito eram chocolates e pregavam nos dentes. Chicletes Adams, Ping Pong, Ploc... O Manuel Pé Cagado levou um spray para se amostrar, e a válvula estourou quase cegando uma menina, e tome vaia. As casas mais tradicionais em cederem espaço para as tertúlias era a residência do Tutuca (Elenilson), da amiga Ilná e a Tayse que já ficava na Avenida Francisco Sá olhando para o Saps. Tayse era namorada do Magão que morava na casa do Artur, zagueiro do Ceará Sporting Clube na época (1973), rua Coronel Philomeno Gomes nº 26. 
A publicidade da tertúlia era notória, pois, o anfitrião saía nas casas solicitando por empréstimo, discos de vinil. Portanto era nossa parceria, bem como ficar próximo da vitrola para ficar virando e sequenciando as músicas. Como a dança era de cerca de três horas, nunca uma música era repetida. Na rua já ouvíamos Roberto Carlos: “Debaixo dos caracóis dos seus cabelos”, “A Distância”, “Maior que meu Amor” ,“Amada Amante”; Os Pholhas: “I Never Did Before” (Nunca Fiz Antes); Roberta Flack: “Killing Me Softly” (Me Matando Suavemente); Stevie Wonder: “You Are Sunshine Of My Life” (Você é forte luz em Minha Vida); Demis Roussos: “Forever And Ever” ( Sempre pra sempre); The Fevers: “Mar de Rosa”, “Vivo a Sonhar com Você”, “Ninguém Vive sem amor”. Tinha também músicas eróticas como “Theme Love Airport”  (Tema romântico do Aeroporto) com Vicente Bell; “Nuvens, Amar Sonhar Sofrer”, JET´AILME... mol non Plus Erótico (Eu Te Amo em francês) e por ai ia... Todos os bailes da Vila São José eram na própria vila, com exceção do Carnaval e Natal que era no Clubinho Marcílio Dias, na Avenida Philomeno Gomes, por detrás do Cemitério São João Batista, depois do muro da Fábrica de tecidos
Quem é que queria saber e, também não podíamos! Náutico Atlético Cearense, Maguary, Diários, AABB, Clube de Regatas nem mesmo os clubes suburbanos que desapareceram, como podemos citar: O Uberlândia no Padre Andrade, Secai no Pirambu, Carlito Pamplona na Avenida Pasteur, Grêmio Recreativo dos Ferroviários na Francisco Sá, Internacional no Monte Castelo, Romeu Martins no Montese e o de Antônio Bezerra. Não, todos ficavam na Vila São José, porque aquele pedacinho tinha tudo de bom!



No escurinho, a gente combinava para chocar um casal com outro.  Se a jovem esboçasse desconforto, ficava como estava, mas do contrário a quentura do corpo (pinar mesmo) tornava mais gostosa a dança. Eram assim as tertúlias. A única despesa que tínhamos era quando o calor se intensificava e nos dirigíamos ao Bar do Chico Lima e/ou do Seu Telles para comprar refrigerantes como Blimp (sabor Limão), Crush (Laranja de verdade) e Grapette (Quem bebe repete). Os dois incidentes de que eu me recordo, foi na casa de um em que a Conefor (atual Coelce) no dia da festa cortou a luz pela parte da tarde. Nada se podia fazer porque era sábado. No outro incidente que também não vou mencionar o nome, foram fazer festa e nos deixaram de lado, trazendo gente estranha, querendo serem os "Reis da Cocada Preta". Fomos ao jardim do Seu Panchico e tiramos todas as pimentas malaguetas de seu jardim/hortaliça. À noite ao chegarmos na festa sem convite, discretamente soltamos pimenta ao chão. Daí começou a espirradeira e coceiras nos olhos e a festa acabou. Então veio a colheita desta travessura de mau gosto. Seu Panchico foi ao Padre Mirton Lavor, pároco da Igreja dos Navegantes e cabuetou (A brasileira) essa travessura. No sermão de sábado à tarde, ele baixou o Pau dizendo que “quem entrasse nos jardins alheios sem permissão, era ladrão e salteador”. Todos baixamos as cabeças. Aí os tertulianos ficaram bonzinhos. Quem achou ruim foram algumas meninas sapequinhas, mas nós que levamos o arregaço do sacerdote, passamos a obedecer ao para-choque de caminhão: dançando “mantendo a distancia”.  Depois as Tertúlias foram substituídas pelas discotecas e deu advento ao Rock não prestando mais... Por isso digo que 1º de novembro é o dia dos homens: “Dia de todos os santos”. kkkkkkkkkk

Bônus:

O Milionário com os incríveis não podia faltar!!! :)
Foi lançada em 1969 mas foi até o fim das tertúlias nos anos 80.

