Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

domingo, 8 de junho de 2014

Nas ondas do rádio - Década de 40 (Parte III)

Os Diários e Emissoras Associados (a nova administração da emissora cearense) investiu profissionalmente no aperfeiçoamento da redação, apresentação dos programas e no que diz respeito à contratação de artistas renomados para se apresentarem nos auditórios da PRE-9. Dentre as atrações que passaram pela emissora cearense estiveram nomes como: Dilú Melo, Linda e Dicinha Batista, Manézinho Araújo e Uyara de Goiás, que eram recebidos como celebridades nas apresentações de auditório, que reuniam um público ansioso por conhecer de perto os ídolos, que até então só eram reconhecidos pela voz ou nas revistas vindas do Sul do País. Desde a chegada do rádio ao Ceará, os veículos impressos desempenharam um importante papel na divulgação dos eventos e da programação da pioneira Ceará Rádio Clube


Natal dos Lázaros - De pé, na apresentação do Show para os hansenianos (anos 60) o radialista Manuelito Eduardo Campos, que participou da Campanha por 32 anos.
Com a expansão do novo meio, os jornais passaram a explorar assuntos que ganhavam repercussão entre o público leitor, dentre estes, as campanhas sociais feitas pela emissora. O Natal dos Lázaros, por exemplo, foi uma das campanhas de maior destaque da rádio e que teve duração de 38 anos. 

“Eram apelos através dos microfones para que os ouvintes ajudassem a oferecer aos internos dos dois leprosários (Antônio Justa e Antônio Diogo) um Natal menos triste, com presentes, festas, missas ‘shows’, visitas, etc” (LOPES, 1994, p.142). 



Leprosário Antônio Diogo.
Além do Natal dos Lázaros, a PRE-9 também promoveu, por mais de 20 anos, o São João dos Lázaros. O jornal Correio do Ceará publicou, no dia 01 de junho de 1942, uma matéria especial sobre a campanha da Ceará Rádio Clube, que trazia como título: “Um pavilhão para os meninos leprosos – Será lançada, no próximo dia 23, a pedra fundamental – Cabral de Araújo fará o São João dos Lázaros em PRE-9”. A matéria comentava a generosidade do povo cearense e o empenho da emissora em 
ajudar os necessitados:

A iniciativa da PRE-9 foi coroada do mais compensador sucesso, graças à tenacidade dos seus dirigentes. Cabral de Araújo, o locutor chefe da emissora, foi o paladino dessa cruzada de filantropia que em todos encontrou a melhor guarida. Em poucos dias, conclamando os corações dadivosos, conseguiu a Rádio Clube local reunir uma soma apreciável de dinheiro e uma quantidade imensa de variedades ofertadas. (CORREIO DO CEARÁ, junho de 1942). 



Jornal Écos da Semana de 26 de setembro de 1948.


Visando angariar recursos para suas promoções, a emissora apostava na apresentação de grandes artistas locais e nacionais. O jornal Estado registrou, no dia 24 de janeiro de 1941, 
a participação de duas grandes estrelas nacionais na campanha em prol das vítimas da lepra. A matéria trazia como título: “Orlando Silva e Dorival Caymi cantaram para os Lázaros de Canafistula” (ESTADO, janeiro de 1941). 

Jornal Écos da Semana de 19 de dezembro de 1948.
Além de divulgarem as campanhas e realizações feitas pela PRE-9, os jornais também se envolveram em parcerias com a rádio. Os veículos impressos também publicavam as crônicas que iam ao ar pelo microfone da Ceará Rádio Clube. O programa “Cousas que o tempo levou” criado por Raimundo Menezes, na década de 1930, teve suas crônicas reproduzidas no jornal Gazeta de Notícia e, no ano de 1938 foram publicadas em livro. O programa trazia histórias de uma Fortaleza antiga e retratava “os usos e costumes de outras eras que se foram e não voltam mais e que merecem ser lembrados para conhecimento dos conterrâneos e dos porvindouros” (GAZETA DE NOTÍCIA, março de 1938). 


Jornal Écos da Semana de 21 de novembro de 1948.
Neste contexto podemos perceber que com a expansão do novo veículo, os jornais passaram a retratar na integra as crônicas irradiadas no rádio. Percebe-se que já nos primórdios da cultura de massa as mídias já convergiam entre si, nesse período o conteúdo dos jornais eram lidos, na íntegra, pelos radioamadores. Já durante as décadas de 1940 e 1950, os impressos passam a publicar seções especiais a respeito do veículo radiofônico. 

