Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

quarta-feira, 25 de março de 2015

25 de Março de 1884 - 131 Anos da Abolição dos Escravos no Ceará


É preciso lembrar para jamais esquecer!!!

Fatos históricos que culminaram para a libertação dos escravos na Terra da Luz em 25 de março de 1884:

Tempo28/04/1742 - O visitador Lino Gomes Correia, ao passar pela vila de Fortaleza, determinou que os senhores de escravos lhes dessem o dia de sábado livre para granjearem o sustento e nos dias santos para a Igreja de Nossa Senhora do Rosário. A igreja foi reformada em 1753.

Tempo1860 - Fortaleza tinha neste ano 35.373 habitantes, sendo 17.062 homens e 15.450 mulheres livres e 1.767 homens escravos e 1.094 mulheres escravas, existindo apenas 71 eleitores. 

Tempo 28/09/1879 - No 8º aniversário da Lei do Ventre Livre, funda-se, em Fortaleza, na casa nº 100 da Rua Formosa, a Sociedade Perseverança e Porvir, de objetivos comerciais, mas que também visava à emancipação dos escravos.
Mantinha fundo para alforrias de escravos e alimentava o objetivo de fundar outra entidade, que tomasse para si a empresa de arrebentar o ferro das algemas.
Era composta de 10 membros: José Correia do Amaral (José do Amaral) (presidente), José Teodorico de Castro (vice-presidente), Alfredo da Rocha Salgado (Alfredo Salgado) (secretário), Joaquim José de Oliveira Filho (tesoureiro), Antônio Dias Martins Júnior (Antônio Martins), Antônio Cruz Saldanha, José Barros da Silva, Francisco Florêncio de Araújo, Antônio Soares Teixeira Júnior e Manuel Albano Filho.
Foi assim que nasceu outra sociedade, a Cearense Libertadora.




Tempo 08/12/1880 - Instala-se a Sociedade Cearense Libertadora, para a libertação dos escravos, promovida sob os auspícios da associação comercial "Perseverança e Porvir", iniciativa de Antônio da Cruz Saldanha, que teve como primeira diretoria provisória: João Cordeiro "Juarez" (presidente), José Correia do Amaral (José do Amaral) "César" (vice-presidente), Frederico Augusto Borges "Spartacus" (1º secretário), Antônio Bezerra de Sousa Menezes "Risakoff" (2º Secretário), Manuel Ambrósio da Silveira Torres Portugal e capitão Justino Francisco Xavier (advogados), João Crisóstomo da Silva Jatahy (tesoureiro), João Martins "Pery", José Joaquim Teles Marrocos (José Marrocos) "Ó Conell", José Caetano da Costa, João Carlos da Silva Jatahy, João Batista Perdigão de Oliveira e Eugênio Marçal.
Por tratar-se de um movimento muito perigoso, cada um tinha seu pseudônimo, que pusemos logo após o nome.
Durante o tempo de duração das sociedades vários outros vultos ingressaram, chegando a 225 associados só na Cearense Libertadora.
A fundação deu-se na casa Rocha Negra, residência da família Marçal, na Rua Formosa (Rua Barão do Rio Branco) hoje nº 1201.


Tempo 30/08/1881 - O movimento abolicionista fecha o porto de Fortaleza ao embarque de escravos, tendo à frente o jangadeiro Francisco José do Nascimento, o Dragão do Mar, também conhecido por Chico da Matilde

Tempo 01/01/1883 - Com a presença de José do Patrocínio, que aqui chegara no dia 1º de dezembro do ano anterior, a Vila do Acarape (Redenção) concede plena liberdade a todos os seus escravos, antecipando-se a todas as cidades e vilas do País; e a 24 de maio, grandiosas festas pela libertação dos escravos na Capital da Província. Em todo o Estado, a libertação se daria no ano seguinte.


Tempo 25/03/1884 - O presidente da Província, Manuel Sátiro de Oliveira Dias (Sátiro Dias), decreta a Abolição dos escravos, em todo o território do Ceará. Em Fortaleza foram quatro dias de festas, mas em alguns lugares houve resistência e demorou ainda a libertação geral. 

Tempo 13/05/1888 - Grandes festas populares, em Fortaleza, motivadas pela sanção da Lei Áurea, que libertou os escravos em todo o território nacional.



