Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Resultados da pesquisa terminais de ônibus
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.
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quinta-feira, 20 de junho de 2019

Jóquei Clube - O sítio que virou bairro

O bairro Jóquei Clube foi erigido no local onde existiu, por volta de 1800, o cemitério dos índios Marupiara (bons caçadores). O território, que abrigou durante muito tempo o Hipódromo Stênio Gomes da Silva, começou a ganhar ares de bairro logo após Nestor Cabral ter o seu sítio hipotecado por seu filho Laurindo.

Um alemão chamado Franz Wierzbicki, que veio embora do seu país para o Brasil após a eclosão da I Guerra Mundial, instalou-se nas vizinhanças do futuro bairro, mais precisamente no Sítio São Pedro (Parangaba), por trás do local onde existe hoje o Terminal Lagoa.

Casamento de Franz e Hedwig
(apelidada de Margarida) em

12 de maio de 1918, em Berlim.
Em 1930, tomou conhecimento da hipoteca do vizinho e resolveu assumi-la dois anos depois. O pagamento foi feito com o dinheiro que usava para pagar o aluguel da antiga moradia. Na época, começou a comprar gado holandês e a vender o leite para os amigos que trabalhavam com ele na antiga Rede de Viação Cearense (com o ofício de caldeireiro Franz conseguiu emprego nas oficinas do Urubu, da RVC e assim conseguiu sua estabilidade financeira), o que o ajudou a sacramentar o negócio.

Assim, Franz tornou-se proprietário do sítio que recebeu o nome de Sítio Glück-auf, expressão alemã que significa "Feliz regresso" ou "Minerador sortudo". Foi essa propriedade que que deu origem ao bairro.
Por ser alemão, sofreu pressão dos militares durante a Segunda Guerra Mundial. Por isso, acabou vendendo a área onde depois seria construído o Jockey Club Cearense.
Banner escrito pelo bisneto Guethner Gadelha Wirtzbiki sobre Franz Wirtzbiki que está exposto no Ecopoint
 Página 139, do livro 17, Locomoção, temos o Registro de Pessoal Jornaleiro, que trata dos contratados da Estrada de Ferro, no caso específico, da RVC, Rede de Viação Cearense. Importante observar que Franz Wirtzbiki foi admitido no dia 22 de Novembro de 1922 e dispensado no dia 04 de Abril de 1938. Ou seja, permaneceu quase 16 anos no emprego da RVC. Acervo pessoal de Guethner Wirtzbiki.
A criação oficial do bairro é dia 05 de outubro de 1949. É um bairro que fica da zona centro-leste de Fortaleza e faz parte da Secretaria Executiva Regional (SER III). Segundo o Censo de 2010 do IBGE, a população era de 20 mil habitantes.
Sítio Glück-Auf (Feliz Regresso), primeiro imóvel edificado no bairro do Jóquei Clube. A sua construção foi feita logo após o alemão Franz tê-lo comprado, em 31 de março de 1932, do cearense Nestor Cabral.

Fotos e informações retiradas do banner escrito pelo bisneto do alemão, Guethner Gadelha Wirtzbiki, exposto no Ecopoint.
De acordo com Guethner Gadelha Wirtzbiki (bisneto de Franz), depois de anos morando na casa, e após algumas reformas, a família vendeu o imóvel para o Dr. Manuel Suliano Filho. O terreno compreende hoje o Centro Universitário Estácio e o Condomínio Residencial Jockey. Após comprar o sítio, Dr. Suliano instalou sua clínica na casa. Com o crescimento do negócio, ele construiu na parte livre do terreno, um novo prédio, que foi o seu hospital psiquiátrico, batizado de Clínica de Saúde Mental Dr Suliano. Alienou o terreno onde estava a primeira casa (clínica) e vendeu para a Construtora Mota Machado, que derrubou a casa e construiu os blocos de apartamentos.


A Clínica de Saúde Mental Dr Suliano hoje é o Centro Universitário Estácio
No lugar da antiga casinha (clínica), hoje está o Residencial Jockey
Em 2012, o bairro Jóquei Clube completou 63 anos de criação. O embrião do bairro foi o Sítio Glük-Auf. Aos poucos, ele foi atraindo moradores para a região.