Os Programas de Auditório


Os programas de auditório consistiam em shows musicais, espetáculos de teatro,
circos e festas que induzindo o público a um estado de excitação contínua durante horas. Para
isso, os animadores contavam não apenas com a presença de cantores de sucesso, mas
também com o suporte musical de grandes orquestras, músicos solistas, conjuntos regionais,
humoristas e mágicos, aos quais se juntavam números exóticos, concursos à base de sorteios e distribuição de amostras de produtos aos presentes (TINHORÃO, 1981). Nessa época, os
estúdios e o auditório da Ceará Rádio Clube ocupavam os últimos andares do Edifício Diogo.
Os programas de auditório atraiam dezenas de pessoas para a sede da PRE-9. Blanchard Girão lembra que o local era de difícil acesso, por conta do prédio só possuir um elevador, porém nada servia de impedimento para os ouvintes assíduos. “Não se esperava o elevador, subia-se os dez andares a pé, coisinha pouca, pra tanta resistência juvenil” (GIRÃO, 1998, 273). 

As novas instalações da PRE-9 foram construídas obedecendo às necessidades da emissora,
contendo três estúdios e um palco-auditório com capacidade para 500 pessoas. O auditório, de excelentes dimensões, tinha toda a mecânica de um verdadeiro auditório. O palco, nas medidas ideais para comportar orquestra, piano de cauda, grupo de radioatores para os programas humorísticos, cantores e apresentadores, tinha cortina de veludo vermelho, a exemplo, dos grandes teatros (LOPES, 1994, p. 59).



Orquestras da Ceará Rádio Clube
Com a inauguração das suas novas instalações, a Ceará Rádio Clube investiu nos programas de auditório, que surgiram com os primeiros programas de calouros. Tais programas foram inseridos como mais uma opção de entretenimento e lazer, de vez que na cidade provinciana as cadeiras na calçada à noitinha era a oportunidade para o encontro e a troca de ideias. Jáder de Carvalho no seu livro Aldeota refere que "A roda-de-calçada vale por uma instituição. Vem do começo da cidade. Nela tudo se conversa, tudo se advinha, tudo se descobre. Apontam-se os casais infelizes. Dá-se notícia do movimento político. Entra-se na vida dos padres, das freiras. Aponta-se falta de recato, de pudor, em certo noivado (...) É uma maneira de conhecer Fortaleza sem sair de casa" (CARVALHO, 1963, p. 262-263).

A classe abastada fortalezense se divertia nas festas e nos bailes dançantes dos clubes sociais, excludentes aos menos favorecidos, para os quais restavam as alternativas dos passeios nas ruas do centro da cidade para “olhar as vitrines” ou uma ida ao Parque da Criança.

"Eu me lembro que nos pontos de encontro sempre se encontravam as mesmas pessoas. No cinema era a classe elegante que frequentava, vestia-se de paletó e gravata. Mas nos programas de auditórios era a classe média que ocupava o espaço.
Os populares não apareciam. Os programas de auditório eram muito bem 
frequentados." 
(BEZERRA, entrevista, 2006).



Auditório da Ceará Rádio Clube no Edifício Pajeú.
Dentre os programas de auditório de maior audiência estava o Clube do Papai Noel,
apresentado aos domingos por Paulo Cabral de Araújo, na sede do Edifício Pajeú. “As mães amantíssimas levavam os seus pimpolhos para cantar, declamar e fazer outros números artísticos” (LIMAVERDE, s/d, p. 53). Os artistas mais jovens da PRE-9 se apresentavam no programa para alegria da meninada que tinha como sonho virar astro do rádio. O programa era patrocinado pelo Sabão Pavão – “o melhor sabão do Brasil”


Gafes, piadas e histórias engraçadas ocorriam no decorrer das apresentações, sempre com o auditório lotado pelos radiouvintes. Paulo Cabral (2008) lembra da frequência constante de pais e filhos no auditório da PRE-9. “Para mim aquilo era uma alegria formidável, era uma maneira de aliviar o meu cansaço com o trabalho, era uma convivência direta com as crianças e os pais” (CABRAL, entrevista, 2008). 

Outro programa de auditório que fazia sucesso entre o público era o Programa de Calouros.
Os rapazes viam no show de calouros a oportunidade para tentar uma vaga no mundo mágico das celebridades. Para as ouvintes, aquele era um espaço privilegiado para “flertar, tirar linha, namorar, noivar, casar”, com um dos artistas locais ou nacionais que ali se apresentavam. Nesse espaço cunhou-se o termo popular “macaca de auditório”. Devido à superlotação dos espaços chegavam a ficar penduradas nas colunas, nas janelas, onde o corpo se adaptasse (ANDRADE E SILVA, s/d, p. 13).