Como o Ceará libertou seus 30 mil escravos

"Ingleses, franceses, espanhóis, holandeses e portugueses, numa ponta e reinos africanos, noutra, ganharam vendendo e comprando escravos. Era um importante item do comércio internacional na época. Comércio tão sujo como a corrupção dos novos tempos, no Brasil, na Índia, no Afeganistão, no Paquistão e no Nordestão.

Barão de Studart e Rodolfo Teófilo concordaram que em 25.03.1883, o Ceará contava apenas com 30 mil escravos numa população de 721 mil habitantes. O Censo de 1872 contou 31.913 e o de 1881 24.463 cativos e 7.436 livres. Não eram muitos, pois o Ceará não tinha cana de açúcar, minas e gado que exigissem mão de obra intensiva.


O “Libertador” em 01.01.1884, localizou os 21.516 escravos no Ceará: 

Fortaleza/Messejana, 1.273; Aracati/ União/Jaguaruana, 1.159; Granja/Palma/Coreaú, 1.250; Acaraú, 440; Aquiraz, 449; Acarape/Redenção, 115; Assaré, 512; Barbalha/Missão Velha, 512; Baturité, 789; Canindé/ Pentecoste, 516; Cascavel, 807; Crato, 835; Icó, 731; Ipu, 736; Imperatriz/Itapipoca, 882; Jardim 446; Jaguaribe/ Cachoeira/Solonópole, 608; Limoeiro do Norte, 608; Lavras da Mangabeira, 768; Maranguape/Soure/Caucaia, 847; Maria Pereira/Mombaça, 438; Milagres, 586; Morada Nova, 367; Pedra Branca, 157; Pacatuba, 298; Pereiro, 465; Quixeramobim, 1.924; Quixadá, 298; São Francisco/Itapagé, 427; São Bernardo/Russas, 1.972; Santa Quitéria, 820; Santana do Acaraú, 941; São Mateus/Jucás. 499; Saboeiro/ Brejo Seco/Brejo Santo, 1.130; São João do Príncipe/Tauá/ Arneiroz, 1.956; São Benedito/Ibiapina, 135; Telha/Iguatu, 251; Trairi, 249; Tamboril, 614; Viçosa do Ceará, 323 e Várzea Alegre, 153.



Como Acopiara era então Lages, distrito de Telha/Iguatu, não há precisão sobre quantos acolheu.

“No porto do Ceará não se embarca mais escravos”.

A frase é atribuída a Chico da Matilde, Francisco José do Nascimento, por José do Patrocínio mais tarde batizado Dragão do Mar, jangadeiro de Aracati, prático-mor, prático da barra, convocado por Pedro Artur de Vasconcelos e José Napoleão para trancar o porto a partir de 30.08.1884, por sua liderança junto aos praieiros, não se embarcando e não se desembarcando. Nesta época, não havia atracadouro em Fortaleza. Os navios ficavam ao largo e o desembarque era complexo, através de jangadas e barcos a remo. Em 30.08.1881, Tentaram embarcar 210, mas Dragão do Mar com seus homens impediram. Conflito com os escravocratas, mas a polícia ficou do lado dos jangadeiros. Consequência: Dragão do Mar foi demitido das funções de prático-mor . Houve reações, protestos dos comerciantes, pressões junto ao Governo provincial e denuncias de abusos junto ao governo do Império. Mais tarde, em 1883, Dragão do Mar foi suspenso de suas funções de prático da barra, “resta-me agora fechar as minhas contas com os meus gratuitos e covardes inimigos”.


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Em 30.11.1882, José do Patrocínio, o “Marechal Negro”, líder abolicionista do Rio de Janeiro, desembarcou em Fortaleza, com Alípio Teixeira, seu colega da Gazeta da Tarde, tendo calorosa acolhida da Libertadora, o Centro Abolicionista e do Clube dos Libertos. Num encontro com Dragão do Mar, indagou: “então, o porto está mesmo bloqueado?” A resposta: “não há força neste mundo que o faça reabrir ao tráfico negreiro”. A presença de Patrocínio em Fortaleza teve impacto, com manifestações no Passeio Público, vitrine da pequena cidade. O “Libertador” repercutiu a visita e os abolicionistas marcaram para 1° de dezembro a libertação dos 32 escravos em Acarape/Redenção, iniciando a onda emancipacionista. Começaram a recolher dinheiro para comprar as alforrias. Uma delas , de um conto de réis (1:000$000), veio do Imperador Dom Pedro II para a Sociedade Cearense Libertadora , sacada do Banco do Brasil contra os srs. Pereira Carneiro & Cia, de Pernambuco,