Terminal Parangaba inaugurado em 7 de agosto de 1993
Acervo Fortalbus
Hoje, o bairro Jóquei Clube tem as suas ruas todas pavimentadas, água, luz, telefonia e rede de esgoto. Está a 6 Km do bairro Centro e a 9 Km do bairro Aldeota, com acessos rápidos por grandes avenidas, como a José Bastos, João Pessoa Senador Fernandes Távora.
Tem uma topografia elevada que lhe confere tranquilidade no período invernoso, pois, mesmo após chuvas torrenciais, as águas logo escoam para regiões mais baixas.
Tem na região dois terminais de ônibus (Lagoa e Parangaba) bem como dois ramais do Metrô (VLT) que se cruzam na Parangaba ao lado do Shopping e do Terminal de mesmo nome.

Terminal Lagoa inaugurado em 1993 - Acervo Fortalbus
O sapateiro João Bosco, que mora na rua Ribeiro Leitão, 576, é um dos maiores contadores de histórias do bairro. Morador do bairro desde 1964, ele relembra que o hipódromo Jockey Club era um local movimentado no início da década de 90. Segundo ele, o famoso palhaço Tiririca montou o primeiro circo na rua onde mora. "Isso foi na década de 80. Depois ele cresceu e hoje é deputado".

O Hipódromo

Stênio Gomes da Silva, então interventor do Estado do Ceará na época, cedeu o terreno vendido pelo alemão Franz Wierzbicki, para a construção do Jockey Club Cearense.
O Jockey foi então construído em 1947, tendo a sua primeira ata de sessão preparatória de fundação em 05 de agosto, com o objetivo de desenvolver o turfe no Ceará. Sendo realizada a primeira eleição de diretoria da sociedade aos 02 de setembro do mesmo ano.

Em 07 de setembro de 1947, o Exmo Sr. Desembargador Faustino de Albuquerque, Governador do Estado do Ceará declarou oficialmente fundado e instalado o Jockey Club Cearense e legalmente empossada a sua primeira diretoria eleita tendo como presidente o Dr. Acrísio Moreira da Rocha.

A primeira corrida aconteceu em 15 de novembro de 1949. Sua sede estava localizada à Avenida Lineu Machado, 419. O projeto de arquitetura era do competente arquiteto húngaro Emílio Hinko e chamava a atenção pela suntuosidade.

Jockey Club recém inaugurado. Registro da década de 40. Arquivo Nirez
No hipódromo foram realizadas grandes corridas de cavalo, onde se reuniram milhares de fortalezenses. O Jockey Club teve momentos de glória durante muitos anos. O seu funcionamento colaborou fortemente para o crescimento e valorização da região.





Diante de um intenso processo de especulação imobiliária, a diretoria do Jockey negociou a venda da sua antiga sede. Um acordo com a Prefeitura de Fortaleza, que pretendia construir em parte do terreno o Hospital da Mulher, garantiu a venda do terreno para a Construtora Diagonal & Rossi pelo valor de R$ 22 milhões e 500 mil.

Com os recursos, a diretoria do Jockey Club iniciou a procura de um local para a nova sede e a sua devida construção. Em 2008 a sede foi negociada e houve a aquisição de um terreno no Município de Aquiraz, com o início da construção das novas instalações.



A antiga sede do clube então foi vendida e o terreno deu espaço a novos empreendimentos. Além do Hospital de Mulher, também foi construído no terreno o North Shopping Jóquei e 5 condomínios de apartamentos, chamados de Jóquei Ville, também da construtora Diagonal & Rossi.

Morre o fundador do bairro

Dona Margarida com os netos
Com a morte de Franz Wierzbicki, em 10 de outubro de 1953, e a conclusão do seu inventário, em 1955, os quatro filhos - Erika, Geraldo, Heinz e Günther - e a viúva Hedwig Grete Alma Olga Frentz, apelidada de dona Margarida, passaram a negociar os lotes. 