Os programas de auditório registravam uma audiência cativa, porém somente
àqueles com determinado capital quer intelectual quer financeiro frequentavam as
apresentações da emissora. Outra atração que seduziu o rádio ouvinte foi a radionovela, de
rápida ascensão, ampliando sobremaneira a audiência e pautando as discussões nos espaços
públicos e domésticos da cidade.



Crédito: Francisca Íkara Ferreira Rodrigues (Graduada do Curso de Comunicação Social – Jornalismo, pela Universidade de Fortaleza – UNIFOR) e Erotilde Honório Silva (Professora Doutora em Sociologia, pela Universidade Federal do Ceará – UFC. Coordenadora da Pesquisa História e Memória da Radiodifusão Cearense – UNIFOR). A popularização do Rádio no Ceará na década de 1940: Trabalho apresentado no 7º Encontro Nacional de História da Mídia realizado em Fortaleza – Ceará, de 19 a 21 de agosto de 2009.)


quinta-feira, 29 de maio de 2014

Nas ondas do rádio - Década de 40 (Parte II)



O rápido avanço da emissora e o alcance do sucesso como empresa que pela especificidade do campo da informação foi referência cultural na cidade durante anos, deve-se especialmente ao investimento publicitário.

Foto histórica da Orquestra da Ceará Rádio CLub, obtida em 1947. 

O entretenimento esteve presente na cerimônia de inauguração das novas instalações da Ceará Rádio Clube, naquele ano de 1941. 


A programação musical foi iniciada pelo maestro italiano, recém contratado pela PRE-9, Hercules VaretoNa sequência, no auditório da emissora, sucederam-se várias apresentações de artistas locais e nacionais, destacando-se o grupo 4 Azes e 1 Coringa (Foto ao lado) e Orlando Silva - O Cantor das multidões, a grande atração do evento. “A cidade parou para receber a grande voz romântica do cancioneiro nacional, cantor que disputava as preferências do público juntamente com Francisco Alves, ‘o rei da voz’, que antes visitara o Ceará, para atuar ao microfone da PRE-9, em 1938” (CAMPOS, 1984, p. 11).

A partir de 1941, os programas da PRE-9 obedeciam ao script; a linguagem utilizada pelos locutores foi se adequando à técnica, as transmissões passaram a ter mais de um microfone e “para quase todos os programas, a direção exigia recursos musicais, orquestrados ou produzidos pelo sonoplasta, no caso o próprio discotecário” (CAMPOS, 1984, p 12). Com a mudança para o Edifício Diogo, disponibilizou para a sua audiência, um auditório de 100 lugares. Com a chegada das ondas curtas a emissora cearense reforçou os cuidados com a qualidade do que era produzido e divulgado pelos microfones da PRE-9. De acordo com Narcélio Limavede, “um locutor principiante nunca teria acesso ao microfone no momento em que a emissora tivesse no ar usando seus dois transmissores de ondas curtas, além do de onda média, este operando em todos os horários” (LIMAVERDE, 1999, p. 91). Ao locutor cabia a responsabilidade de irradiar a “Voz do Ceará” para o mundo, portanto somente profissionais com experiência comprovada e reconhecida pela competência e desempenho podiam conduzir determinados programas. Deste ponto de vista, o rádio se transformou em escola e alguns memorialistas falam até em faculdade. Na rotina da atividade, os funcionários aprendiam na prática com os mais experientes e também com os próprios erros. 


“O rádio foi pra mim a grande lição da minha vida, uma grande faculdade. No rádio eu aprendi muito” (CABRAL, entrevista, 2008). Para ingressar como locutor da Ceará Rádio Clube, os candidatos eram submetidos a difíceis testes de locução. Era um concurso com uma banca examinadora respeitável, participavam: João Dummar, o Secretário de Educação, um engenheiro. Então, era uma banca respeitável nós éramos 8 ou 9 candidatos, e eu era o número 9, e como eu fiz um improviso com uma certa facilidade acabei ganhando o concurso (CABRAL, entrevista, 2008).Ao passar pelo teste de locução da PRE-9, os speakers iniciantes eram impedidos de atuar nos horários do almoço e a partir das 20 horas, após A Hora do Brasil, tais horários eram tidos como “nobres” no período. A ansiedade era grande entre os novatos. “Tratava-se de uma glória para qualquer locutor da velha Ceará Rádio Clube, estação que recebia cartas dos mais longínquos países, dando conta de que estavam ouvindo suas emissões e pedindo confirmações” (LIMAVERDE, 1999, p. 91). Os cartões postais recebidos do exterior eram os troféus da emissora que investiu de forma profissional para conseguir alcançar o reconhecimento do público local, nacional e os conterrâneos que estavam morando no estrangeiro.