Acarape/Redenção libertou e ficou como símbolo da emancipação, com a presença de José do Patrocínio que retornou ao Rio de Janeiro em 10.01.1883 e que cunhou a expressão que o Ceará era a “Terra da Luz”, que nos acompanha há mais de um século, exprimindo o que vira no Ceará. Daí pra frente, cada município foi repetindo o gesto: Pacatuba, Arrarial/Uruburetama, São Francisco/Itapagé, Imperatriz/ Itapipoca, Canoa/Aracoiaba, Baturité, Icó, Tauá. Maranguape, Aquiraz, Sobral, Trairi, Santa Quitéria, Aracati, Cachoeira, Lavras, Tamboril, Santana, Independência, Camocim, Cascavel, Morada Nova, Acaraú, São Bernardo de Russas , Granja.

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O movimento ganhou impulso. Joaquim Nabuco , de Londres, ao tomar conhecimento do que aconteceria no Ceará em 25 de março de 1885 “Chega-me de diversas partes a noticia de que no dia 25 de março a província do Ceará ficará para sempre, livre da desonra e do opróbrio da escravidão. Não há em nosso passado desde a Independência uma data nacional igual à que a providencia do Ceará vai criar”. E criou. Coube ao presidente da Província , o baiano Sátiro de Oliveira Dias, com muita pompa, ênfase, púrpura da igreja, salvas, bandeiras, flores, trombetas e tiros, na Praça Castro Carreira, anunciar: “A Província do Ceará não possui mais escravos”. O grande ausente foi Dragão do Mar que embarcara para o Rio de Janeiro, em 14 de março, tendo sido recebido por Dom Pedro II. Em Paris, José do Patrocínio reuniu a imprensa francesa, anunciou o feito e leu um cartão de Vitor Hugo: “Uma Província do Brasil acaba de declarar extinta a escravidão no seu território. Para mim a notícia é extraordinária”.

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Depois do Ceará, o Presidente da Província do Amazonas, o cearense Teodoro Barreto de Farias Souto, fez idêntica proclamação em 20 de junho. Mais tarde, Pará, Pernambuco, Bahia e Rio Grande do Sul.

É bom que as gerações atuais, tão despolitizadas e anestesiadas pela política de baixo nível das elites brasileiras, tomem conhecimento dos feitos de seus antepassados."

JB Serra e Gurgel (Acopiara), jornalista e escritor, 
com base em Djacir Menezes e Raimundo Girão.



Fontes/Créditos: Biblioteca Nacional, Cronologia Ilustrada de Fortaleza, Portal da História do Ceará, Gildásio Sá, Blog Casa do Ceará e pesquisas na internet



domingo, 22 de março de 2015

Pega Pinto do Mundico


O Mundico¹ do Pega Pinto - Agradecimento a Amanda Freitas

Na Fortaleza dos anos 60o refrigerante preferido dos habitantes da cidade era o refresco (ou aluá?) Pega Pinto.


(Foto ao lado: Gervásio tomando o Pega Pinto vendido a R$1,00)

"Trata-se de uma raiz que chegou a ser colhida entre os túmulos do Cemitério São João Batista para poder garantir o consumo. Na Praça do Ferreira, o comerciante Mundico abriu uma lanchonete - ou merendeira? - de apenas uma porta, bem pequena, que tinha como principal produto o Pega-Pinto, delicioso diurético que era servido com tapioca ou pedaço de bolo.




O Pega Pinto do Mundico ficava logo após o cine Moderno na rua Major Facundo.

Depois dos filmes nos cines Moderno, Majestic, São Luiz ou Diogo, a rapaziada lotava o Pega-Pinto do Mundico, que concorria com o caldo de cana da Leão do Sul

O progresso expulsou o Mundico da rua Major Facundo para a Duque de Caxias, perto da Praça do Carmo. Fui embora de Fortaleza e não tive mais notícia da garapeira famosa."  Gervásio de Paula


O aluá está de volta a Fortaleza?

Conforme Gervásio de Paula, o pega-pinto é vendido, atualmente, na lanchonete Azteca, no térreo do edifício da ACI, esquina das ruas Liberato com Perboyre Silva.