Toda essa narrativa faz parte do livro que está sendo escrito pelo bisneto do alemão, o escritor e cordelista Guethner Wirtzbiki, intitulado Glück-Auf (o sítio que virou bairro).

De acordo com o escritor, quando foi iniciado o serviço de terraplenagem do terreno do futuro hipódromo, os trabalhadores se depararam com várias botijas dos originais índios Marupiaras (bons caçadores), pois, de acordo com a tradição deles, os seus utensílios eram enterrados com os seus corpos. Em Fortaleza, espalhou-se a notícia de que havia sido encontrada uma espécie de tesouro. O resultado foi uma grande correria ao local.

Franz Wierzbicki
Urge ressaltar o fato notório mas pouco enfatizado de que uma das razões principais do sucesso do bairro Jóquei Clube também se deveu ao fato de ter sido ORIGINADO DE UMA FAMÍLIA. Todo início determina uma história e "família" é a "célula mater" de qualquer sociedade. 

Ah, antes que eu esqueça, Franz (apelidado de Chico Alemão) foi padrinho de casamento da escritora Raquel de Queiroz.

Dona Margarida assinando a venda do terreno para a
construção do estádio.
Em 1955, já de posse da herança do marido, dona Margarida, vende o  terreno onde seria construído o Estádio Alcides Santos, pertencente ao time do Fortaleza Esporte Clube.
Na foto, vemos a viúva assinando o documento de venda.
A inauguração contou com as presenças dos ex-dirigentes do Leão, José Raimundo Costa e Luis Rolim Filho.

Dona Margarida, teve papel importante na formação do Bairro Jóquei Clube, após a morte do seu marido. Foi ela quem doou um terreno para o Círculo Operário de Fortaleza e outro para a Igreja Adventista do Sétimo Dia, além de vender muitos terrenos a particulares, o que facilitou o povoamento da região.

Hedwig, faleceu em Fortaleza, na Casa de saúde São Raimundo, no dia 21 de Maio de 1981, aos 84 anos de idade.


Ecopoint - Parque Ambiental

Em 16 de janeiro de 2001, foi fundado o Ecopoint. No local, os visitantes se deparam com uma espécie de zoológico, onde são encontradas espécies da fauna brasileira, como onça pintada, jacaré, pavão, tartaruga, macaco barrigudo, entre outras.

As suas instalações estão localizadas na esquina da Avenida Senador Fernandes Távora com a Avenida Lineu Machado, de frente para o North Shopping Jóquei.

Mudança na fachada durante os anos...


A concepção do Ecopoint contou com a participação do Instituto Homem Terra, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e do Zoológico Sargento Prata. A iniciativa é inédita no Ceará. Um convênio com a Prefeitura permite às escolas municipais a visitação ao local. Quase que diariamente, grupos de 40 alunos se encantam com esse pedaço da Natureza.

Hospital da Mulher

Promessa de campanha de Luizianne Lins ainda na primeira eleição para prefeita, o Hospital da Mulher, é um grande centro de excelência voltado para o atendimento no campo dos direitos reprodutivos e sexuais das mulheres.

As obras tiveram início em maio de 2008 e o prazo previsto seria de um ano e seis meses para a conclusão da obra, mas demorou bem mais do que se esperava. Depois de vários  anúncios de datas de entrega, que não se cumpriram, a prefeita finalmente inaugurou o hospital no dia 17 de agosto de 2012.
Hospital da Mulher - Lado pela avenida Carneiro de Mendonça. 
Mudanças durante os anos...

North Shopping Jóquei

Inaugurado em 30 de outubro de 2013, o North Shopping Jóquei, chegou ao bairro para suprir uma necessidade de mercado. Foi projetado em todos os detalhes para atender aos desejos da nova classe média fortalezense. Com base nos mais modernos conceitos da indústria, o North Shopping Jóquei é um marco para o varejo local.

 Construção do Shopping


O shopping foi criado com 60.000 m², sendo 33.000 m² já na primeira fase; 5 lojas-âncoras; 18 mega lojas; 200 lojas satélites; complexo de cinema com tecnologia 3D e Game Station; “Espaço família” com fraldário, empréstimo de carrinho de bebê e banheiro infantil; 2.000 vagas de estacionamento, sendo 1.000 vagas cobertas no sub-solo.