O Jornal Anuncia e Populariza o Rádio

Eram constantes as publicações no O Povo referentes à PRE-9. Em 1942, o jornal publicou uma matéria comemorativa do primeiro ano das ondas curtas no Estado. De acordo com a notícia, a Ceará Rádio Clube já era ouvida com êxito em toda parte da América. “Dia a dia, cresce o prestigio da estação de João Dummar, sendo considerável a sua legião de ouvintes” (O POVO, outubro de 1942).

A fama do empreendedorismo de Dummar ganhou o Brasil. A Ceará Rádio Clube, única emissora cearense no período, era sucesso entre o público de todas as idades. Tais fatos
despertaram o interesse de um dos maiores empresários do ramo da comunicação brasileira:
Assis Chateaubriand, dono dos Diários e Emissoras Associados.
João Dummar, que chegara ao Ceará aos sete anos de idade e dedicara sua vida ao progresso da terra que amava, teve seu processo de naturalização bloqueado na burocracia do Itamaraty e passou a ser instado por Assis Chateaubriand a vender a
Ceará Rádio Clube (DUMMAR FILHO, 2004, p. 71).
A legislação brasileira vigente na época determinava que o controle das empresas de radiodifusão deveria ser exclusivamente de brasileiros natos ou naturalizados. Esse foi um dos argumentos utilizados por Chateaubriand para obrigar Dummar a vender a PRE-9. Além
disso, alguns “boatos maldosos” envolvendo o nome da emissora começaram a circular pela capital cearense.

(...) Circulou um boato em Fortaleza de que o piscar das luzes fluorescentes que 
ornamentavam o estúdio da emissora no último andar do Edifício Diogo emitia sinais para os submarinos alemães. Para alimentar tal maledicência, apontavam ainda o solavox, instrumento eletrônico que acoplado ao piano emitia sons de órgão, insinuando que o mesmo emitia ondas de rádio. E reforçando a distorção dos fatos passaram a acusar o maestro italiano Ercole Varetto, que tinha sido contratado há mais de um ano para a orquestra da PRE-9, como suspeito de envolvimento neste acontecimento. Injustamente, o maestro teve que ser afastado de suas funções por pressões políticas e da opinião pública (DUMMAR FILHO, 2004, p. 71).

Assis Chateaubriand

Esses fatos culminaram com a venda da Ceará Rádio Clube para os Diários e Emissoras Associados, no dia 11 de janeiro de 1944. A compra da PRE-9 iria fortalecer o
império de comunicação de Chatô e compor o primeiro oligopólio dos meios de comunicação
de massa existentes no País. No decorrer das décadas seguintes outros se somariam a este.
Além da emissora, o presidente dos Associados também adquiriu os jornais cearenses:
Unitário e Correio do Ceará. A programação e a estrutura física da rádio passaram por significativas transformações. Como ocorreu no restante do país, o conglomerado de Assis
Chateaubriand começou a utilizar uma linguagem padrão em toda a sua rede de comunicação¹, distribuída no país inteiro, atingindo não só as capitais, mas também as pequenas cidades do Norte e Nordeste.


Os Diários e Emissoras Associados usavam profissionais de uma emissora em outra, exportavam programas de sucesso, além de aproveitarem a estrutura dos jornais do
grupo na redação e na comercialização da programação radiofônica. Assis Chateaubriand abusava do próprio poder para difundir seus ideais políticos. Mas era um típico exemplo de grupo que detinha uma rede de rádio – na verdade, tinha um conglomerado de comunicação (JUNG, 2005, p. 41).