 ¹Luís Gonzaga da Silva, o Mundico, foi um comerciante popular do Centro da cidade, famoso pelo “Pega-Pinto”, bebida com chá de raíz (um chá medicinal, porém, ele vendia junto com cachaça, se o cliente desejasse... rsrs) que curava males nos rins, dizem. 

A comercialização começou por volta de 1935, na Praça do Ferreira, ao lado do Cine Moderno, onde permaneceu por mais de três décadas, indo depois para a Duque de Caxias. Após 7 anos, foi para a Clarindo de Queiroz, em frente aos Merceeiros. Exatamente o estabelecimento da foto ao lado, publicada pelo jornal Correio do Ceará

Mundico faleceu em 1977, aos 63 anos, no Hospital Cura Dar's. Por ironia do destino, faleceu de problemas renais. 

Acervo Lucas.



Crédito: Blog do jornalista Wilson Ibiapina, Conversa Piaba.


terça-feira, 10 de março de 2015

As casas senhoriais na Fortaleza da década de 40

Royal Briar - A Fortaleza dos anos 40
Marciano Lopes

Na década de 40, ainda não havia apartamento em Fortaleza, muito menos as hoje cobiçadas “coberturas”sinônimos de status da sociedade emergente e símbolo maior dos novos-ricos. Naquele tempo, as famílias tradicionais moravam em grandes e confortáveis casas que podiam ser classificadas como palácio, palacete, mansão, solar ou, pelo menos
num caso especial, castelo

(Foto ao lado do acervo de Raimundo Gomes)


Riquíssimo e de gosto requintado, Plácido de Carvalho fez construir o que se pode classificar como uma das mais monumentais residências do Brasil, o Palácio Plácido, na Aldeota, antigo Outeiro. Ocupando uma quadra, entre as atuais ruas Carlos Vasconcelos, Monsenhor Bruno, Costa Barros e a Avenida Santos Dumont.
Castelo, era o de Plácido de Carvalho, na Aldeota, construído para agradar sua mulher, Maria Pierina Rossi, italiana, de Milão, que, nostálgica da pátria distante, teve sua
saudade amenizada pelo suntuoso castelo que seu marido fez construir no local onde a Aldeota ainda era uma floresta de cajueiros. Essa singular moradia, copiada de um castelo de Florença, a partir de informações de Pierina, foi criminosamente demolida nos anos 70, porém, mesmo com tão bestial ato de vandalismo, continuará a ser, pelos anos afora, a mais monumental residência da região.


Castelo do Plácido em foto de A. Capibaribe Neto
No Benfica, espécie de feudo da família Gentil, estava o aristocrático Palacete Gentil, morada do banqueiro e comerciante José Gentil, com suas elegantes varandas, suas colunas coríntias, seus amplos terraços, vastos jardins com estátuas e vasos vindos da Europa. Também no Benfica ficava a residência de Antonio Gentil, bem como as de José Thomé de Sabóia e de inúmeros outros milionários da época, como a família Manços Valente, que ocupava bonito solar, logo no início da Avenida Visconde de Cauípe. Essa senhorial moradia tinha até  capela. De pé, restam o palacete de José Gentil, hoje abrigando a reitoria da Universidade Federal, e o solar dos Manços Valente, sediando, presentemente, o Convento Santa Rosa de Viterbo, cujas freiras adulteraram a fachada da capela.


Palacete  de José Gentil - Arquivo Nirez

A maravilhosa mansão de joão Gentil, no Benfica. O extenso mangueiral a se
perder de vista cedeu lugar, mais tarde, ao bairro da Gentilândia e à constru-
ção do estádio Presidente Vargas, Escola Técnica Federal e Ginásio Aécio de Borba entre outros prédios.
Vizinha a residência dos Manços Valente ficava a casa de Rufino de Alencar, exatamente na esquina da avenida Visconde de Cauípe com a rua Antonio Pompeu. Estreita e sinuosa ocupando faixa mínima de terreno, era diferente e graciosa. A pouca largura foi compensada com um térreo, quase porão, o andar social e uma torre vigia. Na varanda muito estreita, eu via, ao passar, a bela Ruth de Alencar, os imensos olhos Verdes contemplando o mundo que passava à sua frente. Transformada numa loja da maçonaria,
ganhou um "banho" de falsa faiança e tantos detalhes de mau gosto, inclusive um horroroso galo de cimento, pintado de branco com crista vermelha, além de umas indecorosas flores em relevo, que a casa pode ser vista, agora, como um verdadeiro monumento ao antiestético. De qualquer forma, a construção permanece inalterável na sua forma original e merece louvores o belo e artístico portão de ferro, cuja origem desconheço.