Para o lazer de seus visitantes, o North Shopping Jóquei conta com um cinema, operado pela Cinépolis, com cinco salas (duas com tecnologia 3D) e Game Station, com mais de 1.000 m² de jogos eletrônicos. A praça de alimentação tem mais de 5.000 m² e vista panorâmica exclusiva, com uma fachada de vidro de 242 m², levando a luz natural para o espaço que reúne 27 operações de fast food e mais de 1.500 confortáveis lugares para os consumidores. A obra foi executada pela Construtora Diagonal.

Logo após a sua inauguração, no bairro vizinho, outro empreendimento, o Shopping Parangaba também foi inaugurado. Ambos trouxeram muitos atrativos de desenvolvimento para esta região, além de proporcionarem a população acesso às grandes lojas do Brasil, cinemas, área de lazer, etc.
O Shopping Jockey tem uma belíssima arquitetura, tanto externa quanto internamente e um gigantesco estacionamento, ao ar livre e subterrâneo. 


Observação:

Importante salientar que, antes da construção do Jockey Club Cearense, já tínhamos corridas de cavalo, o nosso Jóquei Clube era o Campo do Prado, que também era estádio de futebol. O campo ficava onde hoje está o IFCE e o PV.
O Campo do Prado abrigou os principais jogos do futebol cearense até a construção do PV. Títulos eram conquistados em meio à poeira e lama.
O campo era de terra batida e, ao redor, havia a pista de corrida de cavalos. Havia ainda algumas arquibancadas de madeira e cerca de arame farpado por todos os lados.

1930. Campo do Prado, antigo jóquei. Ficava entre o IFCE e o PV. Acervo Lucas

Antigo Campo do Prado, antecessor do Estádio Presidente Vargas. Foto: Airton Fontenele

Antes do Campo do Prado, as praças da cidade eram utilizadas como campos para disputa de partidas. Além do Passeio Público, o futebol era praticado na Praça de Pelotas (atual Praça Clóvis Beviláqua, em frente à Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará - UFC), Praça Castro Carreira (da Estação), Praça Capistrano de Abreu (da Lagoinha) e Praça Gustavo Barroso (Praça do Liceu). As ruas do Centro da cidade também eram utilizados como campos para jogos.

Campo do Prado surgiu em 1913, inaugurado em um jogo entre Hispéria - clube de alguns desportistas que acabara de surgir - e Stela - clube formado por alguns rapazes que estudaram na Suíça e que, mais tarde, originaria o Fortaleza Esporte Clube.

O Campo era de barro batido. Não havia gramado. Quando tinha partida importante ou então alguma temporada dos grandes clubes, vinha um carro do Corpo de Bombeiros e aguava o barro para diminuir a poeira.

Arquivo Nirez







Fontes: Ancestralidade de Guethner WirtzbikiSetydeias/ Diário do Nordeste: No Jóquei Clube, um sítio marca a história. Matéria de 09 de dezembro de 2009./ Globo Esporte/ ESC Construções/Biblioteca Nacional e pesquisas de internet.

terça-feira, 15 de janeiro de 2019

Parangaba - Por Assis Lima


Estação de Porangaba em 1913. Arquivo José Capelo
 "A formação toponímica de Parangaba vem de Porangaba, que significa em tupi-guarani “Lindeza” referindo-se a sua bela lagoa.
Em 1607, a antiga aldeia indígena Potyguara foi transformada num lugarejo fundado pelos jesuítas com o nome de Missão Porangaba, pois, nesse período teve inicio a evangelização das populações indígenas, onde foi profícuo o ministério do padre Francisco Pinto, a quem os nativos chamavam Pai Pina ou Amanaiara “O Senhor das Chuvas”.
 

Porangaba em 1919.

Durante a passagem de Martins Soares Moreno pelo Siará Grande (1612-1631), o célebre índio Jacaúna (irmão de Camarão) que, havia fixado sua tribo nas margens da lagoa Porangaba protegeu e bastante, a Martins Soares, pois o tratou por  filho. Jacaúna foi mais carismático do que os jesuítas, pois os mesmos haviam dado uma parada em sua missão evangelizadora, reiniciando os trabalhos somente em 1694.