Leia AQUI a primeira parte

¹ Segundo Ferraretto, apud Wainbeerg, o império de Assis Chateaubriand englobava 33 jornais, 25 emissoras de rádio, 22 estações de TV, uma editora, 28 revistas, duas agências de notícias, três empresas de serviços, uma de representação, uma agencia de publicidade, duas fazendas, três gráficas e duas gravadoras de discos.  (FERRARETTO, 2001, p. 131)





Crédito: Francisca Íkara Ferreira Rodrigues (Graduada do Curso de Comunicação Social – Jornalismo, pela Universidade de Fortaleza – UNIFOR) e Erotilde Honório Silva (Professora Doutora em Sociologia, pela Universidade Federal do Ceará – UFC. Coordenadora da Pesquisa História e Memória da Radiodifusão Cearense – UNIFOR). A popularização do Rádio no Ceará na década de 1940: Trabalho apresentado no 7º Encontro Nacional de História da Mídia realizado em Fortaleza – Ceará, de 19 a 21 de agosto de 2009.)


sábado, 24 de maio de 2014

Nas ondas do rádio - Década de 40



A primeira emissora radiofônica cearense, a Ceará Rádio Clube, surgiu em 1934, período, no qual o rádio comercial já despontava em todo o Brasil. Três anos antes, em 27 de maio de 1931, o presidente Getúlio Vargas promulgou o primeiro estatuto específico da radiodifusão brasileira. De acordo com o Decreto nº 20.047, a radiodifusão foi definida como um “serviço de interesse nacional e de finalidade educativa”. “Um ano depois, através do Decreto nº 21.111, de primeiro de março de 1932, autorizou a veiculação de propaganda, limitada a 10% do tempo de transmissão” (JAMBEIRO, 2004, p. 49). Com a inserção da publicidade e o barateamento dos aparelhos transmissores “a estrutura da programação, a linguagem empregada e os anúncios sofrem alterações” (SILVA, 1999, p. 25). O rádio começava a se estruturar como um veículo de comunicação voltado para auferir lucros, por meio dos anúncios, estimulando o consumo de bens cada vez mais disponíveis no mercado.

A Transmissão em Ondas Curtas

No Ceará, durante a década de 1930, o rádio se manteve como um veículo restrito a uma pequena parcela da sociedade: a elite fortalezense. O alto custo dos aparelhos e o baixo alcance da emissora de João Dummar eram fatores que impossibilitavam a expansão do novo meio de comunicação no Estado. Imbuído da vontade de ampliação da empresa nascente, João Dummar, no ano de 1939, vai à capital do País em busca de melhorias para a Ceará Rádio Clube. No ano seguinte, em 1940, retorna à Fortaleza com a novidade tecnológica a ser implantada na PRE-9: a transmissão em ondas curtas. 



Um jornal da época publicou:

“João Dummar em Fortaleza – A nova estação da PRE-9 será inaugurada ainda este ano”

De acordo com a notícia, o regresso do empresário vinha sendo aguardado ansiosamente por todos aqueles que apostaram no rádio como mediador do entretenimento, do lazer e da informação, fatores determinantes para o crescimento regional. A chegada das ondas curtas era anunciada pelos jornais, que acompanhavam o dia-a-dia das negociações do empresário Dummar no Sul do País. 

No dia 10 de outubro de 1940, o jornal publicou a data de início para a preparação dos novos equipamentos e das novas instalações da rádio:

PRE-9 iniciará, terça-feira próxima (15 de outubro de 1940), a fase preparatória para instalação do seu possante equipamento de ondas curtas, o que fará o Ceará ser ouvido em toda a América. Assim, terça-feira, será apresentado, um programa especial, desfilando todos os principais elementos do seu elenco, numa homenagem a Imprensa desta capital.



No dia 29 de agosto de 1941, a Ceará Rádio Clube deu início às transmissões em ondas curtas e inaugurou seus novos estúdios. A estação recebeu autorização para mudar do Bairro Damas para o oitavo e nono andares do Edifício Diogo, localizado no centro da capital. 

“João Dummar contratou o radialista Dermival Costalima como diretor artístico da PRE-9, cuja equipe de locutores era composta por José Limaverde, Raimundo Menezes e Paulo Cabral de Araújo (DUMMAR FILHO, 2004, p. 54). 


No dia da inauguração das novas instalações da PRE-9, 12 de outubro de 1941, o jornal O Povo publicou um caderno especial relatando todos os detalhes das novas instalações. A publicação tinha como título: 

“A Voz do Ceará – Inaugurada oficialmente a Emissora de Ondas Curtas de Fortaleza”
O jornal destacou que o evento incorporaria, em definitivo, a emissora cearense à grande radiofonia brasileira.
O Ceará falou ao mundo. Sua voz ultrapassou as fronteiras, repercutindo lá fora as ressonâncias das nossas conquistas culturais e econômicas fazendo sentir a sua presença neste recanto longínquo da terra, numa afirmação universal de nosso progresso e de nossa grandeza (O POVO, outubro de 1941).