Leia também:

Vila São José - Jacarecanga


Colaborador: Assis Lima

Ex-Ferroviário, Assis Lima é radialista e jornalista.
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quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Estação da Floresta e o Ramal da Barra - Álvaro Weyne





Os moradores do bairro Álvaro Weyne e os pesquisadores da história de nossa cidade após esse relato, irão agora compreender porque a “Rede de Viação cearense – RVC” construiu uma estação intermediária entre a Central e o Distrito de Barro Vermelho (atual Antônio Bezerra) já que nos anos 20 do século passado, não existia nesse local uma justificativa sócio – econômica para uma parada de trem. A “Floresta” como era conhecida na época, era muito arborizada e um solo abençoado pela natureza, pois, as águas de seus poços eram excelentes para o consumo humano e faça-se justiça, era a melhor água de Fortaleza. Pois bem, o diretor da RVC Dr. Demósthenes Rochert, o Presidente do Ceará José Moreira da Rocha (Desembargador Moreira) e o Prefeito de Fortaleza Godofredo Maciel, viabilizaram perante o Ministério da Viação e Obras Públicas, a construção de uma artéria ligando por ferrovia Fortaleza ao Rio Ceará, isso devido ao potencial econômico fluvial/marítimo e os já avançado estudos para a implantação do primeiro aeroporto de Fortaleza. A Barra do Ceará foi onde o nosso Estado nasceu. É o berço de Fortaleza e tem mais essa interessante história.



O Ramal Ferroviário da Barra teve como ponto de junção, o Bairro da Floresta localizado no Km 4,180 m da Estrada de Ferro Fortaleza/Itapipoca-EFFI e como não poderia deixar de ser, surgiu a necessidade imediata da construção de uma Estação, cuja inauguração ocorrera aos 14 de outubro de 1926, data também do término das obras do referido trecho Floresta/Barra do Ceará. Tinha uma extensão de 3,800 Km com 3,010m acima do nível do mar. O recebimento de óleo de mamona, a exportação dos curtumes, sal e outros produtos eram movimentados por via férrea. A condução de passageiros nesse ramal era apenas em excursões particulares ou, quando havia interesse da RVC recepcionar ou/em conduzir autoridades ao aeroporto.




Por toda a década dos anos 30 o ramal esteve no auge, sendo posteriormente sua degringolagem marcada por dois grandes motivos: O surgimento do complexo portuário no Mucuripe, quando os navios de médio porte que fundeavam na Barra do Ceará passaram a atracar no novo porto e segundo, com a inauguração (1952) do aeroporto no Cocorote (denominou-se depois Pinto Martins). Os hidroaviões foram desaparecendo. Em 1954, não existia mais nenhum motivo para o trem ir para a Barra do Ceará, razão pela qual os trilhos foram arrancados. Quem percorrer as Ruas Hugo Rocha e Vinte de janeiro no Bairro da Colônia deve saber que, essas vias rodoviárias surgiram graças ao trem da Barra. Esse capítulo da história de Fortaleza é pouco conhecido, mas que deve ser explorado pelos pesquisadores. Hoje o Rio Ceará é cartão postal e indústria para o turismo. A Estação da Floresta em maio de 1960 passou a se chamar Mestre Rocha, pois, na época o diretor da RVC que era o Cel. Virgílio Nogueira Paes atendeu ao pedido dos familiares de José da Rocha e Silva, que foi o primeiro maquinista do Ceará, sendo em seguida, mestre geral das oficinas da antiga Estrada de Ferro de Baturité. O mesmo faleceu em 1927. Com o advento da Revolução política de 1964, o nome do Bairro Floresta foi modificado, passando a se chamar Álvaro Weyne* homenageando por recente falecimento, o comerciante e ex-prefeito de Fortaleza. A RVC por questão de adaptação e interferência política cedeu, e a Estação de Mestre Rocha também passou a se chamar Álvaro Weyne.



A edificação da Antiga Estação Floresta sofreu desativação em fevereiro de 1982, quando a Coordenadoria dos Transportes Metropolitanos - CTM inaugurou uma nova estação, só que com a quilometragem alterada e com plataformas adaptadas ao novo trem. Aí em 1984 a bucólica e nostálgica edificação desapareceu. Os moradores parecem que perderam o seu referencial. O amigo trem nesse local não se achou mais acolhido... Chorando sua ausência foi embora e nunca mais parou.


Assis Lima

 
*Álvaro Nunes Weyne, comerciante e prefeito de Fortaleza por dois períodos (1928-1930 e 1935-1936). Faleceu aos 4 de julho de 1963, com 81 anos de idade. Em 1964, Murilo Borges, então prefeito de Fortaleza, assina decreto mudando o nome do bairro da Floresta. A estação que era chamada de Mestre Rocha, não suportou a interferência.

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