Quando o Marquês de Pombal aos 14 de setembro de 1758, por Ordem Régia, extinguiu a Companhia de Jesus, os portugueses com uma cartilha do bispado de Coimbra, nomearam o povoado da lagoa de “Arronches” e, aos 25 de outubro de 1759 passou a se chamar Vila Nova de Arronches quando a mesma passou à categoria de Vila e Freguesia.
Com uma distancia de légua e meia da capital, essa Vila Tinha seis quilômetros em quadrado e era habitada por índios, os quais tinham a faculdade de plantarem na serra de Maranguape. Arronches era habitada por 1.080 índios, 693 extra-naturais e tinha uma cadeia e a sua Casa de Câmara com intendente.


Parangaba - Em destaque a casa da Intendência
Uma separata da Revista do Instituto do Ceará publicada em 1898, diz que o Engº português Antônio José da Silva Paulet (ajudante de obras do governador Inácio de Sampaio) chegando a Fortaleza em 1812, fez um levantamento e constatou que a Vila estava quase em ruínas com apenas 13 índios, 12 extra-naturais e 25 casas dentre as quais só 13 em estado de habitação. O Dr. Paulet então sugeriu que a Vila se unisse à Fortaleza, coisa que, aconteceria em 1833 quando o Conselho de Governo extinguiu a mesma, anexando também dois anos após sua freguesia à Capital.
Em 1836, o então Presidente da Província cearense, Padre José Martiniano de Alencar (Senador Alencar) construiu a carroçável Estrada Fortaleza - Baturité e, depois relatórios deram conta de que em 1863, Arronches já era a feira do gado para consumo da Capital (daí a Avenida dos Expedicionários do Matadouro Modelo até Porangaba ter sido outrora chamada Estrada do gado).


Arronches foi o primeiro distrito a constar no traçado da Estrada de Ferro de Baturité, cujo primeiro trem em caráter experimental chegou, pasmem a coincidência, também aos 14 de setembro de 1873, depois de 115 da Ordem Régia de Portugal.
A circulação do primeiro trem data oficialmente de 30 de novembro de 1873. Esse foi o primeiro transporte de massas que o interior do Ceará ganhou. Ainda sobre o projeto de o trem passar por Porangaba, João Brígido, enamorado de Fortaleza, publicou no jornal Unitário 

 um artigo com o título: Traçado da Estrada. De onde extraí este pequeno trecho: 
“Muito em princípio a linha devia seguir um trajeto até Porangabuçu; daí noutra tangente até Arronches, mas o português Carneiro, muito influente na política do seu tempo, com terras por trás da lagoa de Arronches, obteve que se quebrasse a linha, para que esta inutilmente, chegando à extrema do seu sítio, fizesse a grande curva que apresenta cortando a Estrada empedrada para atingir a estação, com grande aumento de linha" (Edição de 20.02.1908). 

Chácara em Parangaba onde funcionou o Grupo Escolar de Porangaba.

O leitor agora pode compreender o porquê do trem que, partindo da Central ao sair da
Estação de Couto Fernandes, faz uma grande curva à esquerda para depois compensar após a passagem de nível do Bar Avião (marco inicial da Parangaba, cuja construção deveu-se a Antônio de Paula Lemos e foi inaugurado aos 23 de outubro de 1949). 


A referida Estrada empedrada a que se refere João Brígido, é a hoje Avenida João Pessoa.
A grande reforma ocorrida no pátio ferroviário de Porangaba foi concluída em 28 de janeiro de 1941, quando o interventor Menezes Pimentel e o diretor da Rede de Viação Cearense, Dr. Hugo Rocha, inauguraram o ramal ferroviário Porangaba - Mucuripe, desativando assim o ramal da Beira Mar


Inauguração do Ramal Ferroviário Parangaba – Mucuripe 1941.