O jornal trouxe como manchete de capa, no dia 29 de setembro de 1941, uma 
matéria que detalhava o esquema de inauguração dos novos estúdios e dos novos aparatos técnicos adquiridos pela emissora. A notícia trazia o título: 

“A inauguração da nova PRE-9 – João Dummar fala ao O Povo sobre a festa do dia 12 – Orlando Silva e Dorival Caymmi na Estréia da possante Emissora – Jorge Tavares e Milton Moreira ficarão em Fortaleza”

A chegada da transmissão por ondas curtas possibilitou um alcance maior de público, a emissora assumiria, a partir de então, a posição de veículo de comunicação de massa, que segundo Thompson (1995, p. 299), “amplia a acessibilidade das formas simbólicas no tempo e espaço”. A emissora cearense passou a ser ouvida em lugares distantes.

Nós tínhamos uma capacidade de propagação incrível, uma frequência muito curta com grande propagação. A Ceará Rádio Clube ganhou, na Suécia, um concurso que foi feito para escolher a emissora estrangeira de maior audiência. Nós tivemos a honra de ser a emissora mais ouvida naquele país (CABRAL, entrevista, 2008).




O jornal O Povo do dia 10 de outubro de 1941, trouxe como manchete de capa:

“PRE-9 ouvida em New York – O Povo estampa o do cartão que transmitiu a interessante notícia”

A matéria informava que as transmissões experimentais de ondas curtas da emissora cearense foram ouvidas com nitidez na cidade americana. O jornal publicou o cartão enviado, aos irmãos Dummar, pelo cearense João Hortêncio de Medeiros, que se encontrava naquela cidade. No cartão vinha a seguinte informação: “Tenho ouvido nitidamente e com bom volume, com um pequeno rádio de seis válvulas, as irradiações experimentais da PRE-9. Minhas entusiásticas felicitações pelo sucesso de tão importante empreendimento” (O POVO, outubro de 1941). 
O propósito era expandir comercialmente a nova mídia aumentando não só o seu alcance, mas dotando a emissora de amplas instalações, além de investir na profissionalização dos seus funcionários.
As novidades não se resumiam apenas à chegada da nova tecnologia, Dummar
resolveu inaugurar “programas de vivo interesse”, tendo como meta popularizar o meio para conseguir captar parcelas ainda intocadas de público das mais variadas idades e classes sociais. Nesse contexto, foram inseridos os programas de entretenimento com ênfase na cultura local, na cultura erudita e, neste momento, na cultura de massa advinda da Rádio Nacional, que fazia repercutir o que a modernidade ditava.

O Entretenimento Como Foco da Programação

A chegada das ondas curtas a Fortaleza deu início ao período de popularização do rádio cearense, época em que o entretenimento passou a ser predominante na programação radiofônica. Diante do alcance do meio radiofônico, ampliado a todas as classes sociais, as empresas começaram a investir em anúncios no rádio. Com isto, o veículo ampliou sua inserção na cidade, impulsionado pelos anúncios das casas comerciais, fábricas têxteis,
fábricas de cigarro e da ainda incipiente indústria que surgia no Estado. 

Em meados da década de 1940, cerca de 60% do capital destinado à publicidade, pelas empresas cearenses, era aplicado no rádio na forma de anúncios ou patrocínio de programas (ANDRADE e SILVA, 2007, p.4).

Naquele tempo não havia nada gravado, os anúncios eram todos lidos, era uma cartela, várias, assim como se fosse do tamanho de uma cartela de bingo, eram várias cartelas daquele tipo colecionadas e a pessoa ia passando, ia lendo a mensagem (CAMPOS, entrevista, 2005).




Crédito: Francisca Íkara Ferreira Rodrigues (Graduada do Curso de Comunicação Social – Jornalismo, pela Universidade de Fortaleza – UNIFOR) e Erotilde Honório Silva (Professora Doutora em Sociologia, pela Universidade Federal do Ceará – UFC. Coordenadora da Pesquisa História e Memória da Radiodifusão Cearense – UNIFOR). A popularização do Rádio no Ceará na década de 1940: Trabalho apresentado no 7º Encontro Nacional de História da Mídia realizado em Fortaleza – Ceará, de 19 a 21 de agosto de 2009.)


sábado, 10 de maio de 2014

Praça José de Alencar - Destino aos bairros da capital


Anos 60

Apesar do belo Teatro José de Alencar situado ali, o local não recebia uma conservação e limpeza ideal, talvez pelo intenso tráfego de veículos e pessoas vindas dos quatro cantos da cidade. Estrategicamente localizada, a Praça se transformou já na década de 1960, num dos pontos mais congestionados da cidade.