Arquivo Nirez
Na antiga Praça da Bandeira, atual Praça Clóvis Beviláqua, há o palacete do Barão de Camocim, que já esteve ocupado por sua neta, Carmen, viúva do doutor Lauro Chaves.
Embora adulterado em sua fachada, que recebeu chapisco, numa reforma efetuada em 1945, não perdeu sua nobreza e seu interior guarda verdadeiras preciosidades em móveis, lustres e tantos objetos de materiais finos, todos adquiridos na Europa, onde o barão residiu por algum tempo.


Casa do Barão de Camocim - Acervo MCals
O bairro de Jacarecanga, que até os anos 40 era o mais aristocrático da cidade, possuía um conglomerado de magníficas moradias, sobressaindo-se a casa de três andares de Pedro Sampaio; e o monumental palacete de Thomás Pompeu Sobrinho, com 38 cômodos, localizado na Avenida Francisco , 1801, logo após a praça do Liceu. Copiado de uma residência de Portugal, na sua construção foram empregados os mais nobres materiais, quase tudo importado do Velho Mundo. Até os azulejos e o cimento vieram de Portugal. A sala de jantar tem as paredes revestidas de peroba e o piso de sucupira. Todo o madeiramento do telhado é de maçaranduba. Construída em 1924, a moradia, ainda em poder dos descendentes do seu autor, possui preciosidades em móveis, lustres e pratarias no mais autêntico art nouveau.


Casa de três andares de Pedro Sampaio em frente a Praça do Liceu. Arquivo Nirez

Palacete de Thomás Pompeu Sobrinho na Avenida Francisco Sá - Hoje é uma escola de arte

Na mesma avenida Francisco Sá, existia a linda casa de Luiz Correia, já demolida, e o casarão de Florival Seraine, transformado em repartição pública, porém,
ameaçando ruir, devido a falta de manutenção. Em 1929, o advogado Raimundo Brasil Pinheiro de Mello construiu sua casa na avenida Coronel Filomeno Gomes, a partir de uma revista alemã. Graciosa e simpática, possui todas as características das moradias alemãs, inclusive o telhado inclinado, para “escorrer a neve”.


Solar de Luiz Moraes Correia nos anos 40

Raimundo Brasil Pinheiro de Mello 
Magnificamente conservada, tanto na sua estrutura quanto nos móveis e adornos, continua em poder dos descendentes de Raimundo Brasil Pinheiro de Mello, residindo, ali, sua viúva, dona Guiomar, e sua filha, Maria Luíza. É a casa de número 836 da Avenida Coronel Filomeno Gomes.
Na Praça do Liceu, diversas casas de belo estilo não existem, demolidas que foram para dar lugar a feios prédios de apartamentos. Da mesma forma, os soberbos casarões que
conferiam dignidade a rua Guilherme Rocha, entre as praças da Lagoinha e do Liceu, foram postos abaixo, pelo descaso ou pela especulação imobiliária. Assim como o desprezado palacete da esquina da rua Padre Mororó, onde funcionou a Secretaria de Educação e Saúde, nos anos 40/ 50; o palacete do coronel Hortêncio de Medeiros, ocupado pela Procuradoria da República e a Itapuca Villa, abandonada desde 1946, quando faleceu seu titular, Alfredo Salgado. Símbolo da grandiosidade das moradias do passado, sofreu os efeitos do abandono, em tantas décadas, bem que o Governo do Estado poderia ter feito o tombamento daquela outrora soberba vivenda, transformando-a numa fundação cultural, inclusive, num museu da abolição, quando se sabe que foi Alfredo Salgado, apesar de homem de vasta fortuna, um abolicionista dos mais ardorosos.


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Palacete demolido no cruzamento da rua Padre Mororó com Guilherme Rocha

Rico e de muito bom gosto, Alfredo Salgado desejou o melhor para construir
sua mansão, a ltapuca Villa, na rua Guilherme Rocha. Todos os materiais vieram
do exterior, inclusive as madeiras. Periodicamente viajava a Europa para contratar novos jardineiros. A ltapuca Villa era um dos orgulhos de Fortaleza.
Tombada pela Prefeitura de Fortaleza, a Villa Morena, antiga residência da família Porto, na beira do mar, na Praia de Iracema, é graciosa e diferente na sua concepção. Toda de taipa, desafia os anos, já foi clube dos soldados americanos, durante a Segunda Guerra Mundial. Desde então, é o Bar e Restaurante Estoril, reduto da boemia intelectual e artística da cidade.
A mansão, que atualmente é ocupada por um posto da Previdência Social, na esquina da Avenida Tristão Gonçalves com a rua Antonio Pompeu, era a residência de Renato Silva e Yeda Markan Silva. Depois, foi moradia da família Carlos Jereissati.