O prédio da estação fora totalmente modificado, inclusive no layout original.
Com o advento da República, havia sido cogitada a mudança da nomenclatura Vila Arronches, porém o nome lusitano permaneceu até 1944, quando o Decreto-lei nº. 1114 de 01 de janeiro de 1943, voltou ao antigo nome do aldeamento fundado pelo desaparecido padre Pai Pina: Porangaba. Nome aliás que nunca deveria ter mudado, identificando sua lagoa. 


Estação da Parangaba
Os ingleses, por exemplo, proprietários da South American Railway Construction Company Limited, e que administraram a ferrovia cearense (1910-1915), tirou da estação o nome Arronches e colocou Porangaba. Coisas de europeus! 

Só em 01 de janeiro de 1945 a RVC mudaria o nome de Porangaba para Parangaba. Que descubram os entendidos o porquê da troca do “o” pelo “a”.
A ligação da capital para Arronches, afora o trem, era por uma estrada, com
cerca de 7.200 m de pedras toscas, de onde se fazia o percurso de carroças ou a pé. Em 1929, esta única artéria foi reconstruída e, coberta de concreto passando a se chamar avenida Washington Luiz, que era o então presidente do Brasil.


Antiga Estrada do Arronches que em 1930 foi transformada na Avenida João Pessoa.
Ocorrendo a revolução de 1930, as placas da nova avenida foram arrancadas por populares,
passando a partir de então a denominar-se avenida João Pessoa, como uma homenagem ao Governador da Paraíba e que, como integrante da chapa perdedora de Getúlio Vargas, foi assassinado e o crime considerado de conotação política.


Porongaba - Primeira estação de Fortaleza em 1911.

Até 1976, essa avenida era conhecida como “Avenida da Morte”, quando tinha duas mãos, inclusive até para o tráfego de ônibus elétricos, já extintos. No governo do Cel. Adauto Bezerra foi construída e inaugurada a atual Avenida José Bastos, e assim melhorou e muito o acesso, não só para parangaba, mas para bairros adjacentes.
As provas de que Parangaba sempre fora privilegiada pelo progresso, constata-se pelas instalações de grandes complexos, já desativados, tais como: Fábrica Santa Cecília, Usina Everest, Saronord


Hoje esse populoso bairro é um cartão postal de Fortaleza. É uma mini-cidade com supermercados, indústrias, rede bancária, cartório, praças, hospitais, dois terminais de ônibus no sistema integrado e etc.
Parangaba que, gentilmente cede passagem aos trens da Companhia Ferroviária do Nordeste - CFN é assistida por suburbanos do Metrofor a cada meia hora.
E a lagoa? Continua bela! É no seu entorno que se faz Cooper e observamos o desenho do lindo pôr-do-sol."


Assis Lima

Continua...
 
Leia também:

A Fortaleza em suas ruas, avenidas, travessas...


Colaborador: Assis Lima

Ex-Ferroviário, Assis Lima é radialista e jornalista.
Idealizou e mantêm o Blog Tempos do rádio




sábado, 10 de maio de 2014

Praça José de Alencar - Destino aos bairros da capital


Anos 60

Apesar do belo Teatro José de Alencar situado ali, o local não recebia uma conservação e limpeza ideal, talvez pelo intenso tráfego de veículos e pessoas vindas dos quatro cantos da cidade. Estrategicamente localizada, a Praça se transformou já na década de 1960, num dos pontos mais congestionados da cidade.


Durante muitos anos, a Praça José de Alencar, foi o principal ponto de partida de várias linhas de ônibus que tinham como destino os bairros da capital. Como a maioria das linhas tinham como trajeto o centro, várias delas foram sendo posicionadas na Praça, transformando-a num dos primeiros grandes terminais de ônibus de Fortaleza.

Com o difícil transito nos arredores, começava a transferência de paradas para outros locais do centro, como a Praça da Estação , por exemplo. Na segunda metade da década de 1960, já se falava em planos para a retirada dos ônibus da Praça José de Alencar

Em 1971, o então prefeito José Walter Cavalcante entregou a reforma da Praça Castro Carreira, conhecida como Praça da Estação, sendo adaptada para servir como terminal de transportes coletivos. Para lá, foram transferidas 14 linhas da Praça José de Alencar, juntando-se aos ônibus de linhas intermunicipais.