Durante muitos anos, a Praça José de Alencar, foi o principal ponto de partida de várias linhas de ônibus que tinham como destino os bairros da capital. Como a maioria das linhas tinham como trajeto o centro, várias delas foram sendo posicionadas na Praça, transformando-a num dos primeiros grandes terminais de ônibus de Fortaleza.

Com o difícil transito nos arredores, começava a transferência de paradas para outros locais do centro, como a Praça da Estação , por exemplo. Na segunda metade da década de 1960, já se falava em planos para a retirada dos ônibus da Praça José de Alencar

Em 1971, o então prefeito José Walter Cavalcante entregou a reforma da Praça Castro Carreira, conhecida como Praça da Estação, sendo adaptada para servir como terminal de transportes coletivos. Para lá, foram transferidas 14 linhas da Praça José de Alencar, juntando-se aos ônibus de linhas intermunicipais.


Na gestão do prefeito Evandro Ayres de Moura, em 1975, decidiu-se por uma reforma radical na Praça José de Alencar, com isto, deixaria de funcionar como terminal de ônibus. Os coletivos passariam a ser do tipo circular, com paradas rápidas de dois em dois quarteirões no perímetro central. Os terminais de ônibus sairiam da Praça José de Alencar para as avenidas Tristão Gonçalves e Imperador, entretanto, não foi isso que aconteceu a curto prazo.


Ainda em 1975, uma pesquisa realizada pelo Departamento Estadual de Trânsito, revelou que mais de 300 ônibus penetravam por hora na Praça José de Alencar, trazendo a necessidade de modificações de trafego no local, como a possibilidade de inverter mão em algumas ruas. A Praça José de Alencar tornou-se o maior terminal de passageiros urbanos da capital cearense, porém, em péssimas condições, pois os abrigos encontravam-se caindo aos pedaços, colocando em risco os passageiros que ali aguardavam seus ônibus. A sujeira também era outro agravante que fazia da Praça um feio cartão de visita para a cidade.

Um plano de transformação para desafogar o trânsito de veículos no centro começou com a reforma da Praça da Estação em 1978. Para lá, seriam transferidas todas as linhas do chamado Canal 2, aqueles coletivos que circulavam sobre a Bezerra de Menezes com destino ao centro, assim como as linhas do Canal 1, compreendendo os ônibus que demandavam da Barra do Ceará e da Avenida Francisco Sá. Totalmente reformada e adaptada para terminal de ônibus, a Praça da Estação foi entregue em 1979, organizando melhor o trânsito de coletivos na Praça José de Alencar.



Como ficou a distribuição das linhas

Com a entrega da Praça da Estação, foram transferidas da Praça José de Alencar as seguintes linhas: Bezerra de Menezes, Conrado Cabral, João Arruda, Jardim Iracema, Vila Santo Antonio, Nossa Senhora das Graças, Jacarecanga, Francisco Sá, Álvaro Weyne, Beira Rio, Cristo Redentor, Colônia, Monte Castelo, Santa Maria, Retorno, Bairro Ellery, Antônio Bezerra, Autran Nunes, Parque Araxá, Amadeu Furtado, Presidente Kennedy, Barra do Ceará (221), Jardim Guanabara, Conjunto Polar, Quintino Cunha, Padre Andrade, Barra do Ceará (222) e Conjunto Nova Assunção.

Agora seria a vez da tão esperada reforma da Praça José de Alencar. Com o início das obras, os ônibus foram transferidos provisoriamente para a Av. Tristão Gonçalves e Praça do Carmo. Com as modificações, somente os ônibus passariam a circular no perímetro da Praça através de um novo sistema de circulação do terminal. 

A praça após a reforma de 1979

Os novos abrigos de estrutura metálica instalados para abrigar cerca de 50 linhas de ônibus ficaram posicionados apenas nos lados das ruas 24 de maio e Guilherme Rocha.