Arquivo Nirez
Uma das mais grandiosas fachadas de Fortaleza é a da mansão da família Carlito Pamplona, na rua 24 de Maio, entre Meton de Alencar e Antonio Pompeu. Continua como residência da viúva do seu titular, inalterada, pelo menos no seu exterior.
A vetusta casa da família Thomás Pompeu, na praça da Lagoinha, lado da Avenida do Imperador, é outra que se mantém inalterada, pelo menos em sua fachada de aspecto soturno, não só pelas linhas arquitetônicas de inspiração inglesa, como pela pátina de tantos invernos. Mas é na sua sisudez que está seu aspecto de aristocracia.



Casa da família Thomaz Pompeu na avenida do Imperador
A mansão de Meton de Alencar Pinto, na esquina das ruas Senador Pompeu e Antônio Pompeu, é um belo exemplo de como uma residência, que conta várias décadas, pode
ter a aparência digna e jovial. Ali, tudo está igual a década de 40, até nas sebes do jardim. 


Mansão Meton de Alencar Pinto
Mas, corno nem sempre a sensibilidade, o bom gosto e o amor ao passado são características da nossa gente, lamenta-se que o célebre Solar dos Távora, na esquina das ruas Sena Madureira e Visconde de Saboia, esteja transformado num monstrengo. Palco deformado de memoráveis acontecimentos da política, permitiram que aquela nobre residência fosse totalmente mutilada para abrigar uma loja de materiais de construção. Com seus móveis, quadros, biscuíts, estatuetas, pratarias, lampadários e tantas outras preciosidades, quem entrava ali tinha a nítida impressão de estar ingressando numa
sóbria morada belga ou francesa do século XIX. A atmosfera era perfeitamente europeia, no romantismo de suas peças de arte, na tranquilidade que parecia emanar de tudo. Por que os descendentes do velho Fernandes Távora não tiveram a ideia de transformar aquele solar numa fundação da família e, assim, perpetuar o nome de seus maiores?


O austero solar dos Távora, na esquina da rua Conde D'Eu (antiga rua dos Mercadores) com rua Visconde de Saboia. Um recanto da Europa no centro de
Fortaleza. E cenário de importantes decisões da política local e nacional. 
Quando ser chic era habitar grandes e aristocráticas casas, com amplos espaços, jardins e pomares, Arlindo Gondim fez construir seu palacete, encravado em vasto terreno da rua General Sampaio, entre o Boulevard Duque de Caxias e a rua Pedro Ido “lado da sombra”. Casa elevada, com porão e elegante escada externa em bonito trabalho de mármore, inclusive o corrimão, tem como detalhe mais bonito a varanda fechada que se estende por toda a extensão da ala esquerda daquela moradia.
Espécie de chácara, fartamente arborizada, teve seus espaços externos sacrificados em benefício de um estacionamento de veículos. A casa, que permanece quase intocada,
ainda é habitada por membros da família. 


Palacete na rua General Sampaio, entra a Duque de Caxias e a Pedro I
A casa de Carlos Jereissati, na praia do Meireles, precisamente na esquina das avenidas Getúlio Vargas (Beira-Mar) e Rui Barbosaainda pode ser contemplada e não sofreu grandes alterações em sua estrutura, muito embora, sem utilização como residência, há vários anos. É símbolo das suntuosas casas de veraneio que as famílias abastadas de Fortaleza mantinham na Praia de Iracema e adjacências, nos idos de 40.