Na gestão do prefeito Evandro Ayres de Moura, em 1975, decidiu-se por uma reforma radical na Praça José de Alencar, com isto, deixaria de funcionar como terminal de ônibus. Os coletivos passariam a ser do tipo circular, com paradas rápidas de dois em dois quarteirões no perímetro central. Os terminais de ônibus sairiam da Praça José de Alencar para as avenidas Tristão Gonçalves e Imperador, entretanto, não foi isso que aconteceu a curto prazo.


Ainda em 1975, uma pesquisa realizada pelo Departamento Estadual de Trânsito, revelou que mais de 300 ônibus penetravam por hora na Praça José de Alencar, trazendo a necessidade de modificações de trafego no local, como a possibilidade de inverter mão em algumas ruas. A Praça José de Alencar tornou-se o maior terminal de passageiros urbanos da capital cearense, porém, em péssimas condições, pois os abrigos encontravam-se caindo aos pedaços, colocando em risco os passageiros que ali aguardavam seus ônibus. A sujeira também era outro agravante que fazia da Praça um feio cartão de visita para a cidade.

Um plano de transformação para desafogar o trânsito de veículos no centro começou com a reforma da Praça da Estação em 1978. Para lá, seriam transferidas todas as linhas do chamado Canal 2, aqueles coletivos que circulavam sobre a Bezerra de Menezes com destino ao centro, assim como as linhas do Canal 1, compreendendo os ônibus que demandavam da Barra do Ceará e da Avenida Francisco Sá. Totalmente reformada e adaptada para terminal de ônibus, a Praça da Estação foi entregue em 1979, organizando melhor o trânsito de coletivos na Praça José de Alencar.



Como ficou a distribuição das linhas

Com a entrega da Praça da Estação, foram transferidas da Praça José de Alencar as seguintes linhas: Bezerra de Menezes, Conrado Cabral, João Arruda, Jardim Iracema, Vila Santo Antonio, Nossa Senhora das Graças, Jacarecanga, Francisco Sá, Álvaro Weyne, Beira Rio, Cristo Redentor, Colônia, Monte Castelo, Santa Maria, Retorno, Bairro Ellery, Antônio Bezerra, Autran Nunes, Parque Araxá, Amadeu Furtado, Presidente Kennedy, Barra do Ceará (221), Jardim Guanabara, Conjunto Polar, Quintino Cunha, Padre Andrade, Barra do Ceará (222) e Conjunto Nova Assunção.

Agora seria a vez da tão esperada reforma da Praça José de Alencar. Com o início das obras, os ônibus foram transferidos provisoriamente para a Av. Tristão Gonçalves e Praça do Carmo. Com as modificações, somente os ônibus passariam a circular no perímetro da Praça através de um novo sistema de circulação do terminal. 

A praça após a reforma de 1979

Os novos abrigos de estrutura metálica instalados para abrigar cerca de 50 linhas de ônibus ficaram posicionados apenas nos lados das ruas 24 de maio e Guilherme Rocha.

A reforma do terminal da Praça José de Alencar foi concluída em dezembro de 1979, agora recebendo um total de 54 linhas: 