A reforma do terminal da Praça José de Alencar foi concluída em dezembro de 1979, agora recebendo um total de 54 linhas: 

  •  Aguanambi 01 e 02
  •  Av. 13 de Maio
  • Castelão - via Parangaba
  • Santa Tereza
  • Parque Dois Irmãos – Expedicionários;
  • Montese
  • Vila Sarita;
  • Av. Expedicionários – Perimetral;
  • Prefeito José Walter – Expedicionários;
  • Prefeito José Walter – Castelão;
  • Prefeito José Walter – DNER;
  • Prefeito José Walter – J;
  • Prefeito José Walter – L;
  • Mondubim – Siqueira;
  • Mondubim – Maraponga;
  • Messejana – Itaperi;
  • Jardim Cearense;
  • Itaoca – Expedicionários;
  • Itaoca;
  • Couto Fernandes;
  • Av. Gen. Osório de Paiva;
  • Vila Manuel Sátiro;
  • Parque São José;
  • Parque Santa rosa;
  • Av. Expedicionários – Perimetral;
  • Bela Vista;
  • São Raimundo;
  • Rodolfo Teófilo - José Bastos;
  • Rodolfo Teófilo - B. Menezes;
  • Parangaba;
  • Av. José Bastos;
  • São Francisco;
  • Bairro João XXIII;
  • Lineu Machado;
  • Henrique Jorge;
  • Cel. Francisco Nunes;
  • Demócrito Rocha;
  • Pan Americano;
  • Jardim América - via Prado;
  • Prado - via Jardim América;
  • Vila União;
  • Aeroporto - via Benfica;
  • Jovita Feitosa;
  • Parque São Vicente;
  • Canindezinho – Jatobá;
  • Clube de Regatas - V. Betânia;
  • Bom Jardim;
  • Parque Santa Cecília;
  • Parque Santo Amaro;
  • Granja Portugal;
  • Bom Sucesso;
  • Conj. Ceará - 1ª  Etapa;
  • Conj. Ceará - 2ª  Etapa;
  • Conj. Ceará - 3ª Etapa.

A Praça em 1981

Com as modificações, a sensação foi que a Praça José de Alencar ficou ilhada, não para os ônibus que tinham ali como ponto de retorno, mas para os automóveis particulares, pois perdiam mais uma via de acesso para acessar a região central da cidade. Assim permaneceu até 1987, quando foi decidido pela extinção daquele terminal.

A desmontagem iniciou em novembro daquele ano, as 52 linhas de ônibus que paravam ali, seriam agora distribuídas por pontos estratégicos ao longo do centro. O intuito do projeto era o reaproveitamento da Praça José de Alencar para ser um espaço tipicamente cultural e de lazer para a cidade. Com os trabalhos de recuperação, foram abertos trechos das ruas General Sampaio, São Paulo e 24 de Maio, proporcionando condições adequadas para o trânsito dos veículos na área.


Último ano de funcionamento do terminal de ônibus na Praça José de Alencar

Relação das linhas após a extinção do terminal 

Com a extinção do terminal, os trabalhos se dirigiram para a recuperação de uma das praças mais antigas de Fortaleza, sob administração da prefeita Maria Luíza Fontenele. Foram plantadas mudas de árvores no lugar dos pontos onde anteriormente se mantinham as paradas de ônibus, além de obras de limpeza e desobstrução da canalização de esgotos nas ruas adjacentes, diminuindo a proliferação de lama e dejetos na área que, durante alguns anos, acumulavam-se naquele trecho.

Um reordenamento definitivo entrou em vigor apenas em 1988, quando o Detran e a Prefeitura demoraram a encontrar um acordo comum para a elaboração de uma proposta técnica para circulação e parada de ônibus urbanos na área central. As mudanças não resolveram os problemas de mobilidade no centro de Fortaleza, mas improvisou as ruas comerciais do centro com paradas distribuídas nas próprias calçadas.


Sistema de paradas do centro criado em 1988 (Arte: Fortalbus)

Com a criação do Sistema Integrado em 1992, a concentração das linhas no Centro que era em torno de 95%, passaram a ser distribuídas por outras regiões da cidade, diminuindo o número de linhas que seguiam para a região central.
Como bem conhecemos hoje, essas linhas, chamadas alimentadoras, deixam o passageiro no terminal integrado que de lá seguem ao centro sem a necessidade de pagar uma outra tarifa, sistema que se aplica para todas as regiões da cidade. Atualmente, essa integração se expande para fora dos limites físicos dos terminais, através do bilhete único que permite múltiplos embarques no período de 2 horas.

Av. da Universidade, um dos principais corredores de acesso ao centro - Década de 1990

Sete terminais integrados foram criados por vários bairros de Fortaleza, equipamentos com estrutura planejada e bem diferente daquele primeiro grande terminal da cidade localizado nos arredores da Praça José de Alencar, um ponto que serviu durante décadas como o principal local de embarque e desembarque dos fortalezenses que tinham como destino a principal região comercial da capital cearense.



Crédito: Fortalbus


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