No meio do quarteirão da rua General Sampaio, entre as travessas Guilherme Rocha e São Paulo, estava o maravilhoso solar da família Theophilo. Possuía jardins laterais, com
gradeados e portões de ferro e seus salões ostentavam, além de magníficos lustres Baccarat, muitas obras de arte, inclusive, retratos a óleo, de membros da família, em ricas molduras de talha dourada. Ha alguns anos, passou a ser escritório de uma empresa comercial e entrou em processo de decadência. Atualmente, totalmente adulterada, a construção quase mais nada ostenta da sua antiga nobreza, exceto meros relevos na fachada.
O palacete de Raimundo Gomes de Mattos, na rua 24 de Maio, entre as travessas Liberato Barroso e Pedro Pereira, tinha sua bela fachada desgastada pelo tempo, acho que para fazer contraste com o soberbo lustre de cristal emoldurado pela janela do salão principal. Seus assoalhos eram do mais autêntico pinho-de-riga, e os jardins eram verdejantes e bem cuidados. Foi demolido para dar lugar a um restaurante popular do SESC, como se não existisse outro local, no Centro, para sediar tal estabelecimento. 


O palacete de Raimundo Gomes de Mattos
Moradia de linhas aristocráticas e erguida com materiais nobres, além de contar com acabamento primoroso e detalhes sofisticados, era a residência de Fausto Cabral, na Avenida Barão de Studart. Depois de servir como residência da família Cabral, funcionou, durante alguns anos, como sede oficial do Governo do Estado, já abrigou o Museu Histórico e Antropológico do Ceará e, atualmente, abriga o Museu da Imagem e do Som - MIS . Notável a prática e funcional distribuição de suas peças. 
Quando a Avenida Duque de Caxias era uma das mais aristocráticas e simpáticas vias de Fortaleza, destacava-se, em sua paisagem bucólica, o palacete do doutor Leite Maranhão, encravado na esquina daquele Boulevard, com a rua 24 de Maio. Diferente e aconchegante, tinha inúmeros detalhes externos que chamavam a atenção, tais como pequenos terraços, varandas, nichos, chafarizes, telhados em vários níveis. Altaneiros pés de eucalipto, em seu minúsculo jardim, emprestavam-lhe a elegância própria das moradas nobres. Depois de um curto espaço em que sofreu abandono e decadência, foi demolido.


Residência de Fausto Cabral hoje abrigando o MIS
Certamente influenciado pelos suntuosos bangalôs de Hollywood, o milionário Checo Diogo fez construir o seu na aristocrática Avenida do Imperador, entre as travessas Liberato Barroso e Pedro Pereira. Todo vermelho, tinha imponente terraço no piso superior e ricas eram as suas portas internas, no melhor cristal bisotado. Com jardins bem tratados e a pintura vermelha de sua fachada, sempre retocada, era um atestado de bom gosto. Ainda existe, funcionando como colégio, o que muito o dilacerou.


Bangalô do milionário Checo Diogo. Hoje funciona um colégio 
Gigantesco era o palacete do milionário Waldir Diogo de Siqueira, na esquina das avenidas Tristão Gonçalves e Duque de Caxias. Tinha porão, em toda sua extensão e um único piso social. Sem ter fachada muito rebuscada, chamava a atenção pelo grande número de portas com sacadas de ferro, principalmente no oitão que compreendia a avenida Duque de Caxias. Ao número dessas portas correspondiam as “vigias” do porão. Demolido, deu lugar a uma construção moderna que abriga um fórum trabalhista.

Na rua Barão do Rio Branco, local onde está agora, o prédio das Lojas Americanas, ficava o sobrado dos Paula Pessoa. Sua última ocupante foi dona Eloah, solteirona e monarquista intransigente que reinava, absoluta, no velho, mas simpático solar. Ainda nos anos 60, saia para a missa, na igreja do Rosário, toda de preto e com chapéu. Ficava indignada com as propostas de compra do seu sobrado e dizia que o mesmo só seria demolido se ela estivesse morta. Infelizmente, seus herdeiros não tinham a mesma sensibilidade e, tão logo a titular do belo solar faleceu, este foi vendido e, consequentemente, demolido, dando lugar ao popular magazine.

Muitas outras casas nobres tinha Fortaleza, na década de 40. Casas senhoriais, aristocráticas, símbolos de uma época de requinte, quando as famílias sabiam fazer tradição, porque havia cultura, bom gosto, refinamento, berço. Muitas dessas moradias foram demolidas, outras mutiladas, outras, simplesmente, estão fechadas, abandonadas, decadentes, como que chorando, na escuridão e no silêncio, a saudade dos tempos
de faustos e de luzes.  

Créditos/Fonte: Livro Royal Briar de Marciano Lopes, Arquivo Nirez, Pesquisas na internet, Google Earth, Arquivo MCals, Arquivo A. Capibaribe Neto e Raimundo Gomes



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