  •  Aguanambi 01 e 02
  •  Av. 13 de Maio
  • Castelão - via Parangaba
  • Santa Tereza
  • Parque Dois Irmãos – Expedicionários;
  • Montese
  • Vila Sarita;
  • Av. Expedicionários – Perimetral;
  • Prefeito José Walter – Expedicionários;
  • Prefeito José Walter – Castelão;
  • Prefeito José Walter – DNER;
  • Prefeito José Walter – J;
  • Prefeito José Walter – L;
  • Mondubim – Siqueira;
  • Mondubim – Maraponga;
  • Messejana – Itaperi;
  • Jardim Cearense;
  • Itaoca – Expedicionários;
  • Itaoca;
  • Couto Fernandes;
  • Av. Gen. Osório de Paiva;
  • Vila Manuel Sátiro;
  • Parque São José;
  • Parque Santa rosa;
  • Av. Expedicionários – Perimetral;
  • Bela Vista;
  • São Raimundo;
  • Rodolfo Teófilo - José Bastos;
  • Rodolfo Teófilo - B. Menezes;
  • Parangaba;
  • Av. José Bastos;
  • São Francisco;
  • Bairro João XXIII;
  • Lineu Machado;
  • Henrique Jorge;
  • Cel. Francisco Nunes;
  • Demócrito Rocha;
  • Pan Americano;
  • Jardim América - via Prado;
  • Prado - via Jardim América;
  • Vila União;
  • Aeroporto - via Benfica;
  • Jovita Feitosa;
  • Parque São Vicente;
  • Canindezinho – Jatobá;
  • Clube de Regatas - V. Betânia;
  • Bom Jardim;
  • Parque Santa Cecília;
  • Parque Santo Amaro;
  • Granja Portugal;
  • Bom Sucesso;
  • Conj. Ceará - 1ª  Etapa;
  • Conj. Ceará - 2ª  Etapa;
  • Conj. Ceará - 3ª Etapa.

A Praça em 1981

Com as modificações, a sensação foi que a Praça José de Alencar ficou ilhada, não para os ônibus que tinham ali como ponto de retorno, mas para os automóveis particulares, pois perdiam mais uma via de acesso para acessar a região central da cidade. Assim permaneceu até 1987, quando foi decidido pela extinção daquele terminal.

A desmontagem iniciou em novembro daquele ano, as 52 linhas de ônibus que paravam ali, seriam agora distribuídas por pontos estratégicos ao longo do centro. O intuito do projeto era o reaproveitamento da Praça José de Alencar para ser um espaço tipicamente cultural e de lazer para a cidade. Com os trabalhos de recuperação, foram abertos trechos das ruas General Sampaio, São Paulo e 24 de Maio, proporcionando condições adequadas para o trânsito dos veículos na área.


Último ano de funcionamento do terminal de ônibus na Praça José de Alencar

Relação das linhas após a extinção do terminal 

Com a extinção do terminal, os trabalhos se dirigiram para a recuperação de uma das praças mais antigas de Fortaleza, sob administração da prefeita Maria Luíza Fontenele. Foram plantadas mudas de árvores no lugar dos pontos onde anteriormente se mantinham as paradas de ônibus, além de obras de limpeza e desobstrução da canalização de esgotos nas ruas adjacentes, diminuindo a proliferação de lama e dejetos na área que, durante alguns anos, acumulavam-se naquele trecho.

Um reordenamento definitivo entrou em vigor apenas em 1988, quando o Detran e a Prefeitura demoraram a encontrar um acordo comum para a elaboração de uma proposta técnica para circulação e parada de ônibus urbanos na área central. As mudanças não resolveram os problemas de mobilidade no centro de Fortaleza, mas improvisou as ruas comerciais do centro com paradas distribuídas nas próprias calçadas.


Sistema de paradas do centro criado em 1988 (Arte: Fortalbus)

Com a criação do Sistema Integrado em 1992, a concentração das linhas no Centro que era em torno de 95%, passaram a ser distribuídas por outras regiões da cidade, diminuindo o número de linhas que seguiam para a região central.
Como bem conhecemos hoje, essas linhas, chamadas alimentadoras, deixam o passageiro no terminal integrado que de lá seguem ao centro sem a necessidade de pagar uma outra tarifa, sistema que se aplica para todas as regiões da cidade. Atualmente, essa integração se expande para fora dos limites físicos dos terminais, através do bilhete único que permite múltiplos embarques no período de 2 horas.

Av. da Universidade, um dos principais corredores de acesso ao centro - Década de 1990

Sete terminais integrados foram criados por vários bairros de Fortaleza, equipamentos com estrutura planejada e bem diferente daquele primeiro grande terminal da cidade localizado nos arredores da Praça José de Alencar, um ponto que serviu durante décadas como o principal local de embarque e desembarque dos fortalezenses que tinham como destino a principal região comercial da capital cearense.



Crédito: Fortalbus


NOTÍCIAS DA FORTALEZA ANTIGA: